Metamorfoses Históricas: História, livros, músicas, cinema e motos!

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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Quanto tempo o tempo tem.....


Quanto tempo o tempo tem.... Sempre é relativo..... Depende o que fazemos ou não queremos fazer, pode ser mais rápido que a luz ou mais demorado que o caminhar de uma tartaruga....

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Sala de aula


Em homenagens aos meus alunos e alunas do IFC!!! Sempre veremos o mundo de diferentes formas: vivemos aprendendo!!! Não esqueçam!

 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Metade dos jovens de 14 anos já superou escolaridade de suas mães

Avanços no acesso a educação contribuem para este processo, mas ainda temos uma enorme dívida social e histórica com milhões de adultos que não sabem ler nem escrever ou que possuem uma alfabetização em níveis inferiores ao desejado em nossa sociedade.
Facetas de um país que ainda requer ações que possibilitem uma redistribuição de riquezas para melhorar nossos índices sociais e a qualidade de vida da população. 

Metade dos jovens de 14 anos já superou escolaridade de suas mães
Por Amanda Cieglinski, da Agência Brasil


Mais da metade (51,45%) dos adolescentes de 14 anos do país já têm escolaridade superior à de suas mães. Entre os jovens dessa faixa etária, 71% cursam os três últimos anos do ensino fundamental e 9,5% estudam no ensino médio. Os dados indicam uma baixa escolaridade das mães de alunos dessa faixa etária que apresentam, em média, 7,32 anos.
O levantamento foi feito pelo programa Todos pela Educação e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números indicam que a atual geração de crianças e jovens está superando a trajetória escolar de seus pais, mas também confirmam a baixa escolaridade de boa parte da população adulta.
“Nós temos muitos pais e mães que são muito jovens e eles já são fruto dessa inclusão recente que o país promoveu. A melhoria ainda é lenta, mas o fato é que quanto mais avançado é o ano em que a criança nasceu, maior é a chance que ela tem de completar o ensino médio”, explica a diretora executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz.
O aumento dos anos de estudo gera um movimento positivo que causará impacto nas próximas gerações, diz Priscila.  Para ela, a educação é o melhor investimento porque nunca retroage. “É muito difícil você encontrar alguém que admita que o filho tenha uma escolaridade menor do que a sua. Uma mãe que concluiu o ensino médio e um filho que não completou o ensino fundamental, por exemplo. São casos raríssimos”, acrescenta.
Os dados compilados pela entidade também apontam a diferença de escolaridade entre famílias de alunos de escolas públicas e privadas. Enquanto, aos 14 anos, 60% dos estudantes da rede pública já atingiram a escolaridade de suas mães, na rede privada o percentual cai para 10%. Isso indica que as mães dos alunos dos estabelecimentos particulares têm escolaridade mais elevada. O mesmo cenário se repete na comparação entre famílias mais pobres e mais ricas.
A diferença entre os anos de estudo de pais e filhos também pode representar um obstáculo no desempenho do aluno. Pais menos escolarizados em geral se sentem despreparados para participar da vida escolar do filho. “Ele se sente acuado, acha que não pode ajudar e se envolver com os estudos do filho. Mas o importante é que a educação seja valorizada pela família, que ele seja um parceiro da escola para garantir que seu filho de fato aprenda”, pondera Priscila.
Entre estudantes negros de 14 anos, o percentual daqueles que estudaram mais do que suas mães é 56,33%, enquanto entre os brancos a taxa é quase 10 pontos percentuais menor. Segundo Priscila, o dado aponta que além do fator renda, há uma diferença de escolaridade entre mães negras e brancas – o primeiro grupo frequentou menos a escola do que o segundo.
A mesma desigualdade se verifica entre as regiões do país: enquanto no Sudeste menos da metade (47%) dos alunos de 14 anos atingiu a escolaridade de suas mães, no Nordeste esse grupo representa 58% da população nessa faixa etária.“A parte mais cruel da educação brasileira é a desigualdade. Em vez de ser um meio de superação, ela acaba reproduzindo e ampliando esse fosso”, avalia a diretora.



terça-feira, 8 de novembro de 2011

Grandes questões - ciência entre o passado e o presente

Livro conecta descobertas emblemáticas do passado aos movimentos da ciência da atualidade, mostrando como o conhecimento científico caminha de forma dinâmica e conectada e é fruto de um contexto histórico específico.

Por: Daniela Oliveira
Publicado em 08/11/2011 | Atualizado em 08/11/2011


Por trás das buscas do Grande Colisor de Hádrons, maior acelerador de partículas do mundo, estão conhecimentos filosóficos milenares, que vêm desde Demócrito, o risonho, autor da primeira teoria atômica e retratado pelo pintor suíço Petrini. (foto: Cern)

A avidez para entender o mundo tem resultado em incontáveis descobertas científicas. Esse ‘jogo’ dinâmico de perguntas e respostas envolve inúmeros fatores: determinação, curiosidade, criatividade, dinheiro, empreendedorismo e até mesmo sorte. No entanto, um deles acompanha todo o processo de construção do conhecimento: o contexto histórico.

Essa íntima relação entre ciência e as transformações históricas vividas pelas sociedades está retratada em Uma história da ciência: experiência, poder e paixão, de Michael Mosley e John Lynch, respectivamente produtor executivo dos programas de divulgação da ciência e diretor da área científica da BBC, a emissora britânica de rádio e TV.

Capa Uma história da ciência

Lançado este ano pela editora Zahar, o livro teve origem em série homônima produzida em 2010 pela emissora, com seis episódios sobre as principais teorias e pensadores relacionados ao cosmo, à matéria, à vida, à energia, ao corpo e à mente.

Dividido nas mesmas categorias, Uma história da ciência conecta descobertas emblemáticas do passado aos movimentos da ciência da atualidade. Os autores lembram, por exemplo, que o telescópio espacial Hubble, cujas imagens revolucionaram a visão que se tem hoje sobre o cosmo, só pode ser posto em órbita, em 1990, graças à aplicação prática dos conhecimentos gerados por Galileu Galilei sobre mecânica dos projéteis, por Johannes Kepler sobre o movimento planetário e por Isaac Newton sobre a gravidade.

O mesmo se aplica a um dos mais portentosos projetos científicos em andamento: o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), maior acelerador de partículas do mundo. Por trás da tentativa de recriar as condições logo após o Big Bang estão conhecimentos filosóficos milenares, que vêm desde Demócrito, o risonho, nascido por volta de 460 a.C. e autor da primeira teoria atômica de que se tem notícia. Assim como descobrir as substâncias que originaram e que sustentam o mundo foi também uma obsessão para alquimistas chineses de mais de dois mil anos.

O interesse pela matéria gerou a descoberta dos elementos, das substâncias e de compostos químicos de todos os tipos e para os diferentes fins, bem como a síntese de novos materiais. Nomes como Antoine Lavoisier, a quem se atribui a descoberta do oxigênio, Ernest Rutherford e Niels Bohr, precursores no estudo do átomo, ficaram para a história do estudo da matéria. Mas ainda não sabemos de que é feito o mundo – e, como observam Mosley e Lynch, talvez nunca saibamos.
 

E quanto a nós?


Se o mundo onde vivemos gera tanta inquietude, o que dizer das reflexões a respeito de nossa própria vida? Questionamentos sobre quem somos e como chegamos aqui começaram a aparecer principalmente após a descoberta do Novo Mundo.

Tal necessidade de entender melhor a vida acabou por gerar tentativas de ordenar o mundo natural. O sistema de classificação das plantas proposto por Carl Linnaeus no século 18, empregado até hoje, é um exemplo. Contra a ideia da intervenção de um criador divino para cada ser vivo do planeta, foi preciso formular teorias da evolução das espécies.

Já o interesse pela anatomia e pelo funcionamento do corpo humano, aliado ao advento do microscópio, permitiu chegarmos às células e à estrutura da molécula, o que gerou respostas e novas questões sobre o segredo da vida.

E não só o corpo, mas também a mente despertou o interesse da ciência desde a antiguidade, na tentativa de se compreender a identidade e as motivações humanas. No entanto, essa busca só se concentrou no cérebro muito recentemente, com os avanços obtidos após a descoberta do neurônio e da complexa rede de sinais que compõem o sistema nervoso.

Como podemos ver, o caminho trilhado pelos grandes cientistas para chegar a respostas para as grandes perguntas da humanidade é longo e complexo, sujeito à ação de diferentes variáveis. Mas, como ressaltam Mosley e Lynch, cada explicação oferecida pela ciência – seja ao olharmos para o mundo lá fora ou para dentro de nós mesmos – é, em larga medida, produto de seu tempo.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Identificada rede capitalista que domina o mundo

Muito interessante este estudo e abordagem que busca reconhecer as instituições que concentram poderes econômicos no mundo contemporâneo.

Identificada rede capitalista que domina o mundo

A revista New Scientist acaba de identificar, naquilo que eu chamaria de furo de reportagem, a rede capitalista que domina o mundo. Trata-se de um estudo que juntou três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça (*).

O resultado foi um gráfico que revela  as interconexões entre 1.318 empresas transnacionais e torna mais nítido o alvo do pessoal que ocupa praças e ruas – inclusive a simbólica Wall Street – em protesto, muitas vezes sem saber contra quem  estão protestando.

Os pesquisadores do Instituto de Lausanne partiram de uma análise, já afunilada, de 43.060 empresas e concluiu que um pequeno número delas tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global. Entre elas destacam-se sobretudo os bancos, o que não seria uma grande novidade.

De qualquer forma este parece ser o primeiro estudo sobre a onda de protestos que varre o planeta despido de qualquer viés ideológico, político ou mesmo sociológico.

A análise usa a mesma matemática empregada há décadas para criar modelos dos sistemas naturais e para a construção de simuladores dos mais diversos tipos. Agora ela foi usada para estudar dados corporativos disponíveis mundialmente.

Estudos anteriores já haviam identificado que algumas poucas empresas controlam grandes porções da economia, mas esses estudos incluíam um número limitado de empresas e não levavam em conta os controles indiretos de propriedade.

Não poderiam assim ser usados para dizer como a rede de controle econômico poderia afetar a economia mundial – tornando-a mais ou menos instável, por exemplo.

O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de quem analisou uma base de dados com 37 milhões de empresas e investidores.

A análise identificou 43.060 grandes empresas  e traçou as conexões de controle acionário entre elas, construindo um modelo de poder econômico em escala mundial.
Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de 1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas— na média, cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.

Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentre apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm a maioria das ações das principais empresas do mundo – as chamadas blue chips nos mercados de ações.

Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo. E isso não é tudo.
Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede de propriedades cruzadas, eles identificaram uma “super-entidade” de 147 empresas intimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total daquele primeiro núcleo central de 1.318 empresas. “Na verdade, menos de 1% das companhias controla 40% da rede inteira,” diz um dos
pesquisadores.
E na maioria são bancos.

As primeiras análises feitas pela New Scientist, reproduzidas no Brasil pelo site Inovação Tecnológica, sugerem que a concentração de poder e influência em si não é boa e nem ruim, mas essa interconexão pode ser.

Desde a crise de 2008 está provada a instabilidade dessas redes: basta que um dos nós tenha um problema sério para que o problema se propague automaticamente por toda a rede.
Os pesquisadores suíços ponderam, contudo, que essa super-entidade não deve agir dentro de algum tipo de conspiração. Afinal 147 empresas seria um número grande demais para sustentar um conluio qualquer. Mesmo porque muitas vezes elas são concorrentes diretos entre si.

A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo global de poder econômico pode exercer um poder político centralizado intencionalmente.

Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre si no mercado, mas agem em conjunto no interesse comum – e um dos maiores interesses seria resistir a mudanças na própria rede.

As 25 primeiras das 147 empresas transnacionais super conectadas
1.      Barclays plc
2.      Capital Group Companies Inc
3.      FMR Corporation
4.      AXA
5.      State Street Corporation
6.      JP Morgan Chase & Co
7.      Legal & General Group plc
8.      Vanguard Group Inc
9.      UBS AG
10      Merrill Lynch & Co Inc
11.     Wellington Management Co LLP
12.     Deutsche Bank AG
13.     Franklin Resources Inc
14.     Credit Suisse Group
15.     Walton Enterprises LLC
16.     Bank of New York Mellon Corp
17.     Natixis
18.     Goldman Sachs Group Inc
19.     T Rowe Price Group Inc
20.     Legg Mason Inc
21.     Morgan Stanley
22.     Mitsubishi UFJ Financial Group Inc
23.     Northern Trust Corporation
24.     Société Générale
25.     Bank of America Corporation

Bibliografia:
(*) The network of global corporate control
Stefania Vitali, James B. Glattfelder, Stefano Battiston

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O fazer histórico ganhou diferentes contornos ao longo das últimas décadas, que possibilitaram novos personagens, situações e contextos entrarem em cena. Fazer parte da história não é algo mais exclusivo dos grandes personagens oficiais da história, também oficial. A reportagem abaixo nos possibilita entender um pouco destas mudanças teóricas e conceituais. 

 A vez da história oral

                                    
“A história oral conquistou definitivamente seu espaço”, acredita José Carlos Bom Meihy, um dos pioneiros no uso da técnica para reconstruir o passado. Professor titular aposentado do Departamento de História da USP e coordenador do Núcleo de Estudos em História Oral, da mesma universidade, Meihy acredita que ela tenha se tornado um elo entre a academia e a vida fora dos muros escolares. Segundo o pesquisador, o Brasil assumiu mundialmente “um papel de destaque” neste tipo de estudo. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida a 

CartaCapital.

CartaCapital: Qual a situação da história oral no Brasil?

José Carlos Sebe Bom Meihy: Não seria errado dizer que assumimos mundo afora papel de destaque tanto em termos numéricos quanto na discussão teórica e produção de resultados publicados. Autores como o italiano Alessandro Portelli e o norte-americano Ronald Grele costumam repetir que o Brasil é uma caixa de ressonância dos avanços de estudos feitos sobre história oral no mundo. Aqui se reverberam tendências amplas. A ABHO, fundada em 1994, é um laboratório aglutinador de investidas que revelam a popularidade da prática que, aliás, extrapola o âmbito das universidades.

CC: Pode-se falar da existência de uma história oral brasileira?

JCSBM: A história oral apenas floresce em espaços democráticos. Durante a ditadura, entrevistas livres padeciam de limites, pois eram aproximadas dos “depoimentos”, com implicações severas. Foi apenas a partir dos anos 1980 que pesquisadores de países da América Latina ampliaram seu trabalho com entrevistas. Uma das linhas inaugurais da nossa história oral foi justamente com tipos sociais enjeitados pelo regime anterior. Assim, os primeiros trabalhos sobre história oral entre nós nasceram fora do País, versando sobre a “memória dos exilados”. A busca de compensação do “tempo perdido” sugeriu uma série de traduções que serviram para fomentar diálogos. Estudos sobre mestiçagem, presença indígena, a problemática específica da mulher brasileira e, principalmente, o resultado de processos migratórios em nossa cultura obrigaram a uma relativização dos padrões externos, ainda que muitos insistam em arremedos criticáveis. Não há como negar uma história oral feita no Brasil, mas ela tem mais a ver com a configuração de matrizes latino-americanas do que estadunidense ou europeia. Procedeu-se a uma descolonização dos modelos externos.

CC: Como definir história oral e qual sua relação com a escrita?

JCSBM: A história oral realiza-se num ciclo que parte da existência de um projeto, passa pela definição do grupo a ser entrevistado e depois de efetuada a gravação tem de ser vertida para o código escrito. É fundamental assumir a existência de dois códigos diferentes: a fala e a escrita. Mesmo projetos que se esgotam na recolha de gravações orais para se constituírem em “bancos de histórias” devem ter correspondentes escritos. O trabalho de transcrição leva em conta que entrevista é mais do que diálogo. Todo o gestual, lágrimas e silêncios fazem parte da performance.

CC: O autor da história oral é o entrevistado ou quem publica?

JCSBM: É um trabalho feito em colaboração. Duas partes se completam na produção de resultados que geram um documento. O trabalho começa com o narrador estimulado a contar. O ouvinte, além de animar a conversa, deve ser o “tradutor” da fala. Por sua vez, o texto só tem sentido se for autorizado para publicação e uso. Há, portanto, fases de controle: quem fala, quem transcreve, a autorização, que pode ser total ou parcial, mas é sempre negociada, e a publicação. Juridicamente, o responsável pelo projeto é o autor, pois se responsabiliza e se beneficia com o produto final.

CC: O que diferencia a entrevista na história oral daquelas praticadas por jornalistas, antropólogos e sociólogos?

JCSBM: Não é válido supor que gravações de entrevistas sejam invenção nova, mas os modos de produção e o destinatário divergem. Deve-se levar em conta que a entrevista jornalística tem como objetivo o esclarecimento público de algum evento. O que se busca é a combinação do caráter informativo com o testemunho. A história oral difere por se preo-cupar com a narrativa em seus aspectos subjetivos. As narrativas de história oral implicam desvios, inexatidões, variações, -deformações. Isso tudo faz parte dos efeitos da oralidade que é expressão da memória advinda de encontros no “tempo presente”. De fato, é exatamente a variação que interessa, pois, verbalmente expressa, a memória é sempre seletiva, dinâmica e suscetível. A prática da entrevista em história oral herdou muito da entrevista antropológica, mas, no caso dessa, a participação do entrevistador é mais dominante do que no caso dos oralistas. Os oralistas devotam cuidados interpessoais no estabelecimento do texto. Os sociólogos que se valem das entrevistas, por sua vez, sentem-se mais à vontade para fracionar o uso do discurso.

CC: Como tratar questões de desvios, invenções, alteração da verdade, mentira, silêncio em história oral? Ou seja, existe confiabilidade nas entrevistas?

JCSBM: A exposição dessas variações é o patrimônio maior possibilitado pela história oral. Notar “desvios”, propositais ou não, implica dar passagem para o imaginário e para a vocação utópica das narrativas. Da mesma forma, os silêncios, interrupções, fazem com que a narrativa ganhe sentido em sua significação subjetiva. Além do trabalho de “tradução” do oral para o escrito, que deve incorporar essas situações, advoga-se a qualidade do texto que deve levar em conta o receptor. Com isso critica-se o ipsis litteris, ou a transcrição dita fiel. Há critérios na produção do texto e, sobretudo, para a legitimação, ou autorização dada pelo colaborador. Essa autorização é vital para qualificar a identidade do narrador com sua expressão.

CC: Qual o futuro da história oral?

JCSBM: A história oral conquistou definitivamente seu espaço. Seja na academia, seja no âmbito da história pública, dos meios empresariais ou familiares, há lugar para trabalhos que registram e assim propõem sentido às experiências. Na universidade, reino privilegiado dos documentos escritos, a história oral demorou a se impor. Contudo, a institucionalização do trabalho com entrevistas é um fato irreversível. Por outro lado, benefício decorrente, a história oral se impôs também como elo entre o trabalho acadêmico e a vida fora dos muros escolares. Em direção contrária, também é justo apontar o reconhecimento crescente que os trabalhos comunitários têm feito, valendo-se dos ensinamentos e práticas acadêmicas.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/carta-na-escola/a-vez-da-historia-oral

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Alunos e professores amigos no Facebook?

O universo virtual, quase como um dimensão paralela em nossas vidas, possibilita a interação entre diferentes sujeitos e a discussão que passa a ocorrer sobre os limites da virtualidade são interessantes, muitas delas. O caso citado na reportage abaixo é um inidicativo das fronteiras existentes ainda entre o mundo real e virtual e o espaço escolar, que muitas vezes limita seu mundo aos muros que cercam a escola. Sabemos como lidar com estas ferramentas virtuais e seus usos?

Alunos e professores amigos no Facebook?

Os professores são o novo alvo do Facebook, rede social que, com sete anos de vida, reúne pelo menos 750 milhões de usuários em todo o mundo – no Brasil eram 6 milhões em 2010, data do último dado oficial. De olho no universo escolar, a empresa de Mark Zuckerberg criou uma espécie de “manual de uso”. Gratuito para download, o guia Facebook for Educators (disponível ainda apenas em língua inglesa) traz 18 páginas com orientações e possibilidades de uso em sala de aula elaboradas por dois consultores em educação e tecnologia, Linda Fogg Phillips e Derek Baird, além do psicólogo BJ Fogg. A proposta chega no momento em que as questões ligadas à internet estão em efervescência na escola. Afinal, as redes sociais devem ou não ser usadas para fins educativos?

A polêmica é grande. Inclusive, em países com altíssima difusão das redes sociais, como os Estados Unidos. Para se ter uma ideia do imbróglio, o estado norte-americano do Missouri aprovou uma controversa lei que, em tese, restringe a interação entre professores e alunos em redes sociais. Apelidado de “Ato Amy Hestir de Proteção ao Estudante”, a lei proíbe que professores mantenham conversas on-line não públicas com alunos, como acontece no chat do Facebook ou via Direct Message no Twitter, por exemplo.

No Brasil, o terreno também é arenoso, já que ainda não existe uma legislação específica para a internet. No caso das redes sociais, há um contrassenso. Embora seja comum professores “adicionarem” seus alunos – e vice-versa –, na maioria das escolas Facebook, Orkut ou MSN são programas bloqueados. É possível ignorar que essa comunicação exista e separá-la do ambiente escolar? “Vivemos em uma sociedade em que estar conectado é parte da vida de todas as pessoas. A aproximação entre alunos e professores nesse contexto é possível e válida, mas é preciso pensar que tipo de relação estabelecer. Afinal, a mediação da relação entre professores e alunos é profissional”, aponta Lilian Starobinas, doutoranda da Faculdade de Educação da USP e pesquisadora da Escola do Futuro. A especialista acredita que as redes sociais podem ser usadas como ferramentas pedagógicas. Além de ajudar os alunos a fazer uso consciente da rede, o professor poderia encontrar maneiras de agregar valor educacional ao uso da rede social, como, por exemplo, a criação de um perfil de personagem histórico no Facebook para interagir com os alunos.

O GUIA
Dividido em sete capítulos, o manual traz orientações que vão desde a elaboração de uma política específica para uso de redes sociais na escola até explicações que desmistificam o funcionamento da rede. No documento é possível encontrar informações detalhadas sobre o que é “perfil”, “página” e “grupo”, além de orientações sobre configurações de privacidade.

De acordo com Linda Phillips, autora também de Facebook for Parents (Facebook para Pais), “a necessidade de um guia específico que abordasse as preocupações dos educadores e ensinasse como utilizar o Facebook dentro do processo educacional era óbvia”. Lilian Starobinas ressalta que o professor precisa saber claramente a maneira de atuar nas redes sociais: “Conhecer tanto a dinâmica dos relacionamentos quanto da circulação da informação”.

REGRAS NA REDE
Conhecer melhor ferramentas como o Facebook é uma preocupação das escolas que estão buscando se conectar com as novas tecnologias. Renata Americano, coordenadora pedagógica do Fundamental I da Escola Viva, conta que, principalmente no caso dos alunos mais novos, a instituição particular localizada em São Paulo recomenda ir com calma. “A gente não tem como gerenciar tudo isso”, explica.

A necessidade de se interar sobre as redes sociais levou a escola a buscar uma consultoria jurídica no assunto. Além de conversar com os pais dos alunos, a recomendação estabelecida foi que os professores não adicionassem alunos como “amigos” em seus perfis pessoais – para os que já haviam feito isso, o pedido foi que removessem os alunos da rede de amizades virtuais. Segundo a coordenadora, a medida é cautelar. “Não somos contra a tecnologia, mas o Facebook ainda é um espaço que estamos tentando entender”, esclarece.

Também localizada em São Paulo, a escola Stance Dual optou por não restringir a interação de professores e alunos via rede social. A escola trabalha com ferramentas da internet e costuma realizar atividades com os estudantes nesses espaços há cinco anos. Apenas o MSN é bloqueado. No começo do ano, foram comprados 26 laptops para serem usados também dentro da sala de aula. Por conta disso, a escola realizou um treinamento com todos os professores, orientando-os sobre o uso das ferramentas disponíveis na rede. “É uma forma de os professores também participarem dessa formação do aluno”, defende Cláudia Mandaio, assistente de tecnologia de informação da instituição.

Apesar de não ser uma política oficial, a coordenação da Stance Dual apenas recomenda que os professores criem perfis específicos para se comunicarem com os alunos no ambiente virtual, o que evitaria a exposição da vida pessoal do educador. Foi o que fez a professora de Teatro, Barbara Araújo, ao adotar a ferramenta como suporte para a construção do roteiro de uma peça teatral. A princípio, as duas turmas do 9º ano do Ensino Fundamental optaram por escrever o roteiro com a ferramenta de edição de texto oferecida pelo Google – o Google Docs. Entretanto, como não tinham o costume de utilizar o Docs, os estudantes acabavam não interagindo entre si ou com a professora.

A solução partiu de uma aluna, que sugeriu o Facebook. Depois de criar um perfil só para a função, Barbara criou um grupo- para as classes. “Todo mundo pode escrever, participar e editar, vira um texto realmente coletivo”, analisa. Além disso, a professora aponta que o uso do Facebook agilizou a produção: “Antes precisava digitar, ler, imprimir. No Facebook eu tenho a resposta na hora, porque os alunos estão sempre lá”. No entanto, a educadora admite que a experiência não teria sido tão positiva, caso ela tivesse compartilhado seu perfil pessoal. “O Facebook ainda é um jogo entre o público e o privado”, reflete.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

6 e 8 de agosto de 1945 - Não esquecermos jamais!!

Hiroshima e Nagasaki - Genocídio nuclear

Nos dias 06 e 08 de agosto de 1945 as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, foram bombardeadas com artefatos nucleares. A primeira vez na história humana que tal arma foi jogada sobre populações civis ou militares.

Era necessário tal atitude por parte do governo dos EUA? Observando e analisando o contexto da 2ª Guerra Mundial, veremos que não. Mais um genocídio que ganhou outros nomes na história humana.


quarta-feira, 27 de julho de 2011

quarta-feira, 13 de julho de 2011

13 de Julho - Dia Mundial do Rock!!!!

Dia Mundial do Rock!!!! 13 de julho


Em 13 de julho de 1985, Bob Geldof organizou o Live Aid, um show simultâneo em Londres, Inglaterra e na Filadélfia nos Estados Unidos.

O objetivo principal era o fim da fome na Etiópia e contou com a presença de artistas como: The Who, Status Quo, Led Zeppelin, Dire Straits, Madonna, Queen, Joan Baez, David Bowie, BB King, Mick Jagger, Sting, Scorpions, U2, Paul McCartney, Phil Collins (que tocou nos dois lugares), Eric Clapton e Black Sabbath.


terça-feira, 12 de julho de 2011

A Copa do Mundo é nossa?

A Copa do Mundo é nossa? Relembrando a canção que embalou a sociedade na década de 1970 com o tricampeonato mundial de futebol, é de se pensar, questionar, indignar e criticar o processo que esta ocorrendo com a copa no Brasil em 2014. Ainda não consegui encontrar justificativas que me convençam dos ganhos que teremos com este evento no país.

O exemplo do Pan do Rio de Janeiro, já seria o bastante para que outras eventos deste porte fossem sediados no Brasil, pelos custos e pouco impacto social. A Copa do Mundo é nossa? Minha não é, com certeza!

O “Jogo” da Fifa

Por Eliomar Coelho - 03 de julho de 2011

Em recente entrevista, o engenheiro responsável pela reforma do Maracanã, Ícaro Moreno Jr., tenta justificar a reforma do estádio. Seus argumentos, porém, não convencem. Ele defende abertamente que é necessário “jogar o jogo da Fifa”. Pois é aí, justamente, que mora o perigo.

Para realizar a Copa do Mundo é necessário um investimento enorme para atender as exigências do caderno de encargos da Fifa. A cada Copa que passa, as exigências vêm aumentando. E os elefantes brancos, herdados pelas cidades que gastam fortunas para construir estádios, também. A África do Sul, palco do último encontro mundial das seleções, que o diga.

O Brasil, infelizmente, está no mesmo caminho. Vejam o exemplo de Manaus. Lá, os times locais sequer disputam a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro e os seus jogos não mobilizam mais do que uma dezena de milhares de espectadores. Muito pouco, se compararmos a um estádio de, no mínimo, 45.000 lugares, que a Fifa exige para sediar um dos grupos da competição. No entanto, Manaus foi escolhida e está gastando muito dinheiro para construir um estádio novinho em folha. Vale a pena? Qual a utilização que será dada ao estádio após a realização da Copa?

Uma coisa é certa. Só a Fifa lucra com o megaevento. Na última Copa, os ganhos com a venda de transmissão dos jogos e receitas de marketing ultrapassaram os 4 bilhões de dólares. A Fifa não gasta, recolhe. Quem põe a mão no bolso para pagar obras que atendam aos parâmetros estabelecidos pelos cartolas da entidade é o erário. E haja dinheiro. Isto sim é que é “jogar o jogo da Fifa”.

A farsa – ou farra? – começou há dois anos. Por ocasião da escolha do Brasil como país-sede, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, afirmou, para justificar o alto investimento exigido pela Fifa, que a Copa seria viabilizada com grana da iniciativa privada. Onde está esse dinheiro? Alguém viu algum empresário se mexer? Até agora, no entanto, o que se vê é a iniciativa privada ganhar muito dinheiro público para tocar as obras.

Esta é a lógica que move os megaeventos: apropriação, pelo grande capital, dos espaços e recursos públicos. E a coisa vai piorar, conforme as datas dos eventos se aproximem e as obras, para variar, continuem atrasando. Pronto, está criada a desculpa para novo aporte de recursos estatal. Este filme é velho – já o vimos no Pan de 2007 – e está sendo reprisado por conta da Copa de 2014 a as Olimpíadas de 2016. A reforma criminosa e milionária do Maracanã é um dos mais perversos exemplos.

A Fifa, entidade secular, tem sido envolvida em vários escândalos. O último foi por conta de supostas compras de votos de alguns de seus dirigentes para a escolha das sedes das próximas Copas. Alguma coisa foi apurada? Nada.

E por quê? Porque a velha senhora dona Fifa não reconhece qualquer ação movida na justiça comum que diga respeito a seus assuntos internos. Por exemplo, o time que ousar recorrer à justiça dos mortais para defender seus direitos é ameaçado de banimento de todas as competições. Nem a ONU tem tanta autonomia e poder.

Pois é esta entidade que vai “governar” nosso país durante a realização da Copa. A cessão temporária da soberania nacional à Fifa, que poderá exercer as funções de governo interventor no período, é uma das exigências dos encargos da Copa.

Ou seja, em última instância, os estados que abrigarem os jogos da Copa serão comandados pelo Sr. Josepp Blatter, presidente reeleito da entidade máxima do futebol. Aqui, cabe o velho ditado: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Eliomar Coelho (PSOL) é vereador no Rio de Janeiro e esteve a frente da CPI do PAN encaminhada em 2007

Fonte: http://carosamigos.terra.com.br/

terça-feira, 7 de junho de 2011

A educação à prova no Brasil!!

Se contarmos o período de nossas vidas que passamos em sala de aula, em especial aqueles ou aquelas que chegaram ou chegarão a concluir o ensino superior, muitas milhares de horas temos em nossa bagagem.


Estando nos últimos anos na posição de professor e não mais de aluno, observo como as coisas mudaram no campo educacional, no que se refere ao chão da sala da de aula, com o crescente sucateamento das escolas e da própria formação do docente.

Estatisticas e mais estatitiscas mostram como nossa realidade educacional esta na UTI e como a recuperação é lenta demais, sempre a décadas de descaso e abandono. Os últimos anos aconteceram avanços, mas como o texto abaixo bem aponta, ainda é muito pouco sempre a nossas dificuldades.

Em um contexto de lutas, com greves e paralisações por todo Brasil, precisamos cobrar cada vez mais que se efetivem os financiamentos necessários aos processos de escolarização, sempre lembrando que não se gasta dinheiro em educação, mas sim se faz um investimento!

A Educação e a prova dos nove

 

Apesar de inúmeros avanços nos últimos anos, estamos apenas caminhando em uma área na qual o País precisaria estar voando. O que impera é não só o dissenso, fustigado pelo obscurantismo, como uma disputa sobre o papel do sistema público, seu peso no orçamento do Estado e sua relação com o mercado da educação, um dos mais rentáveis do País.

Ao contrário do que parece, não existe e nunca existiu no Brasil o propalado consenso sobre a importância da educação. O que impera é não só o dissenso, fustigado pelo obscurantismo, como um disputa sobre o papel do sistema público, seu peso no orçamento do Estado e sua relação com o mercado da educação, um dos mais rentáveis do País.

É curioso, mas dificilmente fruto de uma mera coincidência, que o fogo cruzado contra o ministro da Educação, Fernando Haddad, tenha se intensificado justamente quando o debate sobre o Plano Nacional de Educação e sobre o futuro de suas políticas no País deveria ser o mais relevante a ser travado neste momento.

Apesar de inúmeros e significativos avanços nos últimos anos, estamos apenas caminhando em uma área na qual o País precisaria estar voando.

O principal obstáculo decorre do fato de que a educação sofreu um profundo processo de fragmentação, confusão gerencial, subfinanciamento, desmonte de suas estruturas e desarticulação dos setores defensores do sistema público.

A Constituição de 1988 promoveu uma positiva institucionalização da autonomia dos sistemas estaduais, municipais e da universidade. Promoveu a descentralização e a expansão da oferta de vagas, rumo à quase universalização do ensino fundamental.

Todavia, sobretudo a partir dos anos 1990, o federalismo brasileiro passou por um processo de grave distorção. A falência econômica de muitos Estados, por conta de gestões irresponsáveis ao longo dos anos 1980, e suas políticas de terra arrasada (torrar recursos e deixar a casa destruída para governos seguintes) levaram a um contexto favorável ao ajuste fiscal rígido.

Estados e Municípios foram obrigados a reduzir custos, e a educação foi um dos setores prioritários da operação-desmonte. Salários dos professores foram achatados e proliferaram os contratos temporários. Muitos se tornaram “concurseiros”, policiais, funcionários de bancos, analistas de carreiras vinculadas à gestão da máquina do Estado (tributação, orçamento, administração) e tudo o que, com salários bem mais elevados, demonstrava que a educação não era prioridade.

Ao mesmo tempo, escolas desmoronavam sobre a cabeça de alunos e professores. O ensino técnico havia sido abandonado. O ensino médio, excluído do Fundef, foi deixado à míngua. A maioria dos governadores, na prática, abandonou por completo seu compromisso com a educação, preferindo redirecionar a missão essencial dos Estados às políticas de desenvolvimento econômico, com estímulo à guerra fiscal e obsessão por atrair empresas e e empreendimentos que guardariam relação direta com o financimento de campanhas políticas.

A educação chegou ao fundo do poço, e é por isso que ainda é tão difícil esperar que ela dê saltos. Cada tentativa tem o provável resultado de bater com a cabeça na parede.

A fragmentação é tal que há diferenças muito pronunciadas de desempenho entre Estados vizinhos, em uma mesma região, e mesmo de escolas vizinhas, em um mesmo município. A depender do governador, do prefeito e até do diretor, a cada quatro anos tudo pode ser perdido, e a educação passar do vinho ao vinagre. Avanços de uma gestão podem ser revertidos pelas gestões seguintes.

O governo Lula patrocinou grandes conquistas, sob o comando do ministro Haddad. Elevou o gasto com educação e transformou o Fundef em Fundeb, finalmente abrangendo o Ensino Médio. Lula também tomou a decisão crucial de suspender a Desvinculação das Receitas da União (a famigerada DRU), que diminuía o valor dos recursos a serem repassados para a educação. Desde 2003, foram construídos 214 centros de formação profissional e tecnológica, mais do que os 140 erigidos desde 1909. Há 14 novas universidades, além de mais de 30 novos campi ligados às universidades já existentes.

O Judiciário brasileiro também deu uma contribuição importante, recentemente, derrotando cinco governadores que haviam pedido a decretação da inconstitucionalidade do piso salarial dos professores estabelecido nacionalmente.

Reverteu-se a absurda situação anterior, na qual, em nome da “responsabilidade” fiscal, o Governo Federal se desincumbia de cumprir sua responsabilidade com a educação.

O fato de o Brasil ocupar, segundo a Unesco, o 88º lugar, entre 127 países, e o 53º, entre 65 países pesquisados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), tem muito a ver com o fato de a educação ser, igualmente, não a primeira, mas a 53ª ou a 88ª prioridade de muitos governos estaduais e municipais.

É fácil jogar toda a culpa, ou a maior parte dela, sobre o Ministério da Educação (MEC), e mais especificamente, sobre os ombros do ministro Fernando Haddad. Fácil, mas simplista.

Certamente, o MEC cometeu vários erros. O ministério não se empenhou por consolidar a coalizão de defesa do sistema público para além de suas reuniões com outros governos. Demorou muito para fazer a Conferência Nacional de Educação e está longe de ter uma boa relação com as organizações nacionais de professores. Não priorizou o tema da gestão democrática, verdadeira pedra de toque da autonomia do ensino, mas que precisa de parâmetros claros para que não seja mais um ingrediente de desagregação do sistema.

Também não conseguiu estabelecer uma nova estratégia de relacionamento com Estados, Municípios e DF. Hoje, a política do Governo Federal para a educação não é uma política de educação nacional. O que existe são diferentes políticas educacionais espalhadas pelo país, e o esforço do MEC no sentido de harmonizá-las por estratégias de apoio e cooperação.

Mas os ataques que Haddad tem sofrido ultimamente vêm de quem nunca o aplaudiu, quando de seus acertos. A coalizão que mira no MEC quer acertar na testa destes avanços proporcionados em menos de uma década

Quem conhece um pouco da história da educação no Brasil sabe que inúmeras tentativas de transformá-la mais profundamente são estigmatizadas com pesadelos e fantasmas.

Por exemplo, nos anos 1930, o prefeito do Distrito Federal, Pedro Ernesto, chamou para conduzir seu projeto de reforma do ensino ninguém menos do que o honorável Anísio Teixeira, velho batalhador da educação pública, laica e inovadora. Ambos criaram, como modelo, a Universidade do Distrito Federal. Entre em seus quadros, estavam nomes que reinventaram as ideias sobre o Brasil, como Sérgio Buarque de Holanda, Cândido Portinari, Heitor Villa Lobos, Cecília Meirelles, Álvaro Vieira Pinto, Josué de Castro, Gilberto Freyre e Mário de Andrade. Portanto, gente de todos os matizes.

O que isso rendeu a Pedro Ernesto? A acusação, feita pelos conservadores, de abrigar comunistas, de ser um ateu, contrário ao ensino da palavra de Deus. Anísio Teixeira demitiu-se. O prefeito foi exonerado e preso, acusado de simpatia com comunistas. A UDF foi absorvida, no Estado Novo, pela Universidade do Brasil (atual UFRJ) e seus professores passaram a ser contratados com crivo sobre suas convicções ideológicas e religiosas, sob a lupa de Alceu Amoroso Lima e do Cardeal Leme.

O projeto de Anísio Teixeira retornou revigorado, décadas depois, em Brasília, no projeto de Escola Parque, de tempo integral, e com Darcy Ribeiro, com a Universidade de Brasília. Nova ditadura, a de 1964, interrompeu o experimento.

A educação no Brasil, sucessivamente golpeada pelo autoritarismo, em períodos democráticos é bloqueada quando pretende avançar. É por isso que ela se arrasta vagarosamente. A primeira Lei de Diretrizes e Bases só foi promulgada em 1961, sendo que estava prevista desde a Constituição de 1934 (na forma de um Plano Nacional de Educação). Foram 13 anos de tramitação, desde o envio de seu projeto, em 1948. A segunda LDB, estabelecida pela Constituição de 1988, só chegaria à sua redação final em 1996.

A institucionalização das regras nacionais para a educação é sempre muito lenta. Isso nada tem a ver com democracia e tempo de debate. Pelo contrário. Esses projetos são deliberadamente entregues a uma tramitação modorrenta, com parlamentares que se esmeram por mantê-los em total monotonia, enquanto agridem a compreensão pública com polêmicas disparatadas. Atiram para todos os lados em questões pontuais, enquanto agem solenemente em prol do silêncio de cemitério, trilha sonora mais comum do debate sobre os rumos da educação.

Enquanto esperamos que o MEC seja rápido para corrigir seus erros e evitar que eles se repitam (como no caso do 10-7=4), é preciso ter clareza dos grandes desafios que se tem pela frente. O importante já não é apenas superá-los, evitando retrocessos, mas fazê-lo ainda mais rapidamente. O atraso histórico amargado pelo sistema público de educação é de tal monta que mesmo alguns resultados exuberantes colecionados nos últimos anos deixam a sensação de uma vitória de Pirro para professores e estudantes.

Mais do que dar continuidade ao que foi feito, seria hora de uma guinada.

Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente opiniões do Instituto.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Falsa questão: a grande mídia e a ignorância com a educação?

Mais uma vez enfrentamos a inconsisitência e a falta de cuidado (para não chamar de outra coisa) a forma como a mídia trata a educação brasileira ao tentar analisar conteúdos escolares sem o devido conhecimento.

Perdoem-me os jornalistas, mas definitivamente no Brasil não é preciso mesmo ter curso superior frente a falta de cuidado como são tratadas as informações. Ensinar o óbvio torna-se cada vez mais necessário!

Falsa questão
Posted By Lívia Perozim On 20 de maio de 2011 @ 15:25 In Carta na Escola |

Mais uma vez um livro didático foi alvo de polêmica. Uma notícia divulgada pelo portal IG, por meio do blog Poder On Line, afirmou: o MEC comprou e distribuiu um livro que “ensina a falar errado”. Em jornais, emissoras de tevê e meios eletrônicos o livro, seus autores e o próprio MEC foram crucificados. Colunistas renomados esbravejaram. É um livro “criminoso”, atestou Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo. Dora Kramer, no Estadão de terça-feira, aproveitou para atacar Lula: “Tal deformação tem origem na plena aceitação do uso impróprio do idioma por parte do ex-presidente Lula, cujos erros de português se tornaram inimputáveis, por supostamente simbolizarem a mobilidade social brasileira.” Poderíamos nos perguntar o que Glorinha Kalil pensa do assunto, mas vamos nos ater aos fatos.

O livro em questão é o Por Uma Vida Melhor e faz parte da coleção Viver, Aprender, organizada pela Ação Educativa, uma ONG que há 16 anos promove debates e atua em projeto de melhoria educação e políticas para a juventude. Foi distribuído para 4.236 escolas e é destinado, frise, para alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) – mais para frente ficará claro o porquê. Seus autores são Heloísa Ramos, Cláudio Bazzoni e Mirella Cleto. Os três, professores de língua portuguesa, autores de livros didáticos e estudiosos do tema variação linguística.

A polêmica midiática partiu da reprodução de trechos como: “Você pode estar se perguntando: ‘Mas eu posso falar os livro?’. Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico”. Reproduzidos assim, descolados de um contexto, parece mesmo que a orientação era mandar às favas a língua portuguesa. Mas não é bem isso. Faltou uma leitura mais atenta, ou, pior, faltou ler a obra. O capítulo em questão, ao menos (clique aqui para ler [2]).

Tanto é que foram repercutidas as mesmas poucas frases, retiradas de 1 dos 16 capítulos do livro. Embora o título seja auto-explicativo, Escrever é diferente de falar, vale reproduzir a proposta descrita na introdução: “Neste capítulo, vamos exercitar algumas características da linguagem escrita. Além disso, vamos estudar uma variedade da língua portuguesa: a norma culta. Para entender o que ela é e a sua importância, é preciso conhecer alguns conceitos.” Os trechos pescados pela imprensa estavam no tópico: “A concordância das palavras”. Ali, discute-se a existência de variedades do português falado que admitem que o primeiro termo de um grupo nominal indique se a frase é singular ou plural. O exemplo: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado.” Em seguida, reescreve-se a frase na norma culta: “Os livros ilustrados mais interessantes estão emprestados”.

Ou seja, os autores do livro mostram aos alunos do EJA, adultos que já carregam uma bagagem cultural construída pela vivência e por suas experiências educativas, que este modo de falar é correto linguisticamente, por se fazer comunicar, mas não é aceito gramaticalmente. Explica-se: a linguística é uma ciência em busca de conhecimentos sobre a língua. A gramática não é cientifica, é um conjunto de normas. É, portanto, uma parte importante, mas não representa todo o saber da língua.

A confusão está, em parte, no fato de se pretender apartar a teoria linguística do ensino da língua, como se a escola devesse parar no tempo e não deixar entrar nenhum avanço científico relativo à língua materna. “Isso sim é uma irresponsabilidade, um crime”, devolve Cláudio Bazzoni, um dos autores do livro.

Não se fala aqui de uma ciência inventada ontem. Com base em estudos antigos, os linguistas mostram que a língua é um sistema complexo, muito maior do que um conjunto de normas, que muda pela história e é determinada por práticas sociais. Sírio Possenti, professor do departamento de lingüística da Unicamp, explica: “Para um linguista, o conceito de certo e errado não tem sentido. Seria como um botânico achar que uma planta está errada. Para ele, a questão é quais são as regras em cada caso”. Posto que as noções de certo e errado têm origem na sociedade, não na estrutura da língua, ele completa: “É certo o que uma comunidade considera certo. E essa avaliação muda historicamente. Um exemplo: a passiva antiga do português se fazia com de: ‘será de mim mui bem servida’. Está na Carta de Caminha. Hoje, se faz com por.”

A sociedade, no caso, os jornalistas – até mais que os normatistas – condenaram um tipo de conteúdo, a variação linguística, que faz parte há mais de quinze anos dos livros didáticos de língua portuguesa disponíveis no mercado, avaliados e aprovados pelo MEC. Estão, portanto, mal informados. Como ressalta o professor da Universidade de Brasília Marcos Bagno, em artigo publicado no site de Carta Capital: “Nenhum linguista sério, brasileiro ou estrangeiro, jamais disse ou escreveu que os estudantes usuários de variedades linguísticas mais distantes das normas urbanas de prestígio deveriam permanecer ali, fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua língua… Defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada e aos discursos que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, mas é preciso repetir isso a todo momento”.

Pelo visto, nem tudo que parece é óbvio. Possenti resume bem o imbróglio: “Bastaria que se aceitasse que as línguas não são uniformes, o que é um fato notório, bastaria as pessoas se ouvirem”.  Fica aí a dica para quem, como o jornalista Alexandre Garcia, em comentário irado sobre o livro que “ensina a falar errado”, começou a frase com “Quando eu TAVA na escola”…


terça-feira, 3 de maio de 2011

Bin Laden morreu? Muitas dúvidas....

 A possível morto de Bin Laden, inimigo número 1 dos EUA desde 2001, foi a notícia desta semana nos meios de comunicação mundial. A pergunta é: esta morto mesmo? Será que quase uma década depois, alguns bilhões de dólares, finalmente a "caçada" terminou? 

Sinceramente, pela forma como se desencadeou o processo, tenho sérias dúvidas da realidade da informação. Parece muito mais uma jogada de marketing geopolítico para Barack Obama, especialmente na política interna. 

O artigo abaixo é muito rico nas interpretações e contextos, escrita por um jonralista que teve a oportunidade de conversar com Bin Laden. 

Fica dúvida e a história nos dirá em um futuro bem próximo ou distante, a efetividade desta informação....

 "Bin Laden foi traído? Certamente que sim. O Paquistão sabia onde ele estava"

A desaparição de Bin Laden lança uma luz sombria sobre o Paquistão. Durante meses, o presidente Alí Zardari nos disse que Osama vivia em uma caverna no Afeganistão. E agora descobrimos que ele vivia em uma mansão no Paquistão. Foi traído? Claro que sim. Pelos militares ou pelos serviços de inteligência do Paquistão? É muito provável que pelos dois. O Paquistão sabia onde estava. Há uma pergunta muito óbvia sem resposta: as forças de segurança do Paquistão não poderiam ter capturado Bin Laden? 

O artigo é de Robert Fisk - La Jornada

Um dom nada de meia idade, um fracassado político, rebaixado pela história – pelos milhões de árabes que exigem liberdade e democracia no Oriente Médio -, morreu no Paquistão neste domingo. E o mundo enlouqueceu. Nem bem havia nos apresentado uma cópia de sua certidão de nascimento, o presidente estadunidense apareceu no meio da noite para nos oferecer ao vivo um atestado da morte de Osama Bin Laden, abatido em uma cidade batizada em homenagem a um major do exército do velho império britânico. Um só tiro na cabeça, nos dizem. Mas e o vôo secreto do corpo até o Afeganistão e o igualmente secreto sepultamento no mar?

A estranha forma pela qual se livraram do corpo – nada de santuários, por favor – foi quase tão grotesca como o homem e sua perversa organização.
Os estadunidenses estavam embriagados de alegria. David Cameron chamou-o de um enorme passo adiante. A Índia falou em feito vitorioso. Um triunfo retumbante, alardeou o primeiro ministro israelense Netanyahu. Mas, após 3 mil estadunidenses assassinados no 11 de setembro, incontáveis outros no Oriente Médio, cerca de meio milhão de vítimas mortais no Iraque e no Afeganistão e 10 anos empenhados na busca de Bin Laden, oremos para que não tenhamos mais triunfos retumbantes.

Ataques em represália? Talvez ocorram, de pequenos grupos no Ocidente que não têm contato direto com a Al Qaeda. Ninguém duvide que alguém já esteja sonhando com uma brigada do mártir Osama Bin Laden. Talvez no Afeganistão, entre os talibãs. Mas as revoluções de massas dos últimos quatro meses no mundo árabe significam que a Al Qaeda já estava politicamente morta. Bin Laden disse ao mundo – e, de fato, me disse pessoalmente – que queria destruir os regimes pró-ocidentais no mundo árabe, as ditaduras dos Mubaraks e dos Ben Alis. Queria criar um novo califado islâmico. Mas nestes últimos meses, milhões de árabes muçulmanos se levantaram, dispostos ao martírio, mas não pelo Islã e sim por democracia e liberdade. Bin Laden não derrubou os tiranos: foi o povo. E o povo não quer um califa.

Reuni-me três vezes com o homem e só me restou uma pergunta por fazer: o que pensava ao observar como se desenvolviam as revoluções este ano, sob as bandeiras de nações, mais que do islã, cristãos e muçulmanos juntos, pessoas que seus homens da Al Qaeda gostam de arrebentar?

Aos seus olhos, seu êxito foi criar a Al Qaeda, instituição que não tinha carteira de membro. Bastava levantar uma manhã querendo ser da Al Qaeda e já o era. Ele foi o fundador, mas nunca um guerreiro em batalha. Não havia um computador em sua caverna, nem fazia chamadas para que detonassem bombas. Enquanto os ditadores árabes governavam sem que ninguém os enfrentasse, com apoio ocidental, evitavam até onde fosse possível criticar a política de Washington; só Bin Laden o fazia. Os árabes nunca quiseram explodir aviões de altos edifícios, mas admiravam o homem que dizia o que eles queriam dizer. Mas agora, cada vez mais, podem dizê-lo. Não precisam de Bin Laden. Ele se tornou um dom nada.

Falando de cavernas, a desaparição de Bin Laden lança uma luz sombria sobre o Paquistão. Durante meses, o presidente Alí Zardari nos disse que Osama vivia em uma caverna no Afeganistão. E agora descobrimos que ele vivia em uma mansão no Paquistão. Foi traído? Claro que sim. Pelos militares ou pelos serviços de inteligência do Paquistão? É muito provável que pelos dois. O Paquistão sabia onde estava.

Abbottabad não é só o lugar que abriga o colégio militar desse país – a cidade foi fundada pelo major James Abbott, do exército britânico, em 1853 -, como também é o quartel da segunda divisão do corpo do exército do norte. Há apenas um ano, fui atrás de uma entrevista com um dos criminosos mais procurados, o líder do grupo responsável pelos massacres de Bombaim. Encontrei-o na cidade paquistanesa de Lahore, protegido por policiais paquistaneses armados com metralhadoras.

Desde logo, há uma pergunta muito óbvia sem resposta: as forças de segurança do Paquistão não poderiam ter capturado Bin Laden? Por acaso a CIA e os Seals da Marinha dos EUA, ou as forças especiais, ou qualquer que seja a força estadunidense que o tenha morto não tinha os meios para lançar uma rede no tigre. Justiça: foi assim que Barack Obama definiu essa morte. Nos velhos tempos, Justiça significada devido processo legal, um tribunal, uma audiência, um defensor, um julgamento. Como os filhos de Saddam Hussein, Bin Laden foi morto a tiros. Claro, ele jamais quis que o pegassem vivo...e havia sangue em abundância na casa onde morreu.

Mas um tribunal teria preocupado muito mais a outras pessoas do que a Bin Laden. Afinal, depois de tudo o que aconteceu, poderia ter falado de seus contatos com a CIA durante a ocupação soviética do Afeganistão, ou de suas acolhedoras reuniões em Islamabad com o príncipe Turki, chefe da Inteligência da Arábia Saudita. Assim como Saddam Hussein – que foi julgado pelo assassinato de apenas 153 pessoas e não pelos milhares de kurdos vítimas de bombas químicas – foi enforcado antes que tivesse a oportunidade de nos contar sobre os componentes do gás fornecidos pelos EUA, sobre sua amizade com Donald Rumsfeld ou sobre a ajuda militar que recebeu de Washington quando invadiu o Irã, em 1980.

É estranho que Bin Laden não tenha sido o criminoso mais procurado pelos crimes internacionais de lesa humanidade do 11 de setembro de 2001. Ele ganhou seu status do velho oeste por ataques anteriores da Al Qaeda a embaixadas dos EUA na África e ao quartel do exército desse país, em Durban. Sempre estava à espera dos mísseis de cruzeiro...e eu também quando me reuni com ele. Ele esperava a morte antes, nas cavernas de Tora Bora, em 2001, quando seus guarda costas não o deixaram resistir e o obrigaram a cruzar as montanhas a pé até o Paquistão. Seguramente passou algum tempo em Karachi. Estava obcecado com essa cidade: até me deu fotografias de grafites apoiando a sua causa nos muros da antiga capital paquistanesa, e elogiava os imãs locais.

Suas relações com outros muçulmanos eram um mistério. Quando me reuni com ele no Afeganistão, no início ele tinha medo do talibã e não deixou que eu deixasse seu acampamento e fosse para Jalalabad à noite. E me entregou a seus guardas mais próximos da Al Qaeda para que me protegessem na viagem no dia seguinte. Seus seguidores odiavam os muçulmanos xiitas, considerando-os hereges. Para eles todos eram ditadores e infiéis, ainda que Bin Laden estivesse disposto a cooperar com os ex-baazistas iraquianos (aliados de Saddam Hussein) contra os ocupantes estadunidenses, o que afirmou em uma gravação de áudio a qual a CIA, tipicamente, não deu importância. Nunca elogiou o Hamas e dificilmente seria digno da definição de “guerreiro sagrado” que esse grupo dedicou a ela, o que foi parar, como de hábito, diretamente nas mãos israelenses.

Nos anos posteriores a 2001, tive uma débil comunicação indireta com Bin Laden. Certa vez, reuni-me com um dos sócios no qual confiava na Al Qaeda, em uma localidade secreta do Paquistão. Escrevi uma lista de 12 perguntas, a primeira das quais era óbvia: que tipo de vitória a Al Qaeda pode proclamar, uma vez que suas ações conduziram à ocupação de nações muçulmanas por Washington? Durante semanas não houve resposta. De repente, em um fim de semana, quando esperava para dar uma conferência em San Louis, Missouri, nos EUA, me disseram que a Al Jazeera acabava de difundir uma nova gravação de Bin Laden. E ele respondeu – sem fazer menção a minha lista – uma a uma minhas 12 perguntas. Ele queria que os estadunidenses fossem ao mundo muçulmano...para poder destruí-los.

Quando Daniel Pearl, jornalista do Wall Street Journal, foi sequestrado, escrevi um longo artigo no The Independent, no qual suplicava a Bin Laden para que salvasse a sua vida. Pearl e sua esposa cuidaram de mim quando fui golpeado na fronteira afegã, em 2001; ele inclusive me deu o conteúdo de seu livro de contatos. Muito tempo depois me disseram que Bin Laden tinha lido meu artigo com tristeza. Mas Pearl já havia sido assassinado. Ou pelo menos foi isso que ele teria dito.

As obsessões de Bin Laden infestaram a sua família. Uma esposa deixou-o, outras duas parecem ter morrido com ele no ataque estadunidense do domingo. Conheci um de seus filhos, Omar, no Afeganistão, em 1994; estava com seu pai. Era um menino simpático e perguntei se ele era feliz. Sim, me respondeu ele em inglês. Mas no ano passado ele publicou um livro chamado “Living Bin Laden”, no qual, ao descrever como seu pai matou os cães que ele amava em um experimento de guerra química, chamou-o de homem malvado. Neste livro, também recordou nosso encontro e concluiu que devia ter respondido que não era uma criança feliz.

Ao meio dia desta segunda-feira eu já tinha recebido três chamadas telefônicas de árabes, todos seguros de que os estadunidenses mataram um dublê de Bin Laden, do mesmo modo que muitos iraquianos acreditam que os filhos de Saddam Hussein não morreram em 2003 e que o próprio Saddam tampouco foi enforcado. No seu devido tempo, a Al Qaeda nos dirá. Certamente, se todos estamos equivocados e era um dublê, veremos mais um vídeo do verdadeiro Bin Laden...e o presidente Obama perderá a próxima eleição.

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte:  http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17754