Metamorfoses Históricas: História, livros, músicas, cinema e motos!

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domingo, 15 de janeiro de 2012

O papel feminino ontem e hoje: mudanças nas últimas décadas


A concepção do papel feminino sofreu alterações nas últimas décadas do século XX, devido as revoluções ocorridas após a década de 1960, principalmente. Mudanças significativas em alguns aspectos, embora outros ainda percebe-se como o machismo na sociedade ainda mantenha-se. O conteúdo a seguir nos mostra como a pesquisa histórica desvenda estas verdades que se modificam com as mudanças sociais, econômicas e políticas.





Só fica encalhada quem quer

Manual intitulado Agarre seu homem aconselha as mulheres a se empenharem nos cuidados da casa

Regina Helena Santiago - 17/6/2010

Quem vê a profusão de revistas femininas nas bancas de jornal pode pensar que a publicação de dicas e conselhos sobre beleza e relacionamento é um fenômeno recente. Mas, consultando o acervo de Obras Gerais da Biblioteca Nacional, é possível encontrar um livro de 1945 que é um autêntico precursor do gênero. Trata-se de Agarre seu homem, de Veronica Dengel, conhecida dona de salão de beleza nos Estados Unidos.

A partir da experiência e da conversa com inúmeras mulheres, a autora dá conselhos às leitoras de como conservar um marido. Mas logo de início adverte que “altos níveis de poder físico, mental e emocional só podem ser alcançados através do esforço diário no sentido do auto-aperfeiçoamento”. 
 
Na crista da onda de seu tempo, a publicação conta com ilustrações de Constantin Alajálov (1900-1987), desenhista e ilustrador russo-americano, famoso pelas capas que fez para revistas como The New Yorker e The Saturday Evening. A tradução é de Suzana Flag, conhecido heterônimo de Nelson Rodrigues (1912-1980). O mesmo com que o autor assinou outros quatro romances publicados na mesma época, como Meu destino é pecar. Será que ele aproveitou para se inteirar dos secretos hábitos femininos e compor seus polêmicos personagens?

Os dotes físicos são pontos importantes da exposição de Veronica Dengel.  Segundo ela, a leitora precisa, em primeiro lugar, fazer uma autoanálise, respondendo minuciosa e francamente a mais de 30 perguntas referentes a pele, cabelos, silhueta, pernas e até “eliminações diárias”. Mas para que essa tarefa tenha proveito, não adianta se enganar – é preciso enfrentar um “espelho imparcial”. Assim, ela poderá identificar as medidas a tomar para atrair o parceiro de sua vida. As questões que porventura tenham que ser resolvidas não devem ser motivo de desespero: o livro traz inúmeras receitas para suavizar a pele e os cabelos e para emagrecer. O objetivo final é sempre o mesmo: conservar “certa qualidade de doce ilusão”.

Depois que o parceiro já foi conquistado, a missão é mantê-lo apaixonado. Veronica Dengel vai, então, “pôr em evidência as atitudes e ações que colocam o seu casamento em perigo.” A primeira é o descuido com a beleza. Afinal, se a mulher se apresenta bela no início do relacionamento, está indicando que assim permanecerá. O desleixo significa propaganda enganosa durante o namoro. 

No entanto, não são apenas as aparências que contam; a mulher deve trazer ainda um encanto mental que precisa ser adquirido por meio do constante desenvolvimento intelectual. Isso inclui o interesse pelos assuntos do marido e exercícios do cérebro com pensamentos estimulantes. Para Dengel, é preciso buscar livros, críticas de peças e filmes, informações sobre exposições de arte e controvérsias políticas. “Essa base de informações tornará possível a sua participação em qualquer discussão, e seu marido não agonizará de medo quando você estiver conversando com um importante homem de negócios no qual ele gostaria de provocar uma boa impressão.”

Do ponto de vista emocional, a principal meta da mulher deve ser criar uma atmosfera de “contentamento” no ambiente e nas relações familiares. Para isso, tem que planejar e executar deliciosas refeições, além de manter uma boa organização do lar, sem denotar ou reclamar do esforço empregado nessas atividades. Os conflitos e discussões devem ser reduzidos ao mínimo e, se possível, eliminados por completo, devendo a esposa estar sempre atenta aos “três diabinhos”: egoísmo, ciúme e mentira.

Nos domínios da cozinha, Veronica Dengel avisa: “Ele não se incomodará com o conteúdo do menu, contanto que seja farto e gostoso. Ele não dará atenção às horas de trabalho que aqueles pratos exigiram para sua preparação, nem compreenderá o motivo de você não poder estar calma e descansada à mesa do jantar.” “O apetite da maioria dos homens é facilmente satisfeito com uma carne bem assada, verdura fresca e deliciosa sobremesa.” Mas é preciso fazer uma ressalva: “A cintura de seu marido deve ser controlada, tanto quanto a sua.” 

E assim como suas sucessoras modernas nas bancas, a publicação vinha ainda com um capítulo lacrado, com selo, e com a recomendação de que a leitora o removesse a fim de que o marido não soubesse do que ele tratava: tópicos de “natureza privada”, como menopausa, “assuntos que têm relação com o banheiro” e maus hábitos, como o tabagismo. Tudo tratado de maneira “aberta e franca”. Que bom que os cuidados com o acervo de Obras Gerais da BN garantiram a integridade dessa pérola.







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