Metamorfoses Históricas: História, livros, músicas, cinema e motos!

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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Hadadd: novo Plano de Educação não tem meta "impossível de ser cumprida"

O grande desafio é a aprovação do PNE no Congresso nestes próximos dois anos. É necessário o estudo e a compreensão do conceito de educação proposto no documento, bem como criar mecanismos de cooperação entre os entes federados e a sociedade civil para as estratégias serem efetivadas. A valorização dos profissionais da educação é um avanço siginificativo do documento, embora outras medidas precisem acompanhar este processo. A educação por si só não se transformará, se não vier acompanhada de outras medidas no contexto social, como por exemplo, a redistribuição da renda e a redução dos nivéis efetivos de miserabilidade e marginalização.
15/12/2010 - 14:24


Hadadd: novo Plano de Educação não tem meta "impossível de ser cumprida"

Amanda Cieglinski - Repórter da Agência Brasil

Brasília – O ministro da Educação, Fernando Haddad, defendeu hoje (15) que o novo Plano Nacional de Educação (PNE) não têm nenhuma meta “impossível de ser cumprida”. O documento entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva estabelece 20 metas a serem alcançadas pelo país até 2020 e será discutido pelo Congresso Nacional na próxima legislatura.

Segundo Haddad, esse plano é “mais realista” e factível de ser cumprido desde que se aumentem os investimento públicos em educação dos atuais 5% para 7% do Produto Interno Bruto (PIB), meta incluída no documento. “Construímos um plano em que os 7% do PIB cobre todas as despesas. Fizemos as contas meta por meta e o custo desse PNE é exatamente de 2% do PIB”, afirmou.

Segundo Haddad, o cumprimento da meta 17, que determina a equiparação da remuneração dos professores com os profissionais de outras categorias com escolaridade equivalente, custará 0,8% do PIB. "Se nós não fizermos da próxima década, a década da valorização do professor, será muito difícil cumprir as metas de qualidade", apontou.

O plano apresentado repete algumas das metas do PNE aprovado em 2001 e que não foram cumpridas. Entre elas, a erradicação do analfabetismo, a inclusão de 30% dos jovens de 18 a 24 anos no ensino superior e a garantia do atendimento em creche para 50% das crianças de até 3 anos. Na avaliação de Haddad, algumas metas colocadas pelo plano anterior “não eram razoáveis”.

“Para quem tinha 9% de atendimento em creche [em 2001] chegar a 50% [até 2010] era uma meta não realista. Agora, que estamos em um patamar de 20% [percentual aproximado de crianças de até 3 anos matriculadas em creches] e a presidente eleita se comprometeu formalmente com a educação infantil, penso que chegar a 50% [até 2020] é factível. Antes era muito difícil quintuplicar a matrícula em uma década, não era razoável”, avaliou.

Para o ministro, o principal diferencial desse plano é que cada meta está acompanhada das estratégias que devem ser aplicadas por gestores em todos os níveis – municipal, estadual e federal - para que os objetivos sejam cumpridos. “São poucas metas, mas estruturantes. É preciso divulgá-las em locais públicos para que cada cidadão possa acompanhar a sua execução. As metas precisam ser quase decoradas pela sociedade”, afirmou.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Comparato e a OEA: STF e PGR estão condenados moralmente

E AGORA, BRASIL? (publicado no site: http://www.conversaafiada.com.br/)

 

Fábio Konder Comparato

 

A Corte Interamericana de Direitos Humanos acaba de decidir que o Brasil descumpriu duas vezes a Convenção Americana de Direitos Humanos. Em primeiro lugar, por não haver processado e julgado os autores dos crimes de homicídio e ocultação de cadáver de mais 60 pessoas, na chamada Guerrilha do Araguaia. Em segundo lugar, pelo fato de o nosso Supremo Tribunal Federal haver interpretado a lei de anistia de 1979 como tendo apagado os crimes de homicídio, tortura e estupro de oponentes políticos, a maior parte deles quando já presos pelas autoridades policiais e militares.

 

O Estado brasileiro foi, em conseqüência, condenado a indenizar os familiares dos mortos e desaparecidos.

 

Além dessa condenação jurídica explícita, porém, o acórdão da Corte Interamericana de Direitos Humanos contém uma condenação moral implícita.

 

Com efeito, responsáveis morais por essa condenação judicial, ignominiosa para o país, foram os grupos oligárquicos que dominam a vida nacional, notadamente os empresários que apoiaram o golpe de Estado de 1964 e financiaram a articulação do sistema repressivo durante duas décadas. Foram também eles que, controlando os grandes veículos de imprensa, rádio e televisão do país, manifestaram-se a favor da anistia aos assassinos, torturadores e estupradores do regime militar. O próprio autor destas linhas, quando ousou criticar um editorial da Folha de S.Paulo, por haver afirmado que a nossa ditadura fora uma “ditabranda”, foi impunemente qualificado de “cínico e mentiroso” pelo diretor de redação do jornal.

 

Mas a condenação moral do veredicto pronunciado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos atingiu também, e lamentavelmente, o atual governo federal, a começar pelo seu chefe, o presidente da República.

 

Explico-me. A Lei Complementar nº 73, de 1993, que regulamenta a Advocacia-Geral da União, determina, em seu art. 3º, § 1º, que o Advogado-Geral da União é “submetido à direta, pessoal e imediata supervisão” do presidente da República. Pois bem, o presidente Lula deu instruções diretas, pessoais e imediatas ao então Advogado-Geral da União, hoje Ministro do Supremo Tribunal Federal, para se pronunciar contra a demanda ajuizada pela OAB junto ao Supremo Tribunal Federal (argüição de descumprimento de preceito fundamental nº 153), no sentido de interpretar a lei de anistia de 1979, como não abrangente dos crimes comuns cometidos pelos agentes públicos, policiais e militares, contra os oponentes políticos ao regime militar.

 

Mas a condenação moral vai ainda mais além. Ela atinge, em cheio, o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República, que se pronunciaram claramente contra o sistema internacional de direitos humanos, ao qual o Brasil deve submeter-se.

 

E agora, Brasil?

 

Bem, antes de mais nada, é preciso dizer que se o nosso país não acatar a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, ele ficará como um Estado fora-da-lei no plano internacional.

 

E como acatar essa decisão condenatória?

 

Não basta pagar as indenizações determinadas pelo acórdão. É indispensável dar cumprimento ao art. 37, § 6º da Constituição Federal, que obriga o Estado, quando condenado a indenizar alguém por culpa de agente público, a promover de imediato uma ação regressiva contra o causador do dano. E isto, pela boa e simples razão de que toda indenização paga pelo Estado provém de recursos públicos, vale dizer, é feita com dinheiro do povo.

 

É preciso, também, tal como fizeram todos os países do Cone Sul da América Latina, resolver o problema da anistia mal concedida. Nesse particular, o futuro governo federal poderia utilizar-se do projeto de lei apresentado pela Deputada Luciana Genro à Câmara dos Deputados, dando à Lei nº 6.683 a interpretação que o Supremo Tribunal Federal recusou-se a dar: ou seja, excluindo da anistia os assassinos e  torturadores de presos políticos. Tradicionalmente, a interpretação autêntica de uma lei é dada pelo próprio Poder Legislativo.

 

Mas, sobretudo, o que falta e sempre faltou neste país, é abrir de par em par, às novas gerações, as portas do nosso porão histórico, onde escondemos todos os horrores cometidos impunemente pelas nossas classes dirigentes; a começar pela escravidão, durante mais de três séculos, de milhões de africanos e afrodescendentes.

 

Viva o Povo Brasileiro!


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tribunal da OEA condena Brasil por crimes na guerrilha do Araguaia

Se em nível nacional, "mexer" com a repressão e os crimes cometidos durante a ditadura militar no Brasil ainda é um tabu e o Estado e o Supremo Tribunal Federal mantém as mesmas estruturas oriundas do fim do regime militar, em nível internacional conseguimos uma vitória, embora os reflexos na política interna ainda precisarão ser medidos e dimensionados. Mas uma singela luz surge no final deste longo túnel...........

 

Tribunal da OEA condena Brasil por crimes na guerrilha do Araguaia


14/12/2010 - 20:39 | Thais Romanelli | Redação

A Corte Interamericana de Direitos Humanos, órgão da OEA (Organização dos Estados Americanos), condenou a repressão e os crimes cometidos pelo regime militar brasileiro durante a guerrilha do Araguaia. A sentença divulgada nesta terça-feira (14/12) determina que o Estado brasileiro é responsável pelo desaparecimento forçado de 62 pessoas, entre os anos de 1972 e 1974. Esta é a primeira condenação internacional do Brasil em um caso envolvendo a ditadura militar (1964-1985).

No entanto, a aceitação da sentença pelo Brasil não é automática, pois depende de decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). No julgamento que confirmou a Lei de Anistia, este ano, os ministros do Supremo chegaram a discutir a submissão do Brasil à jurisdição da OEA, mas não chegaram a uma conclusão sobre esse ponto.

De acordo com sentença divulgada hoje, para o juiz Roberto de Figueiredo Caldas, responsável pelo caso, a Lei da Anistia brasileira de 1979 serviu como obstáculo para a investigação e o julgamento dos crimes, como espécie de álibi, já que a Constituição do país não deixa brechas para a condenação penal de agentes da repressão. Para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, o Brasil, como signatário do Pacto de San José da Costa Rica (tratado que instituiu a CIDH), deveria respeitar as normas da CIDH, que preveem a garantia dos direitos humanos, e adaptar a Constituição nacional para respeitar os textos aceitos internacionalmente.

"Os dispositivos da Lei de Anistia são incompatíveis com a Convenção Americana, carecem de efeitos jurídicos e não podem continuar representando um obstáculo para a investigação dos fatos", determinou a sentença

Além disso, a CIDH entendeu que o Brasil é responsável pela violação do direito à integridade pessoal de determinados familiares das vítimas, entre outras razões, em razão do sofrimento ocasionado pela falta de investigações efetivas para o esclarecimento dos fatos.

Arquivos

A violação do direito de acesso à informação, estabelecido no artigo 13 da Convenção Americana, também foi apontada na sentença, já que o governo brasileiro se negou a divulgar e liberar o acesso aos arquivos em poder do Estado com informação sobre os crimes cometidos no período.

Com a condenação, o Brasil fica obrigado reconhecer o crime de desaparecimento forçado de pessoas seguindo as convenções interamericanas. Além disso, os acusados considerados culpados deverão ser punidos de acordo com os dispositivos já existentes na Constituição brasileira, até que se crie uma lei específica ou que o país reveja a decisão do STF sobre a Lei de Anistia.

O governo federal, porém, argumenta que "está sendo construída no país uma solução compatível com suas peculiaridades para a consolidação definitiva da reconciliação nacional". Entretanto, mesmo assim a Corte determinou que o Estado terá que retomar a busca dos corpos desaparecidos, que devem ser restituídos aos parentes, e indenizar as famílias das vítimas financeiramente e com atendimento psicológico adequado.

Se o STF confirmar a sentença, todos os integrantes das forças armadas terão de passar por um curso permanente sobre direitos humanos.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Complexas, mas descentralizadas

Complexas, mas descentralizadas


Pesquisadores da Unesp questionam posições polarizadas que caracterizaram a arqueologia amazônica e propõem novos modelos de organização das sociedades pré-coloniais da região.

Por: Pedro de Figueiredo

Publicado em 13/12/2010 | Atualizado em 13/12/2010

Complexas, mas descentralizadas
Escavações em Santarém (PA) localizaram cerâmicas que trazem pistas para que se possa entender as formas de organização social nas sociedades pré-coloniais da Amazônia. (foto: Denise M.C. Gomes)


Estudos sobre como viviam as sociedades pré-coloniais na região da Amazônia estão pondo em xeque interpretações tradicionais sobre o assunto. No lugar de sociedades simples ou com organizações sociais complexas, pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) propõe uma forma diferente de organização social desses povos. 

Tradicionalmente, os arqueólogos concebiam as sociedades pré-coloniais da Amazônia como tribos, essencialmente igualitárias. 

Na década de 1980, de acordo com concepções neoevolucionistas, novos estudos apontaram que os povos da região teriam uma complexidade social, com a existência de sociedades organizadas de modo centralizado e com poderes hierárquicos, formando os chamados cacicados, categoria anterior ao Estado na nossa concepção de organização social. 
Agora, a arqueóloga Denise Gomes aponta outra possibilidade. As pesquisas sobre as antigas sociedades existentes na região de Santarém, no Pará, embora apontem diversos traços de elaboração social, não sugerem a existência de um poder hierárquico e centralizado. 

“Não há um modelo pronto. É necessário abrir novamente o debate e nos distanciar das posições polarizadas que caracterizaram a arqueologia amazônica dos anos 1990 (de um lado, sociedades simples e, de outro, sociedades complexas), uma vez que existem diferentes possibilidades de organização social”, diz a arqueóloga.

“Estamos atrás de evidências para entender como esses grupos se organizavam no espaço regional, como interagiam com outros grupos étnicos, que cerimônias possuíam e qual a importância destas. Temos que buscar as especificidades dessas sociedades”, completa.

 

Cerâmicas reveladoras


Desde 2001, Gomes visita sítios arqueológicos na região de Santarém, em busca de cerâmicas deixadas pelas sociedades pré-coloniais. Nessas incursões, fica alojada em moradias locais, como em uma comunidade tradicional ribeirinha. São realizadas escavações na busca de cerâmicas, para entender como as sociedades primitivas da região se organizavam. 

Sociedades Pré-coloniais
As peças encontradas, como vasilhas para cozinhar e armazenar alimentos e água e vasos iconográficos, trazem pistas para a interpretação da organização social nas sociedades pré-coloniais. 

Nos trabalhos já concluídos, os pesquisadores acharam objetos que demonstram a importância das cerimônias xamânicas e outras que mostram a existência de indivíduos de prestígio, mas sem exibir diferenças sociais no interior da comunidade. 

A arqueóloga conta que a arte dos tapajós, por exemplo, pelo que se sabe hoje, continha símbolos associados ao conhecimento xamânico, cujas ideias estão presentes nas cosmologias das sociedades indígenas atuais, em vez de símbolos de poder.

 

Teorias etnocêntricas


Gomes acredita que as interpretações de que esses povos teriam características de organização social hierárquica e centralizada podem ser etnocêntricas, por não levarem em consideração as peculiaridades desses grupos. 
A falta de contextos arqueológicos preservados é um dos principais obstáculos
Segundo a pesquisadora, os estudiosos tenderiam a defender formas sociais semelhantes às nossas atuais, com a existência de um poder hierarquizado. 

“Nossa pesquisa não nega a existência de sociedades complexas. No entanto, discordamos de que não houvesse outras formas de organização, em que a capital e o governo central fossem ausentes”, observa.

A dificuldade de se encontrar contextos arqueológicos preservados é uma das principais barreiras dos pesquisadores. Além dos problemas oriundos do processo de escavação na área urbana de Santarém, existem limites colocados pelos atuais habitantes, uma vez que muitas peças estão dentro de casas e propriedades privadas, onde os moradores não são muito receptivos ou já as venderam para colecionadores.

Com o avanço dos estudos, Gomes espera encontrar mais evidências que comprovem as hipóteses sobre as formas de organização social das comunidades pré-coloniais da Amazônia.

Pedro de Figueiredo
Ciência Hoje/RJ                         
Texto originalmente publicado na CH 276 (novembro/2010).

Fonte:http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2010/276/complexas-mas-descentralizadas

França julga militares do regime de Augusto Pinochet


Um exemplo que o Estado brasileiro poderia seguir como forma de não deixar impune o processo perpetrado pelo próprio Estado contra seus próprios cidadãos. Longe das polarizações existentes sobre o tema, o julgamento dos crimes, independente dos lados em questão, torna-se uma forma de relembrar os processos históricos e não deixá-los cair no esquecimento, bem como legitimar as práticas de um Estado que busca ser democrático com a discussão dos caminhos escolhidos ao longo de sua história republicana.


França julga militares do regime de Augusto Pinochet

I - 13/12/2010
Os 14 militares serão julgados pela detenção e desaparecimento forçado de quatro franceses

da Redação

A Justiça francesa realiza o julgamento de 12 militares e um civil chilenos, bem como um militar argentino, pela detenção e desaparecimento forçado de quatro franceses durante o regime militar dirigido pelo general chileno Augusto Pinochet (1973-1990).

Os réus são julgados 12 anos após o início do processo. Entre os acusados está o ex-comandante da Direção de Inteligência Nacional (Dina, polícia política), Manuel Contreras, que está detido no Chile, onde foi condenado a 400 anos de prisão.

O julgamento à revelia (sem a presença dos réus) trata do “sequestro arbitrário acompanhado ou seguido de tortura e atos de barbárie” de Georges Klein, conselheiro do ex-presidente Salvador Allende, do ex-padre Etienne Pesle, que trabalhava na reforma agrária no sul do Chile, de Alphonse Chanfreau, dirigente do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), e de Jean Yves Claudet Fernández, militante do MIR.

O processo abre um precedente histórico, graças à mobilização das famílias das vítimas e de organizações sociais chilenas e internacionais que, durante décadas, lutaram contra a impunidade e o esquecimento e para obter justiça.

A realização do julgamento em Paris é baseada na lei penal francesa que, a título de competência jurisdicional extraterritorial, garante que sejam julgados pela França os crimes cometidos por estrangeiros contra pessoas de nacionalidade francesa fora do território nacional.

Os acusados, com idades entre 59 e 89 anos, não solicitaram representantes legais porque negam a legitimidade do processo. Da lista inicial de réus, cinco morreram, entre eles o ditador Augusto Pinochet, Osvaldo Romo, carrasco famoso por suas confissões, e o ex-nazista Paul Schaefer. Dos 14 restantes, a maioria cumpre penas de prisão no Chile. Outros, transformados em homens de negócios, circulam livremente, como por exemplo o capitão reservista da Força Aérea, Emília Sandoval Poo.

Augusto Pinochet faleceu em 10 de dezembro de 2006 aos 91 anos, sem nunca ter sido condenado por violações aos direitos humanos durante a ditadura que deixou mais de 3.000 mortos e desaparecidos, além de 30.000 pessoas torturadas.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Coleção História Geral da África em português

Com as presenças de Juca Ferreira (Ministro da Cultura), Vincent Defourny (Representante da UNESCO no Brasil) e Fernando Haddad (Ministro da Educação) foi lançada na tarde de ontem (09 de dezembro de 2010) a Coleção História Geral da África, traduzida para a língua portuguesa. Uma obra aguardada a um bom tempo e que nos possibilita olhar a África e sua historiografia não mais somente pela ótica do colonizador (europeu, em sua maioria). Uma leitura, embora com toda a extensão da obra, fundamental para podermos compreender e trabalhar com a História da África nos espaços escolares e não-escolares.
Neste link temos acesso a download na integra dos 8 volumes e em breve será lançada uma versão condensada para os professores e professoras poderem utilizar como referência nas suas salas de aula.


Coleção História Geral da África em português

Brasília: UNESCO, Secad/MEC, UFSCar, 2010.


Em 1964, a UNESCO dava início a uma tarefa sem precedentes: contar a história da África a partir da perspectiva dos próprios africanos. Mostrar ao mundo, por exemplo, que diversas técnicas e tecnologias hoje utilizadas são originárias do continente, bem como provar que a região era constituída por sociedades organizadas, e não por tribos, como se costuma pensar.

Quase 30 anos depois, 350 cientistas coordenados por um comitê formado por 39 especialistas, dois terços deles africanos, completaram o desafio de reconstruir a historiografia africana livre de estereótipos e do olhar estrangeiro. Estavam completas as quase dez mil páginas dos oito volumes da Coleção História Geral da África, editada em inglês, francês e árabe entres as décadas de 1980 e 1990.

Além de apresentar uma visão de dentro do continente, a obra cumpre a função de mostrar à sociedade que a história africana não se resume ao tráfico de escravos e à pobreza. Para disseminar entre a população brasileira esse novo olhar sobre o continente, a UNESCO no Brasil, em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (Secad/MEC) e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), viabilizaram a edição completa em português da Coleção, considerada até hoje a principal obra de referência sobre o assunto.

O objetivo da iniciativa é  preencher uma lacuna na formação brasileira a respeito do legado do continente para a própria identidade nacional.

Resumo: Publicada em oito volumes, a coleção História Geral da África está agora também disponível em português. A edição completa da coleção já foi publicada em árabe, inglês e francês; e sua versão condensada está editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo hausa, peul e swahili. Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos. 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Entre a valentia e a traição

Entre a valentia e a traição

Jovens que não aceitam cumprir o serviço militar obrigatório enfrentam processos e são presos pelas Forças Armadas de Israel
Carmen Rengel (Periodismo Humano)


“Papai, não vou entrar no Exército. Não quero. Sabe o porquê”. Uma filha afirma, sincera, a seu pai. Eles se conhecem bem, se entendem, se adoram. Não há muito mais o que falar. Ele sabe que não vai convencê-la. Ela é firme e teimosa, como ele, e não dá o braço a torcer se tem uma ideia fixa na cabeça. Filha digna de seu pai. A cena poderia ser mais um conflito entre uma adolescente e seu pai, mas as circunstâncias a convertem em excepcional: a que se nega a vestir o uniforme é Omer Goldman, uma das jovens israelenses que rechaça o recrutamento como membro do movimento shministim (o nome que se outorga aos adolescentes do 12º grau, o último curso da educação secundária), e o ouvinte é um dos espiões mais brilhantes que já integrou o Mossad (serviço secreto do governo de Israel), o segundo nas sombras, conhecido como “N”. A história familiar evidencia o movimento interno que Israel e suas Forças Armadas estão sofrendo: não são um muro inacessível, não são pura ordem – sapatada e bater continência -, são um organismo vivo onde se gera debate, se examinam as consciências, se apresentam as contradições.

Os shministim são o último grande exemplo dessa ebulição vivida pelas Forças Armadas de Israel, são objetantes que se negam a passar das aulas às bases militares. O movimento foi criado em 2008 e, desde então, quase 200 adolescentes se recusaram a alistar-se. O processo é tão simples quanto arriscado: chega a convocatória para o recrutamento, recusa-se, espera-se a audiência em um tribunal militar onde novamente tem que se explicar esse “não” e cumpre-se a consequente pena de prisão, de 10 a 30 dias aproximadamente. Depois a convocação volta às filas e o processo se repete. A rebelião é tão nova que ainda se desconhece quantas vezes um destes jovens pode acabar na prisão. O habitual é que o Exército deixe de insistir quando chegam aos 21 anos e passa a idade para ser recrutado ou se apresentam algum atenuante médico ou religioso como desculpa. A incerteza sobre o que pode acontecer enquanto se revive esse círculo de recrutamento-rechaço-castigo leva os jovens a uma incerteza absoluta: não sabem quando os aprisionarão, por quanto tempo, em que condições – caso se neguem a vestir o uniforme durante sua condenação são submetidos a isolamento –, vivem com esse medo e com a impossibilidade de prosseguir em paz os estudos ou de encontrar emprego. Ninguém firma um contrato de trabalho com estes jovens, os quais são valentes aos olhos de seus pares e os quais a maior parte da sociedade israelense condena como traidores.

Omer, enérgica, se exalta perante a crítica. “Não sou covarde, não sou uma desertora, não me esquivo do compromisso com meu país, mas opto por este grande ato de responsabilidade civil que é denunciar que o Exército vai mais além da missão defensiva para a qual foi criado”. Porque essa é a base dos shministim: sua oposição ao serviço militar – três anos obrigatórios para rapazes e dois anos para moças – é fundamentada na crítica pelo “dano” a que submetem os palestinos de Gaza e Cisjordânia. Não querem ser “cúmplices” de uma “força de ocupação” que “submete” a população árabe nos controles (mais de 600), que contribui “com a extração ilegal de seus recursos naturais”, que defende os colonos que “roubam sua terra”, que “humilham” os palestinos com sua “tentativa de superioridade racial” e que, inclusive em suas próprias filas, discriminam a mulher e o imigrante. As citações são extraídas das cartas que, há dois anos, enviam ao primeiro ministro de Israel e ao ministro da Defesa para formalizar publicamente sua negativa de pegar em armas, uma campanha a que mais de 250 mil pessoas têm se somado na Internet.

Em um país em que 53% dos judeus pensam que deveria se promover a emigração dos árabes israelenses, ou seja, que querem que estes saiam do país, e quase metade, 46%, não querem viver perto dos árabes (dados do Instituto para a Democracia de Israel), a negativa destes jovens surge de uma inquietude humanista profunda, de uma curiosidade intensa a respeito do vizinho e, em muitos casos, de um choque violento com a realidade dos Territórios Ocupados, que muda tudo. É o que ocorreu com Omer. “Sem que soubessem em casa, fui a um povoado palestino perto de Ramala e me encontrei com membros de uma ONG. Quando os soldados me viram com eles não sabiam que eu era israelense, de modo que atiraram granadas e balas de borracha contra mim e os demais. Foi terror puro. Me dei conta da realidade opressiva daquele lugar. Se a conhece, só pode se opor ao que os meus compatriotas fazem ali”, relata. Um ano depois, quando chegou o momento, disse que não, que este não seria seu Exército. Poderia conseguir um atestado médico falso ou, com as influências de seu pai, ter se alistado para fazer cômodos trabalhos de escritório, longe do perigo. Mas não quis. Por princípios. “Algumas Forças Armadas são necessárias, claro, oxalá que não fossem em nenhum lugar do mundo, mas estas são desnecessariamente violentas com quem não pode se defender. E eu não vou cometer crimes de guerra”, conclui. Sua postura lhe custou 28 dias de prisão em duas fases. Se a jovem não voltou ainda para o cárcere foi porque a rápida perda de peso durante seu confinamento levou os médicos a desencorajar a sua prisão.

Sua companheira Or Ben-David, a que teve a condenação mais longa até o momento (81 dias em três períodos diferentes), tem se dedicado completamente em transmitir essa mensagem. “Nem todos os israelenses são iguais”, refere-se a cada duas ou três fases. Ela se define sionista, convencida da necessidade da existência do Estado de Israel, mas sem violentar a ninguém. A guerra de 1948, afirma, foi necessária para definir o país, mas o que se tem visto depois “são seis décadas de opressão aos palestinos”. E com isso ela não concorda. Mas que ninguém lhe diga que estão sujando o bom nome do Exército. “Não, é uma grande instituição, mas tem vícios, erros e deformidades. Eu quero mudá-las. Se estou passando este sofrimento, é porque quero transformar a sua realidade. Há companheiros que servem porque querem mudar o Exército em seu interior. Eu quero fazê-lo de fora, alertando sobre seus defeitos e dando a entender aos palestinos que há esperança, que também deste lado há pessoas que não lhes querem mal, mas bem”, argumenta. No dia seguinte, Or Ben-David irá novamente a Bil´in, na Cisjordânia, sua “segunda casa”, para “recolher argumentos” para falar com outros judeus. “Nossa luta de hoje pode significar uma vizinhança em paz amanhã”, disse antes de despedir-se, com uma intensa fé.

Raiva sem contensão é a que mostra Tamar Katz, a mais veemente destas jovens shministim (80% destes objetantes são mulheres). De família pacifista, ela cumpriu três condenações por sua negativa em cumprir o serviço militar, 51 dias no total. Com o jornal Yediot Aharonot nas mãos, ela explica: “Não estou disposta a ganhar um título porque tenho indiscriminadamente um palestino como alvo e com os nervos, o cansaço ou o medo tenha caído em minhas mãos. Não quero ser parte disto, nem intencionalmente, nem por ordens, nem por erro”. Agora Katz se dedica em dar palestras em associações de esquerda para contar sua postura: que não quer ser parte de um “exército tirano”, que não vai invadir “uma terra que não é sua”, que Israel “tiraniza aos civis sem motivo” com o “falso pretexto de sua segurança”. Esta mensagem chegou até os EUA, através de Mia Tamarim, graduada no Novo México, que se denomina seguidora de Ghandi e professa a não violência. “[A atuação do Exército israelense] É absolutamente oposta ao meu modo de vida”, sorri. Isto foi o que alegou perante o tribunal militar que acabou condenando-a (42 dias na prisão, em três sentenças).

Contudo, o pacifismo dos shministim não é reconhecido como um excludente para o serviço nas Forças de Defesa de Israel (IDF, por sua sigla em inglês). Um jovem pode livrar-se do serviço militar por questões médicas, se é judeu ortodoxo, no caso dos homens; se alega motivos religiosos avalizados por um rabino ou se está casada, no caso das mulheres.  Também pode-se falar de objeção de consciência, a qual se apegam estes jovens, mas as IDF entendem que, nesse caso, os jovens não vão contra a guerra em geral, que seus princípios não vão contra todo o sistema defensivo, mas contra ações específicas das Forças Armadas de Israel e, por isso, entendem que se enquadram num “caso claro de desobediência civil”.

Estão em terra de ninguém e sem demasiados apoios, por isso Emelia Marcovich chama a si mesma e a seus companheiros de “os novos criadores de Israel”, o país em que toda a sociedade civil é uma unidade militar, onde o exército é o povo. De origem russa, Masrcovich foi a última a ver como seus argumentos de pacifismo não deram em nada. “Até o juiz me disse que chamaria um médico ou um psiquiatra, que me fariam um pedido, o que evitaria o infortúnio de ir para a prisão, e que simplesmente seria desonesto que eu mentisse para o médico”, disse. Ainda que tenha 19 anos, como o resto de seus colegas, Marcovich sabe basear-se na história para sustentar seu discurso. “Oxalá sejamos como os insubmissos do Vietnã. Graças a eles acabou o conflito, ainda que depois de muita dor e muitas balas. Seguramente nós conseguiremos que a sociedade veja a sujeira que fazemos do outro lado do muro ou o desumano bloqueio de Gaza”. Saltam-lhe as lágrimas quando recorda que alguns de seus vizinhos cospem contra ela e pintam frases de insulto na porta de sua casa, mas se recompõe ao pensar nas centenas de jovens que a abrigaram quando esteve na prisão por dez dias. “É algo muito simples, sabe? Não se pode ter moral e servir a ocupação. Eu tenho moral, me educaram assim”. Ya´ara Shafir, outra companheira, trata de se contagiar com essa força. Ela está esperando o tribunal ver o seu caso e treme. “Quero fazer-me de forte, mas... em casa tenho problemas, sou vista com maus olhos, e meus amigos não me entendem. Em troca, cada vez que leio mais e estou mais atenta à imprensa internacional, vejo que elegi o melhor caminho. Não sei o preço que deverei pagar”, assume. Ao seu lado, uma caixa com as camisetas que os shministim preparam para suas manifestações. Branco sobre preto, nelas se lê: “I have a dream” (eu tenho um sonho). O sonho de uma convivência em paz com os palestinos.

A lenta sangria das IDF

Por parte dos porta-vozes das IDF israelenses constata-se que o número de “insubmissos” deste tipo é ainda baixo, mas crescente desde 2005. Sempre existiram, pontualizam os militares, especialmente depois das guerras de 1967 e 1973, onde se iniciou uma concordância com a corrente antibelicista que atravessou todo o mundo ocidentalizado. Atualmente, as IDF têm 176.500 efetivos, afirma o Instituto para Estudos Estratégicos de Londres. Segundo dados de Israel, 22% dos homens rechaçam o serviço militar, um número que sobe para 36,5% quando se tratam das mulheres em idade para entrar para as tropas. Os motivos essenciais alegados são, por esta ordem, religião, saúde, antecedentes criminais e residência no exterior. No caso da religião, a permissão do governo é automática: só é necessário ter o aval de um rabino. No caso da mulher, precisamente, há duas semanas Israel trouxe à tona a identidade de pelo menos mil jovens que, apesar de terem se proclamado religiosas para não irem para o  quartel, “atualizam seus perfis do Facebook em shabbat, publicam suas fotos em restaurantes não-kosher (que não seguem as leis alimentares judaicas) ou usam roupas indecentes”. Como o Exército necessita de mão-de-obra – sempre faltam soldados neste vespeiro –, chegam a contratar, inclusive, detetives para desmascarar estas mentiras e fazer com que as moças vistam o uniforme. O “interesse maior do Estado” o faz necessário, sustentam os militares. Aos jovens shministim somam-se cerca de 600 oficiais e soldados na reserva – os quais têm que cumprir 40 dias de serviço a cada ano até que cumpram 45 anos – que tem se negado a regressar ao Exército, como aponta a ONG Breaking the Silence.

Tradução: Michelle Amaral

Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/5237



terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Brasil está entre países que mais evoluíram em educação na última década

Eis os novos números da educação nacional, de acordo com dados internacionais. Números que nem sempre representam as realidades sociais e educacionais compplicadas e de miserabilidade pelas quais os alunos e alunas e suas famílias. Assim, fica a análise dos números, embora não possamos negar que estejamos tendo um crescimento muito significativo nesta última década com as politicas públicas implemantadas pelo governo Lula. A muito a crescer, mas precisamos olhar historicamente este processo e compreender as suas melhorias.
08:10 - 07/12/2010

Brasil está entre países que mais evoluíram em educação na última década


Amanda Cieglinski (Repórter da Agência Brasil)

Brasília - O Brasil está entre os três países que alcançaram a maior evolução no setor educacional na última década. É o que apontam os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2009, divulgados hoje (7).

A prova é aplicada a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos de idade em matemática, leitura e ciências. No ano passado, participaram 65 países.

O Brasil ingressou no Pisa em 2000. Desde então, a média entre as três provas – considerando os resultados em leitura, matemática e ciências - subiu de 368 para 401 pontos. Nesse mesmo período, apenas dois países conseguiram melhorias superiores aos 33 pontos alcançados pelo Brasil: Chile (mais 37 pontos na média) e Luxemburgo (mais 38 pontos). Na média, os países-membros da OCDE ficaram estagnados de 2000 a 2009, sem avanços.

O Brasil estabeleceu metas de melhorias no Pisa, como as que já existem para o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Para 2009, o objetivo era atingir 395 pontos, o que foi superado. Em 2021, o país precisa alcançar 473 pontos, média dos países da OCDE.

Na avaliação do ministro da Educação, Fernando Haddad, os resultados desmontam a teoria de que o Brasil estaria sempre em defasagem em relação aos países desenvolvidos, já que somente em 2022 atingiria níveis semelhantes na avaliação. “O mundo está estagnado do ponto de vista da qualidade [da educação]. Embora alguns países da OCDE tenham melhorado, outros pioraram e, na média, ficaram estagnados. Em educação sempre há espaço para melhorar, mas o mundo desenvolvido está com dificuldade em fazer a sua média subir”, afirmou.

Para Haddad, o “pior momento” da educação brasileira foi no início da década, entre 2000 e 2001, quando o país ocupou a lanterna no ranking do Pisa. Segundo o ministro, essa tendência está revertida e parte dos avanços se deve às mudanças no sistema de avaliação do país, especialmente a criação do Ideb em 2005 que atribui e divulga nota para cada escola pública.

“Não tenho dúvida que isso impactou muito favoravelmente, mexeu com a educação no Brasil. Em 2006, quando divulgamos pela primeira vez os resultados por escola, informamos diretores, professores, passamos a fazer formação [de professores]. Estamos só colhendo os resultados dessa percepção de que a aprendizagem estava afastada do cotidiano da escola”, afirma Haddad. O maior crescimento - de 17 pontos - se deu no último triênio (2006-2009), destacou o ministro.

Haddad ressaltou que a escola não pode se ocupar somente dos resultados em avaliações, mas não pode esquecer que está formando alunos que “precisam ter proficiência nas disciplinas básicas. “A educação não se reduz a isso, os testes padronizados são importantes, mas não esgotam a questão. A educação transcende esses testes, mas a avaliação é um elemento que estava faltando na cultura escolar”, apontou.

O relatório da OCDE também destaca a criação do Ideb como ação importante para a melhoria dos resultados e aponta o Brasil como exemplo a ser observado por outros países com baixa proficiência.

“O país investiu significativamente mais recursos em educação, aumentando os gastos em instituições de ensino de 4% do PIB [Produto Interno Bruto] em 2005 para 5% em 2009, alocando mais recursos para melhorar o salário dos professores. Também gastou o dinheiro de forma mais equitativa do que no passado. Recursos federais agora são direcionados para os estados mais pobres, dando às escolas recursos comparáveis aos que são disponibilizados nos mais ricos”, diz o relatório, em referência ao Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), criado em 2006.

Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/home;jsessionid=B9D2BEBE27960045C5EE450B9A4BA7B8

sábado, 4 de dezembro de 2010

Maratona midiática protesta contra muro de Israel

Eis um tema que é desconhecido por grande parte da população e que demonstra as intolerâncias ainda presentes em diferentes espaços. A questão Palestina merece atenção e pressão internacional para que o muro da vergonha  e "outros muros" sejam derrubados.


19/11/2010           Por Lúcia Rodrigues


Maratona midiática protesta contra muro de Israel
Objetivo é denunciar muro com 700 quilômetros de extensão construído por Israel para isolar cidades palestinas da Cisjordânia, no Oriente Médio.

Uma maratona midiática de 48 horas com o objetivo de denunciar o muro que está sendo construído por Israel na Cisjordânia, no Oriente Médio, ocorreu na última sexta-feira, 12, e sábado, 13.

A campanha, inédita, envolve mídias alternativas de países dos vários continentes e faz parte dos protestos organizados pela entidade palestina Stop the Wall, Pare o Muro, em tradução literal. O objetivo da maratona é denunciar o ataque do Estado de Israel contra a população palestina.

O muro do apartheid ou muro da vergonha, como é conhecida a muralha, está em construção desde 2002 e atualmente tem 700 quilômetros de extensão em concreto e arame farpado. Com nove metros de altura, corta cidades palestinas da Cisjordânia ao meio e isola a população.

Sua extensão e altura são infinitamente superiores ao muro de Berlim, que caiu em 9 de novembro de 1989. O muro alemão possuía aproximadamente 155 quilômetros por três metros de altura.

“Esse muro que cerca a Cisjordânia dividiu plantações e casas ao meio. Uma moradia teve, inclusive, as janelas bloqueadas”, denuncia Soraya Misleh, diretora do ICArabe (Instituto da Cultura Árabe) e do Movimento Palestina para Todos.

A  maratona midiática também pretende denunciar as empresas que estão envolvidas na construção do muro do apartheid. A israelense Elbit Systems, que atua na área de tecnologia militar e especialista em construção de veículos não tripulados, é uma dessas 12 companhias. A Elbit, inclusive, já assinou contratos no Brasil, conforme informa a Ciranda.

Para saber mais sobre a Elbit e conhecer quais são as outras empresas envolvidas na construção do muro acesse a informação em http://www.ciranda.net/spip/article3310.html

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Vida além da Terra?


Vida além da Terra?

Cientistas norte-americanos descobrem bactéria que se alimenta de arsênico, elemento considerado altamente tóxico, em substituição a outro que seria essencial à sua condição de ser vivo. O caso, inédito, traz à tona discussões sobre a existência de vida extraterrestre.

Por: Carolina Drago         Publicado em 02/12/2010 | Atualizado em 03/12/2010

Vida além da Terra?
Uma bactéria que se alimenta de arsênico, elemento normalmente tóxico aos seres vivos, foi encontrada em um lago da Califórnia, nos Estados Unidos (foto: Henry Bortman).

Uma bactéria capaz de usar um elemento químico normalmente tóxico, o arsênico, para sustentar seu crescimento. Esse ser diminuto atraiu a atenção do mundo todo antes mesmo de ser oficialmente apresentado à comunidade científica. O motivo: a descoberta teria impacto na busca de provas de vida extraterrestre, segundo divulgou a agência espacial norte-americana (Nasa) antes de anunciar o feito.

Além de ingerir uma toxina sem que ela lhe cause danos, esse microrganismo é desprovido de um dos seis principais elementos nutrientes essenciais a qualquer ser vivo. Essa característica não apenas põe em xeque aspectos ligados à evolução, mas também traz à tona a polêmica discussão sobre a existência de vida fora da Terra. A descoberta foi publicada esta semana na revista Science por cientistas da Nasa e de outras instituições norte-americanas.

Esse é o primeiro caso em que um microrganismo é capaz de substituir algum dos seis elementos essenciais à vida
 
“A vida como nós a conhecemos exige elementos químicos específicos e exclui outros”, afirma um dos autores do artigo, Ariel Anbar, pesquisador da Nasa e da Universidade do Estado do Arizona, nos Estados Unidos. “Mas essa é a única opção? Quão diferente a vida poderia ser?”, questiona.

Esse é o primeiro caso em que um microrganismo é capaz de substituir algum dos seis elementos essenciais à vida (carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo). De acordo com os pesquisadores, as bactérias, que foram encontradas no Mono Lake, lago salgado e tóxico da Califórnia (EUA), podem trocar completamente o fósforo de suas moléculas pelo arsênico, na medida em que são capazes de incorporar esse novo elemento ao próprio DNA.
Lago Mono
O lago em que foi encontrada a nova bactéria é conhecido por ser altamente salino e ter altas concentrações de arsênico (foto: Henry Bortman).

Do fósforo ao arsênico

Em laboratório, as bactérias, da família Halomonadaceae, foram cultivadas em um ambiente em que o sal de fosfato – forma mais comum do fósforo na natureza – foi gradualmente substituído por arsênico. A substituição foi feita até que os microrganismos pudessem crescer sem precisar do fosfato, composto essencial para a construção das macromoléculas de todas as células vivas.

“Esse microrganismo tem dupla capacidade, ele cresce tanto com fósforo quanto com arsênico”, define Paul Davies, coautor do artigo e também pesquisador do Instituto de Astrobiologia da Nasa e da Universidade do Estado do Arizona. “Isso o torna muito peculiar, embora aquém de ser uma forma de vida verdadeiramente ‘alien’. Ainda assim, essa bactéria pode ser um ponteiro para organismos ainda mais estranhos.”
Bactéria que se alimenta de arsênico
Microscopia eletrônica da bactéria que usa arsênico para sustentar seu crescimento (foto: Science/ AAAS).
Usando rádio-marcadores, a equipe seguiu de perto o caminho do arsênico dentro da bactéria, desde a etapa da absorção química até o momento da incorporação do elemento novo por seus componentes celulares. A análise provou a substituição completa do fosfato pelo arsênico, elemento normalmente tóxico aos organismos vivos – já que interrompe suas vias metabólicas –, mas que se comporta quimicamente como o fosfato.

Formas alternativas de vida


A hipótese de o arsênico substituir o fósforo usado pelos seres vivos na Terra vem de 2009. Segundo a autora principal do artigo, Felisa Wolfe-Simon, pesquisadora da Nasa e do Serviço Geológico dos Estados Unidos, nessa época a equipe já havia considerado a existência de um sistema bioquímico análogo ao que conhecemos, no qual o arsênico poderia desempenhar o mesmo papel do fósforo. E mais: organismos com essa característica poderiam ter evoluído, persistindo em ambientes hoje incomuns.

Os pesquisadores, que já discutiam sobre formas alternativas de vida na Terra desde 2006, reconhecem que a descoberta dessa bactéria é um marco: “A maioria das discussões sobre a busca de formas alternativas de vida vinham com sugestões como ‘talvez algo mais ou menos assim’, ‘talvez um pouco como aquele’”, critica Paul Davies.

Para Wolfe-Simon, os resultados são um lembrete de que a vida como conhecemos pode ser muito mais flexível do que geralmente se assume. Segundo ela, essa descoberta ainda pode abrir um novo capítulo nos livros de biologia, já que os micróbios, entre os quais as bactérias, são os principais motores dos ciclos biogeoquímicos e patológicos.
 
Em entrevista coletiva promovida pela Nasa, a pesquisadora aponta possíveis aplicações para a bactéria. Ela cita a possibilidade de uso do microrganismo na geração de bioenergia alternativa ou no manejo de lixo tóxico.

A quebra de paradigma provocada pela descoberta dessa bactéria suscita grande expectativa nos cientistas. “Se alguma coisa aqui na Terra pode fazer algo tão inesperado, o que mais pode fazer a vida que não vimos ainda?”, pondera Wolfe-Simon. E conclui: “Agora é a hora de descobrir.”

Carolina Drago
Ciência Hoje On-line


Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2010/12/vida-alem-da-terra

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Lei de Murphy: diretamente do "além"!!

Para você que gosta de um humor inteligente e provocativo, antenado com os acontecimentos atuais (fazer a leitura de acordo com o contexto histórico!) vai um exemplo de texto publicado no Blogs do Além (http://www.blogsdoalem.com.br/). Entre e confira outros textos dos que estão no "além".


SE A LEI DE MURPHY DEPENDESSE DA RAPIDEZ DO CONGRESSO BRASILEIRO, ELA JÁ ESTARIA APROVADA 
Quinta-Feira, 12 de novembro 2009

Minha famosa lei, na sua letra fria, diz que: "Se algo pode dar errado, dará" ou ainda "se algo pode dar errado, dará errado da pior maneira possível, no pior momento possível" é citada todos os dias por milhares de pessoas nos cinco continentes. A Lei de Murphy conseguiu ser respeitada até no Brasil, onde não se respeita nem a Lei da Gravidade, como bem prova Luiza Brunet. Qualquer popular sabe enunciar o seu princípio. Reconhecimento nunca me faltou, todos fazem questão, ao citá-la, de mencionar o nome do autor. Um privilégio que eu, o Rouanet e mais meia dúzia de gatos pingados temos.

No entanto, poucos são os que se dão conta dos benefícios sociais proporcionados por minha lei. Através dela, pessoas encontram alívio para os pequenos traumas cotidianos. Por exemplo, todos sabemos que basta a aeromoça servir o café pro avião entrar em turbulência. Se o sujeito que recebeu o copinho plástico de café tiver a infelicidade de verter o líquido preto sobre o seu terno novo, ele não precisa blasfemar contra a sacanagem do destino. Ele pode pensar que está apenas cumprindo a legislação. E se, ao chegar no aeroporto, lhe ocorrer o pensamento murphyano de que “não importa a esteira de bagagem em que você esteja, suas malas sempre sairão em outra”, ele não passará por um viajante desatento que não lê avisos, mas sim como um observante da lei.

Outro benefício decorrente de minha brilhante formulação é a geração de autoestima. Explico melhor. Frases corriqueiras como “basta eu lavar o carro pra que comece a chover” são a mais pura expressão da Lei de Murphy. Mas por trás dessa inocente fala, vemos como o protagonista em questão se reveste de uma importância incrível. Nuvens (e talvez o próprio Deus) ficam ao longe vigiando o proprietário desse automóvel. Quando ele decide que é hora de lavar seu bólido, elas entram em ação para armar o temporal. Porém, o fator mais importante do murphismo eu não revelarei agora. Acredita que eu tinha o final deste post anotado num guardanapo que estava ao lado de outro usado para segurar o sanduíche e a faxineira recolheu justamente o que tinha meu texto?


Fonte://www.blogsdoalem.com.br/murphy/

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Falso brilhante: luxo de Dubai esconde massa de miseráveis

Nem tudo que reluz é ouro, já diz o ditado popular. No texto que segue nos é apresentado uma outra visão sobre a riqueza e a opulência produzida pela exploração do petroléo na região dos Emirados Árabes Unidos a partir da década de 1960. De pequenas aldeias a megacidades e construções, que impressionam e impactam os menos avisados.

Este impressionante salto econômico modificou o eixo internacional do mercado, deixando de ser o Japão (centro da alta tecnologia) a receber os grandes eventos esportivos, por exemplo, até a década de 1990, sendo agora esta região do mundo a bancar e patrocinar os grandes torneios de tênis, grandes prêmios, amistosos e campeonatos de futebol....

Como nos questiona Bertold Brecht, no seu poema, Perguntas de um operário que lê, onde estão os construtores dessa cidade? Onde vivem os cozinheiros dos grandes hotéis? Perguntas, que precisamos de outros olhares para podermos fazer...


20/11/2010 - 12:17 | Marcia Camargos | São Paulo

Falso brilhante: luxo de Dubai esconde massa de miseráveis


A sensação começa no aeroporto, na hora do embarque. O traje das comissárias de bordo, arrematado por um chapéu coco vermelho, de onde pende um meio lenço, tentando esconder metade do rosto, procura fazer uma ponte fashion entre o que o senso comum define como Oriente e Ocidente. Também a mistura étnica já se faz presente durante o voo, com mulheres filipinas, africanas e europeizadas servindo as várias refeições da viagem interminável. A chegada não deixa dúvidas.

Adentramos um mundo de ficção, espécie de parque temático ou ilha da fantasia onde o dinheiro compra tudo. No saguão principal do aeroporto, colunas de arenito emitem faíscas cintilantes. Brilho nouveau riche, aliás, será parte do cardápio desta cidade-estado que faz parte dos Emirados Árabes Unidos. A limpeza asséptica estende-se do teto ao assoalho. Na fila do passaporte, confirma-se a impressão da artificialidade, marca registrada desta invenção que se quer pós-moderna. Os jovens que manejam os carimbos vestem impecáveis túnicas brancas, como se tivessem acabado de sair da lavanderia, num cenário perfeito para um comercial de sabão em pó. Tão engomados são as cafias na cabeça, em contraste com a barba negra cerrada, que o cérebro custa a aceitar como verídico o que se enxerga.

Lá fora, esqueça a muvuca acolhedora de um país árabe. Enfileirados, os táxis zero quilômetro são dirigidos por homens ou mulheres em corretíssimos uniformes igualmente recém-passados a ferro. Nem uma prega fora de linha no automóvel de ar condicionado nas últimas. Cadê os carros usados de um ano atrás? Decerto exportados para os irmãos menos afluentes, pois aqui não cabe a pátina do tempo. No trajeto para o hotel, os famosos arranha-céus “mais altos do planeta” capturam a vista e causam estranheza. Eles crescem como cogumelos no horizonte inóspito. A motorista filipina, no seu inglês ininteligível, tenta obter informações sobre o caminho com o gerente de origem hindu. Nada se compreende e eles tampouco se entendem. Eu ainda não sabia, mas aquilo era uma amostra da falta de identidade, produto fora do mercado em Dubai.

Ao invés de um caldeirão cultural, em que as diversas raízes se interpenetram e se transformam, formando um atraente mosaico, nota-se um emaranhado de nacionalidades desconectadas entre si, que não conversam e não se comunicam. Pela proximidade geográfica, migrantes das áreas pobres da terra afluem para este trecho do Golfo Pérsico, que não passava de uma pequena aldeia com 20 mil habitantes vivendo do comércio até meados dos anos 1960, quando o petróleo jorrou. Trata-se, evidentemente, de um superlativo nunca citado, o das massas mais miseráveis da Índia, Paquistão e Filipinas que fogem da indigência para formar um exército de mão de obra não qualificada nesta máquina financeira. Eles habitam guetos – ou pelo menos assim suponho, pois tal qual uma Brasília do século XXI, ali os empregados existem apenas para servir, refluindo para a invisibilidade de cidades-satélites após o expediente. Dizem que moram em containers, ardendo no calor de quarenta e cinco graus, mas isso é um assunto que escapa da pauta. Porém, nem com o maior dos esforços se consegue pensar numa passeata, greve ou paralisação de trabalhadores. Porque eles não formam uma nação, não possuem um idioma nem laços em comum. São meros braços hiper explorados a desempenhar funções subalternas neste aglomerado que se impõe como uma cópia futurista e desfocada de Las Vegas.

Fruto do voluntarismo dos xeques da dinastia Al Maktoum, no poder desde o século XIX, Dubai esbanja torres envidraçadas, praias e ilhas artificiais, resorts e shoppings gigantescos, com badaladas marcas internacionais. Tudo induz ao consumo de luxo, passando a ideia de que os desejos mais extremos serão saciados, num turbilhão hedonista levado às últimas consequências. Mas se engana quem confunde tal frenesi com modernidade. Ali impera uma monarquia ditatorial, fincada numa leitura estreita do islamismo, que desrespeita os direitos humanos, ignora a liberdade de expressão, oprime a mulher, proíbe relações sexuais fora do casamento e mantém a população sob estrito controle. Nesse contexto, não é difícil imaginar os bastidores de lavagem de dólares, prostituição, contrabando de armas, pedras e outros males a sustentar a voracidade do consumismo emergente.

Aparência enganosa

No alto de um edifício, a efígie de dimensões exageradas de Mohammed bin Rashid Maktoum, que acumula as funções de primeiro-ministro e vice-presidente, vigia como o Grande Irmão de George Orwell. Culto à personalidade? Ninguém parece se importar com tais detalhes em meio a tantas lojas, restaurantes e locais de diversão. Quer um zoológico com pinguins em carne e osso? Vá ao Dubai Mall. Sonha com uma pista de patinação no gelo ou até rampas de esqui com neve? No Emirates Mall elas emulam a experiência de um passeio nos Alpes suíços que se erguem até o infinito do... teto de plástico, a laTruman Show.

Do ônibus vermelho, cópia dos congêneres londrinos, turistas deslumbrados admiram a paisagem urbana que se espalha entre viadutos, pontes e auto-estradas. Não há ruas, esquinas ou calçadas em que a gente caminha e se encontra. As altas temperaturas e a areia que cisma em aflorar nos terrenos ainda desocupados expõe a face real desta shopping-city que nega a natureza e a sabedoria ancestral dos povos do deserto, em vez de fazer delas sua aliada. Com exceção de uma ou outra ousadia arquitetônica digna de nota, o que se vê é um enfiado de construções sem estilo, de aparência enganosa, que não esconde o aspecto fake nem a falta de bom gosto e charme, num vácuo de qualquer coisa semelhante ao que chamamos de “espírito”. Indivíduos deslocados, expatriados, perdidos e sozinhos nesse caos aparentemente ordenado de um sistema que pulou direto da vila comunitária dos beduínos para o capitalismo do terceiro milênio - ou o que há de pior nele.

Não por acaso, no avião regressando de Amã, capital da Jordânia, cuja balbúrdia aparece como um bálsamo refrescante, pergunto a um passageiro de origem inglesa como ele consegue viver em Dubai. A resposta, dada após uma breve hesitação, vem afiada o bastante para compor o retrato que tão bem define este simulacro de sociedade: “O dinheiro”, diz ele, com um brilho falso nos olhos claros.
*Marcia Camargos é escritora com pós-doutorado em história pela USP. Tem 22 livros publicados, entre eles O Irã sob o Chador. Esteve recentemente em Dubai, em escala de viagem rumo à Jordânia e à Palestina. Artigo originalmente publicado pela Agência Carta Maior.

Wikileaks e o Ministro X-9

Embora com algumas controvérsias acerca da veracidade das informações, temos uma oportunidade importante para analisarmos e compreendermos a geopolitica mundial a partir dos "vazamentos" de documentos pelo site  wikileaks (http://wikileaks.org/). Um outro olhar acerca do desenvolvimento e das ações realizadas em escala global. Historicamente sabemos das formas e maneiras como determinados países realizam ingerências em outros e a rede mundial de computadores é um excelente instrumento para transparecer as "verdades", na maioria das vezes, encobertas pela grande mídia oligárquica.

Segundo informações veiculadas no Opera Mundi (http://operamundi.uol.com.br/index.php) teremos a contribução da jornalista Natalia Viana e a publicação em língua portuguesa de informações pertinentes ao Brasil e suas relações internacionais. Vale a pena conferirmos, acompanharmos e divulgarmos estas informações!

O ministro X-9


Os telegramas de Clifford Sobel nos deixaram, outra vez, descalços no quintal do império
Texto publicado no blog Brasília, eu vi

Uma informação incrível, revelada graças às inconfidências do Wikileaks, circula ainda impunemente pela equipe de transição da presidente eleita Dilma Rousseff: o ministro da Defesa, Nelson Jobim, costumava almoçar com o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Clifford Sobel para falar mal da diplomacia brasileira e passar informes variados. Para agradar o interlocutor e se mostrar como aliado preferencial dentro do governo Lula, Jobim, ministro de Estado, menosprezava o Itamaraty, apresentado como cidadela antiamericana, e denunciava um colega de governo, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, como militante antiyankee. Segundo o relato produzido por Clifford Sobel, divulgado pelo Wikileaks, Jobim disse que Guimarães “odeia os EUA” e trabalha para “criar problemas” na relação entre os dois países.

Para quem não sabe, Samuel Pinheiro Guimarães, vice-chanceler do Brasil na época em que Jobim participava de convescotes na embaixada americana em Brasília, é o atual ministro-chefe da Secretaria Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE). O Ministério da Defesa e a SAE são corresponsáveis pela Estratégia Nacional de Defesa , um documento de Estado montado por Jobim e pelo antecessor de Samuel Guimarães, o advogado Mangabeira Unger – com quem, aliás, Jobim parecia se dar muito bem. Talvez porque Unger, professor em Harvard, é quase um americano, com sotaque e tudo.

Após a divulgação dos telegramas de Sobel ao Departamento de Estado dos EUA, Jobim foi obrigado a se pronunciar a respeito. Em nota oficial, admitiu que realmente “em algum momento” (qual?) conversou sobre Pinheiro com o embaixador americano, mas, na oportunidade, afirma tê-lo mencionado “com respeito”. Para Jobim, o ministro da SAE é “um nacionalista, um homem que ama profundamente o Brasil”, e que Sobel o interpretou mal.

Como a chefe do Departamento de Estado dos EUA, Hillary Clinton, decretou silêncio mundial sobre o tema e iniciou uma cruzada contra o Wikileaks, é bem provável que ainda vamos demorar um bocado até ouvir a versão de Mr. Sobel sobre o verdadeiro teor das conversas com Jobim. Por ora, temos apenas a certeza, confirmada pelo ministro brasileiro, de que elas ocorreram “em algum momento”.

Mais adiante, em outro informe recolhido no WikiLeaks, descobrimos que o solícito Nelson Jobim outra vez atuou como diligente informante do embaixador Sobel para tratar da saúde de um notório desafeto dos EUA na América do Sul, o presidente da Bolívia, Evo Morales. Por meio de Jobim, o embaixador Sobel foi informado que Morales teria um “grave tumor” localizado na cabeça. Jobim soube da novidade em 15 de janeiro de 2009, durante uma reunião realizada em La Paz, onde esteve com o presidente Lula. Uma semana depois, em 22 de janeiro, Sobel telegrafava ao Departamento de Estado, em Washington, exultante com a fofoca.

No despacho, Sobel revela que Jobim foi além do simples papel de informante. Teceu, por assim dizer, considerações altamente pertinentes. Jobim revelou ao embaixador americano que Lula tinha oferecido a Morales exame e tratamento em um hospital em São Paulo. A oferta, revela Sobel no telegrama a Washington, com base nas informações de Jobim, acabou protelada porque a Bolívia passava por um “delicado momento político”, o referendo, realizado em 25 de janeiro do ano passado, que aprovou a nova Constituição do país. “O tumor poderia explicar por que Morales demonstrou estar desconcentrado nessa e em outras reuniões recentes”, avisou Jobim, segundo o amigo embaixador.

Não por outra razão, Nelson Jobim é classificado pelo embaixador Clifford Sobel como “talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil”. Não é difícil, à luz do Wikileaks, compreender tamanha admiração. Resta saber se, depois da divulgação desses telegramas, a presidente eleita Dilma Rousseff ainda terá argumentos para manter Jobim na pasta da Defesa, mesmo que por indicação de Lula. Há outros e piores precedentes em questão.

Jobim está no centro da farsa que derrubou o delegado Paulo Lacerda da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), acusado de grampear o ministro Gilmar Mendes, do STF. Jobim apresentou a Lula provas falsas da existência de equipamentos de escutas que teriam sido usados por Lacerda para investigar Mendes. Foi desmentido pelo Exército. Mas, incrivelmente, continuou no cargo. Em seguida, Jobim deu guarida aos comandantes das forças armadas e ameaçou renunciar ao cargo junto com eles caso o governo mantivesse no texto do Plano Nacional de Direitos Humanos a idéia (!) da instalação da Comissão da Verdade para investigar as torturas e os assassinatos durante a ditadura militar. Lula cedeu à chantagem e manteve Jobim no cargo.

Agora, Nelson Jobim, ministro da Defesa do Brasil, foi pego servindo de informante da Embaixada dos Estados Unidos. Isso depois de Lula ter consolidado, à custa de enorme esforço do Itamaraty e da diplomacia brasileira, uma imagem internacional independente e corajosa, justamente em contraponto à política anterior, formalizada no governo FHC, de absoluta subserviência aos interesses dos EUA.

Foi preciso oito anos para o país se livrar da imagem infame do ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer tirando os sapatos no aeroporto de Miami, em dezembro de 2002, para ser revistado por seguranças americanos.

De certa forma, os telegramas de Clifford Sobel nos deixaram, outra vez, descalços no quintal do império.




Leandro Fortes é jornalista, professor e escritor, autor dos livros Jornalismo Investigativo, Cayman: o dossiê do medo e Fragmentos da Grande Guerra, entre outros. Mantém um blog chamado Brasília eu Vi. http://brasiliaeuvi.wordpress.com/