Metamorfoses Históricas: História, livros, músicas, cinema e motos!

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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Charges da semana: o que foi notícia retratada de forma bem humorada, mas sem perder a crítica! (19 a 24 de maio de 2013)
  
Ditadores presos na Argentina, livres no Brasil

Boatos, como a Transposição do Rio São Francisco
 Um país de bolsas e otários

 Médicos cubanos

 Boatos...
 Corruptos e Famílias miseráveis do Bolsa Família

Copa do Mundo contra o Brasil

 Coma insetos e engula Sapo
ONU sugere comer insetos pra matar a fome


Médicos importados de Cuba
 Futebol - O Ópio do Povo

sábado, 11 de maio de 2013

Charges da semana: o que foi notícia retratada de forma bem humorada, mas sem perder a crítica! (04 a 11 de maio de 2013)

por Guilherme Bandeira para o Humor Político

Coronel torturador

Carga de Leite

Leite Adulterado e Leite Bom

Leite cada vez menos puro

Canteiro de Obras e Adicionais

Contribuição mínima de esmola

Google reconhece Estado Palestino em sua página inicial

Joaquim Barbosa, o Herói brasileiro

Leão e a Inflação pegando o contribuinte
Guerra no Oriente Médio e Paz no Brasil

Filofia em tempos de inflação


E o salário do professor ó...

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Um evento realizado de forma secreta e sigilosa e que somente quase 6 meses depois foi tornado público: a exumação do corpo de Dom Pedro I e suas duas esposas, sepultados em São Paulo.
Um trabalho inovador no que se refere aos estudos históricos no Brasil e que revelou algumas novas faces do Primeiro Reinado. Um trabalho que pode servir de exemplo e inspiração para outros pesquisadores em nosso país, tão carente ainda de incentivo no financiamento aos trabalhos de historiadores, que muitos vezes precisam se dividir entre a docência e a pesquisa. 
Vale a pena conhecer um pouco mais desse parte de nossa história, revelada de uma forma inédita!

Caveiras ilustres

Corpos da família imperial brasileira são exumados para preservar patrimônio histórico.


Por: Henrique Kugler                                                                              Publicado em 02/05/2013

 
Caveiras ilustres
Entre fevereiro e setembro de 2012, os restos mortais de Dom Pedro I e suas duas esposas foram submetidos a diversos exames. Na foto, o corpo exumado de Amélia de Leuchtenberg passa por uma tomografia. (foto: Valter Muniz) 
 
E não é que perturbaram o sono eterno do primeiro imperador do Brasil? Os restos mortais de Dom Pedro I (1798-1834) foram exumados. E, com eles, também saíram da cripta os corpos de suas duas esposas: as imperatrizes Leopoldina de Habsburgo (1797-1826) e Amélia de Leuchtenberg (1812-1873).


Foi um delicado processo; lembrou até uma operação militar. Um sigiloso esquema de segurança foi arquitetado para o transporte dos esquifes desde o local onde estavam – o Monumento à Independência, na capital paulista – até o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Lá foram submetidos, entre fevereiro e setembro de 2012, a exames de tomografia, radiologia e ressonância magnética.


“O principal objetivo da exumação foi garantir a preservação dos remanescentes humanos e dos artefatos que se encontravam nas urnas funerárias”, diz a arqueóloga Valdirene Ambiel – o trabalho é parte de seu mestrado, concluído em fevereiro no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. “Um dado que sempre me preocupou foi a umidade presente na capela imperial, no interior do monumento onde jazem os corpos”, diz a pesquisadora.
 
Quando chove, acumula água. As paredes são preenchidas com terra. Há infiltrações. Não que isso incomode o descanso fúnebre, mas, considerando a preservação desse patrimônio histórico, Ambiel constatou que há muito a se melhorar na infraestrutura do sepulcro da realeza.

Trabalharam nessa empreitada mais de uma dúzia de cientistas das mais variadas áreas – da história à biologia, da arqueologia à física. “Mobilização talvez inédita na pesquisa histórica e arqueológica no Brasil”, comenta o historiador Maurício Ferreira Jr., diretor do Museu Imperial, em Petrópolis (RJ).

 

Dom Pedro I: esclarecimentos e causos


Por desastrado que pareça, o paradeiro funerário de Dom Pedro I era um tópico não muito bem resolvido. Alguns diziam que ele fora cremado. Outros, que seus restos estariam em qualquer outro lugar que não no Monumento à Independência. A exumação liderada por Ambiel pôs fim à contenda. Dom Pedro I de fato está lá, em carne e osso (no caso, só em osso). Detalhe: seu coração – como já se sabia – está preservado em um mausoléu na Igreja da Lapa, na cidade do Porto, em Portugal.


Duas foram as confirmações obtidas com a exumação do monarca. Primeiro: sua estatura era de algo entre 1,66m e 1,73m. “Diziam que ele era baixinho”, brinca Ambiel. “Mas essa é uma altura bem razoável para a época.” Segundo: ele teve quatro costelas quebradas, o que provavelmente prejudicou o pulmão e agravou seu quadro de tuberculose – doença que o levou à morte aos 36 anos. Conta-se que ele caiu do cavalo, em 1823. E, em 1829, capotou uma carruagem que ele mesmo guiava – faltou-lhe maestria na direção.
Tomografia de Dom Pedro I
Tomografia de Dom Pedro I. Em seu caixão foram encontradas medalhas, comendas, botões e abotoaduras, além de fragmentos de tecido e o salto de sua bota. Parte dessas peças deve ser doada ao Museu Imperial de Petrópolis. (foto: Faculdade de Medicina da USP)
Dom Pedro I foi enterrado com vestes de general. Em seu caixão foram encontradas medalhas, comendas, botões e abotoaduras, além de fragmentos de tecido e o salto de sua bota. “O material foi higienizado e acondicionado; está agora no Departamento de Patrimônio Histórico da Prefeitura de São Paulo.” A arqueóloga pretende doar algumas das peças ao Museu Imperial de Petrópolis – mas para isso aguarda permissão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).



Leopoldina: abandono e ciência


Essa austríaca mal compreendida foi a primeira esposa de Dom Pedro I. Portanto, a primeira imperatriz do Brasil. Casaram-se por correspondência – como era comum aos aristocratas da época – e conheceram-se meses depois. De acordo com a historiadora Mary Del Priore, foi uma relação conturbada, “uma história de maus-tratos e solidão”, escreve em seu último livro, A carne e o sangue (editora Rocco, 2012).


Entre as fofocas imperiais, conta-se que Dom Pedro I teria empurrado Leopoldina da escada com um pontapé – quando ela estava grávida. Na queda, segundo alguns, a imperatriz teria fraturado o fêmur. E também perdido o bebê. “Mas, ao contrário do que registram certos livros de história, a exumação não aponta nenhuma fratura no fêmur”, garante Ambiel. “É bom deixar claro que esse episódio é uma lenda.” Boletins médicos de 1826 sugerem que o feto tenha morrido em função de um aborto; e não de um trauma.
Restos mortais de Dona Leopoldina
Restos mortais de Dona Leopoldina, primeira imperatriz do Brasil. De acordo com a exumação, ela tinha entre 1,54m e 1,60m de altura. (foto: Luiz Roberto Fontes)
Leopoldina foi casada durante nove anos, passou por nove gestações e pariu sete filhos (entre eles o herdeiro do trono, Dom Pedro II). Sua vida e sua morte até hoje dividem opiniões. Uma contribuição insuspeita, no entanto, é frequentemente esquecida: a imperatriz foi uma das responsáveis pela vinda, ao Brasil, da missão austríaca – sob os auspícios da qual aportaram em nossas terras importantes zoólogos, botânicos e artistas, que viajaram pelo país e publicaram dois importantes clássicos: os livros Viagens pelo Brasil e Flora brasiliensis. “Leopoldina gostava de se afirmar como uma ‘cientista amadora’”, lembra Ambiel. “Ela era uma figura popular e querida no Brasil do século 19.” Novo dado: segundo a exumação, ela tinha entre 1,54m e 1,60m de altura.

Amélia: nobreza mumificada

Eis que a historiografia brasileira se vê diante de uma surpresa: o corpo de Amélia, segunda esposa de Dom Pedro I, foi mumificado. “Essa informação era desconhecida”, diz a arqueóloga. “Não imaginávamos que era uma múmia.” Não se sabe, entretanto, por que ela fora mumificada. “Pode ter sido um ‘acidente de percurso’”, cogita Ambiel, referindo-se ao fato de que, para seu funeral, o corpo foi preparado com uma solução de cânfora que pode ter sido útil para frear o processo de decomposição.

A imperatriz morreu em Lisboa em 1876, e seu caixão foi trazido à cripta imperial em 1982. “Foi colocado no interior das paredes do monumento; tivemos de procurar, pois ninguém sabia sua localização exata.” (Detalhe: no Monumento à Independência, seu nome está incorreto. Na lápide lê-se “Maria Amélia”, mas seu primeiro nome era apenas “Amélia”). Após os estudos – a bem conservada senhora tinha estatura entre 1,60m e 1,66m – ela foi ‘remumificada’.
Múmia de Dona Amélia
Múmia de Dona Amélia, segunda imperatriz do Brasil, prestes a passar por tomografia. Os historiadores não sabiam até a exumação que ela tinha sido mumificada. Após os estudos, Amélia – com estatura entre 1,60m e 1,66m – foi 'remumificada'. (foto: Beatriz Monteiro)
Na história do Brasil, Amélia nunca foi figura central – ela esteve no país entre 1829 e 1831. Curto período. Mas foi o bastante para que instituísse na corte a língua francesa. Sobre sua relação com o imperador, Del Priore conta que era algo “sem graça”. Dom Pedro I poderia ter muitos méritos; mas não era um galanteador de primeira linha. “Ele não tinha assunto e falava francês muito mal”, reclama a donzela em seu diário, após um encontro. Nas mesmas páginas, Amélia conta que teve de “se beliscar para não dormir”. Há quem diga, entretanto, que os dois se amavam como pombinhos. Discussão para historiadores.

De qualquer maneira, conta-se que os últimos anos de Amélia foram profundamente marcados pela morte do marido e da filha – ambos por tuberculose. Enlutada em tamanha perda, dedicou-se a obras de caridade. E assim mandou construir, na Ilha da Madeira, em Portugal, um hospital para o tratamento de tuberculosos. O local permanece ativo até os dias de hoje.


“A exumação dos corpos foi apenas uma primeira etapa”, diz Ambiel. Com as amostras de DNA coletadas, novos dados poderão vir à tona. O trabalho abre espaço para a arqueopatologia – ciência que estuda remanescentes de doenças pretéritas –, um campo ainda pouco explorado no país. Ainda este ano, o Museu Imperial deve publicar o trabalho de Ambiel em forma de livro.

Também para fins de divulgação, a equipe estuda a possibilidade de lançar um documentário. Quanto à família imperial brasileira, querelas e intrigas históricas estão longe de um fim. “Cada historiador é livre para pensar e publicar o que quer”, diz Ambiel. “Mas, como historiadora, não posso acreditar em verdades.”

Henrique Kugler - Ciência Hoje/ RJ

Fonte:  http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2013/302/caveiras-ilustres

quarta-feira, 1 de maio de 2013

A discussão do conceito de espaço rural e urbano é sempre um tema controverso e que envolve diferentes perspectivas. Além disso, os interesses econômicos se sobrepõem as realidades existentes no território brasileiro.
Como são as prefeituras que definem os limites em seus municípios do que é urbano e rural, temos um contexto no qual não existe um parâmetro, além da proliferação maciça de emancipações na década de 1990, que levou o Brasil a ser o país hoje com maior número de municípios no mundo.
O texto que segue aborda esta questão de forma crítica e apontando temas para reflexão. 


O que é rural e o que é urbano no Brasil?


Pesquisadores acreditam que população rural brasileira seja pelo menos o dobro da estimada pelo IBGE; raiz do problema está em decreto do governo Vargas , que define o que é urbano no país
29/04/2013
Por Nádia Tubino

É uma figura pouco usual para definir uma questão de ordem no Brasil: o que é rural e o que é urbano? Um grupo coordenado pela professora Tânia Bacelar (UFPE) e mais 15 pesquisadores pretende destravar esse nó, num projeto financiado pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário.

O IBGE aponta a população rural brasileira com 15,64%, quase 30 milhões de habitantes, segundo o censo de 2010. Os pesquisadores como Tânia Bacelar acham que pode ser o dobro.

Na raiz do problema um decreto de 1938, governo Getúlio Vargas, que define como urbano o perímetro definido pelos prefeitos locais. No Brasil cerca de 4 mil cidades têm até 20 mil habitantes. Somos 84,36% de brasileiros urbanos, ou há algo errado nessa história?

O país conta com 5.505 municípios com seus distritos e vilas. O Brasil é o país com o maior número de cidades do mundo. Lembro quando costumava viajar pela Belém-Brasília, em direção ao Tocantins, e passava pelos limites urbanos de municípios localizados nos confins da pátria.

A imagem era repetida: uma igreja pequena, uma delegacia e o prédio da prefeitura. Fácil de entender no estado, que na época, a família no poder comandava a administração pública como se fosse uma capitania hereditária. Cada município tem direito ao fundo de participação e de muitas verbas federais. Então, quanto mais, maior a verba.

Empregos desapareceram

Nas décadas de 1960, 1970 e 1980 o Brasil teve um enorme fluxo de migrantes, na maior parte em direção ao sudeste. Foram 27 milhões de pessoas que migraram do rural para o urbano.

Os motivos são variados, desde a modernização e industrialização do país, a situação econômica, com falta de empregos na zona rural, o avanço da agricultura mecanizada e da monocultura e os atrativos culturais das metrópoles. Na década de 1990, mais para o final, o fluxo interrompeu e começou a decair.

Ou seja, começou a crescer a população de centenas de municípios considerados rurais, e também começou a inverter o fluxo de migrantes, deixando as metrópoles do sudeste e voltando ao estado de origem.

É preciso entender que entre 1985 e 2006 cerca de 7 milhões de empregos desapareceram na zona rural. A queda, arredondada, foi de 23 milhões para 16 milhões de empregos. Também no mesmo período as propriedades com até 10 hectares, que são maioria no Brasil, perderam cerca de 2 milhões de hectares.

E os donos foram expulsos para o urbano. Mesmo assim elas envolvem um número acima de 4 milhões de unidades e, além de garantir 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros, ainda ocupam milhões de pessoas.

Acabar com o modelo

Portanto, a discussão sobre rural ou urbano não é uma questão teórica. Porque por trás disso tem o agronegócio e a agricultura industrial movida pela química, e do outro lado, a agroecologia e a agricultura familiar, que muito mais do que um modo de produção é um modo de vida, de convívio social e um modelo cultural, que ajuda a manter o pouco que resta de ambiente natural em algumas áreas do Brasil, principalmente na região sul.

A Universidade de Essex, na Inglaterra, diz que existem cerca de 1,4 milhão de agricultores que seguem os princípios da agroecologia no mundo, os pesquisadores dessa instituição acompanham mais de 200 projetos, corresponde a 30 milhões de hectares.

Eles não têm dúvida de dizer que o problema do êxodo rural está no avanço do agronegócio, que desestimula a produção da agricultura familiar e implica na perda da cultura camponesa e dos povos das comunidades tradicionais. No mundo cerca de 1,8 bilhão de pessoas habitam florestas e matas, regiões áridas, encostas íngremes ou terras inadequadas para produção de alimentos.

O ponto central é esse: a quem interessa acabar com a agricultura familiar e camponesa? Se depender das estatísticas, como diz o economista Ignacy Sachs, o Brasil em poucas décadas se tornaria totalmente urbano. Uma discussão que também foi levantada desde a década passada pelo pesquisador José Eli da Veiga.

O plano de realizar esse delírio deve ser dos capitalistas de Wall Street e os clones brasileiros com base na experiência estadunidense – aponta a população rural agrícola em apenas 1%. O problema é que o índice da população não-agrícola, ou seja, mora na zona rural, mas vive da economia urbana, se mantém em 20%.

Uma das discussões que os pesquisadores do projeto bancado pelo MDA deverão definir. Afinal os setores de serviço e industrial das cidades do interior fazem parte do rural. Segundo Tânia Bacelar, a ideia é definir as cidades em faixas demográficas, geográficas e diferenciar nos seis biomas brasileiros definidos – Amazônia, Pantanal, Pampa, Caatinga, Mata Atlântica, Cerrado.

No campo os homens e os velhos

Porém, existem outras perspectivas desse mesmo problema. A população brasileira está 
envelhecendo rapidamente. Em 2025, o Brasil será o sexto país com maior número de idosos na faixa dos 60 anos – serão cerca de 32 milhões. Uma parte deles vive no campo.

A migração, que começou a cair no final da década de 1990, tornou-se seletiva. As mulheres mais jovens são maioria, na verdade, desde a década de 1980 os demógrafos já registraram este aumento. No caso do Rio Grande do Sul migraram 22% mais de mulheres do que de homens. Porto Alegre é a capital que, desde a década de 1950, conta com maior número de mulheres em relação aos homens. 

Dois pesquisadores, José Carlos Froehlich e Cassiane da Costa Rauber, do curso de pós-graduação em extensão rural da Universidade de Santa Maria fizeram um trabalho sobre o êxodo seletivo na região central do estado, envolve 28 municípios.

Na faixa dos 25 aos 59 anos, 25 municípios apresentaram predomínio de populações masculinas, evidenciando um processo de masculinização acentuado:
“O êxodo seletivo intenso ocorre há mais de uma década e se desenha como tendência futura. A masculinização que se desenvolve silenciosamente pode comprometer o tecido social dos territórios rurais, tão importante para a região. Com a emigração jovem agrava-se o processo de envelhecimento populacional. O celibato entre os rapazes rurais já se desenha na região”, registraram os pesquisadores.

Em Santa Catarina este tema já rendeu um documentário “Celibato no Campo”, de Ilka Goldschmidt e Cassemiro Vitorino. O estado tem para cada grupo de 100 mulheres, 122 homens. Na Europa, conforme um relatório do Parlamento Europeu do início dos anos 2000, o número de agricultores com menos de 35 anos se reduzirá a zero em 2020.
O sul da Europa, principalmente Portugal e Espanha, registram os índices mais altos de envelhecimento da população rural. O Japão já tem mais de 30% da população na faixa dos 60 anos.

Quem vai produzir a comida? 

É uma encrenca a mais na época da modernização digital, da globalização, dos mercados onipotentes e da mídia desinformada e totalmente urbana. Além disso, os organismos internacionais, como a FAO, costumam bater na tecla do aumento da produção de alimentos até 2050, deveria crescer de 2,3 bilhões de toneladas para mais de três bilhões, um aumento de 50%. Mas não aborda a questão de quem vai produzir esta comida. Será o agronegócio químico e transgênico, com seus equipamentos cada vez mais sofisticados?

Ou vai sobrar espaço para as comunidades familiares, os grupos tradicionais, as cooperativas de assentados – no RS são 327 assentamentos, em 91 municípios e mais de 13 mil famílias-, ou os faxinais do Paraná, um sistema antigo implantado pelos ucranianos no final dos anos 1800 e que ainda tenta sobreviver.

Faxinal é um sistema que mistura a plantação de erva-mate com as araucárias e que se traduz numa produção menor, mas mais diversificada. Em 1997, uma lei estadual definiu o perfil dos faxinais – atualmente são 44, mas em 1994 eram 121, sendo que 19 estão na região de Prudentópolis, numa extensão de 13.870 hectares.

Na década de 1970 o Paraná foi o estado que mais contribuiu para a migração no Brasil, saíram 2,5 milhões de pessoas da zona rural, muitas delas em direção ao Centro-oeste, e agora, indo para a Amazônia. Como diz uma moradora de outra área no sul do Brasil, na região do rio Ibirapuitã, município de Alegrete:
“Às vezes as pessoas dizem: que buraco. Mas eu adoro esse buraco.”

O depoimento consta de outro trabalho da Universidade de Santa Maria (extensão rural) sobre o esvaziamento do pampa gaúcho. A moradora mora a 70 km da sede do município, ou seja, a cidade.

Os filhos precisam sair de casa para cursar o ensino médio que não tem na região e não há transporte público. A passagem custa R$15. Os jovens querem estudar, querem evoluir, como em qualquer outro lugar do mundo. As atividades na região se concentram na pecuária de corte ou soja. Não é nem o emprego urbano que atrai, porque estas cidades continuam registrando êxodo.

Trabalho em comunidade

É uma situação diferente da agricultura familiar colonial, de tradição europeia. Segundo dados do IBGE de 2006, o RS conta com 378 mil estabelecimentos agrícolas familiares que ocupavam 992 mil pessoas – segundo o censo de 2010, 1,6 milhão de pessoas residem em 515 mil domicílios rurais permanentes.

Eles passaram a industrializar os seus produtos, como o caso da agroindústria das famílias Lazzareti e Picolotto, da comunidade linha Savaris, 7 km do município de Constantina, norte do RS.

Eles desistiram de plantar milho e depender das cotações de commodities. Resolveram ampliar uma área de cana-de-açúcar com variedades específicas. Passaram a produzir açúcar mascavo, melado, schmier (geleia), além de cachaça e licores em 14 hectares. São sete famílias que dividem tudo e ainda trouxeram os filhos de volta, que trabalhavam na cidade como assalariados.

Ainda são responsáveis pelo controle, recolhimento e entrega de 320 cestas básicas destinadas as famílias carentes do município, através do Programa Fome Zero. O selo “Vita Colônia”, da COOPERAC, a agroindústria da comunidade, é um dos modelos que viabiliza economicamente a agricultura familiar e camponesa e mantém viva a chama de um modelo de vida que teima em não desaparecer. E que pretende entrar nas estatísticas como integrante do desenvolvimento social e econômico desse país.

(Foto: Reprodução)

Fonte:  http://www.brasildefato.com.br/node/12787