Metamorfoses Históricas: História, livros, músicas, cinema e motos!

Metamorfoses Históricas: História, livros, músicas, cinema e motos!



quinta-feira, 21 de março de 2013

Embora um tanto esquecida e desconhecida do grande público, a arqueologia proporciona sempre novas descobertas sobre a forma de vida dos seres humanos em épocas anteriores, contribuindo para entendermos o desenvolvimento de nossas tecnologias e sociedades.

Como são pouco noticiadas as descobertas e muitas vezes quase nada abordado nas salas de aula, a notícia a seguir trás a nota uma questão que a maioria das pessoas desconhece: os arqueólogos também estudam as pessoas comuns, não somente os grandes templos, palácios e pirâmides. Até mesmo porque quem construiu estas obras foram trabalhadores livres ou escravizados. 

Vale a pena conferir que a história do Egito Antigo vai além dos faraós e suas obras e riquezas. A arqueologia deveria ser mais presente em nossos ambiente escolares ou quem sabe estas descobertas, para assim podermos pensar em construir uma ideia de sujeito pertencente a história. Dificilmente alguém que somente estuda os grandes personagens ou heróis vai se identificar fazendo parte de um processo histórico. Uma questão que precisamos apreender e buscarmos refletirmos sobre o fazer parte da história e fazer nossa história. 
 

Esqueletos egípcios de 3 mil anos revelam sofrimento dos cidadãos

Sinais de doenças associadas a esforço foram encontrados em mais de 75% dos adulto

 Por Tia Ghose e LiveScience

Novas evidências sugerem que enquanto um faraó egípcio construía templos majestosos recheados de tesouros cintilantes, as classes mais baixas realizavam trabalhos penosos e tinham dietas lamentáveis.

Uma análise de mais de 150 esqueletos de um cemitério de 3300 anos de idade na antiga cidade egípcia de Amarna revela fraturas, desgaste e lesões provocadas por levantamentos pesados e desnutrição violenta entre os plebeus da cidade.

A descoberta, detalhada no volume de março do periódico Antiquity, poderia esclarecer como viviam as não-elites da antiga sociedade egípcia.

 

Cidade da noite para o dia

Durante um breve período de 17 anos, o centro do Egito foi Amarna, uma pequena cidade nos bancos do Nilo, cerca de 350km ao sul do Cairo.

O faraó Akhenaton mudou sua capital para Amarna para construir um culto de adoração puro, imaculado, ao deus do sol Aten.

Em poucos anos nasceram templos, prédios de corte e complexos habitacionais. A certa altura, entre 20 e 30 mil oficiais da corte, soldados, construtores e servos viviam na cidade.

Mas após a morte de Akhenaton, o faraó seguinte, Tutancâmon, imediatamente abandonou o experimento. A cidade, que não tinha boas terras agrícolas, foi rapidamente abandonada.

Como os egípcios ocuparam Amarna por um período tão curto, a cidade fornece pistas sem precedentes sobre como eram as vidas das pessoas em um momento específico da história, declara a coautora do estudo, Anna Stevens, arqueóloga da University of Cambridge.

Vida dura

Há cerca de 10 anos, um pesquisador que investigava a região no deserto perto de Amarna descobriu um antigo cemitério. O local continha centenas de esqueletos e fragmentos de ossos de egípcios de classes baixas.

Para descobrir como eram as vidas desses egípcios comuns, Stevens e seus colegas analisaram 159 esqueletos que foram encontrados quase intactos.

As conclusões dos pesquisadores: a vida era difícil em Amarna. As crianças tinham o crescimento limitado, e muitos dos ossos eram porosos devido à deficiência nutricional, provavelmente porque os cidadãos comuns se alimentavam principalmente de pão e cerveja, contou Stevens à LiveScience.

Mais de três quartos dos adultos tinha doença degenerativa das articulações, provavelmente por levantarem cargas pesadas, e cerca de dois terços desses adultos tinham pelo menos um osso quebrado.

As descobertas sugerem que a rápida construção de Amarna pode ter sido especialmente difícil para os cidadãos comuns. Com base no tamanho dos tijolos encontrados em estruturas próximas, cada trabalhador provavelmente carregava um tijolo de calcário que pesava 70kg, ao estilo das linhas de montagem. Erigir as estruturas da cidade tão rapidamente teria exigido que trabalhadores executassem essa tarefa repetidamente. Isso poderia ter provocado a doença de articulações que os esqueletos revelaram.

A norma no Egito?

“Esse é um estudo fabuloso porque essa é uma grande população de um local conhecido, e nós temos todos esses corpos de pessoas que eram de classes relativamente baixas”, declara Salima Ikram, egiptóloga da American University, no Cairo, que não se envolveu no estudo.
Mas como, no total, arqueólogos escavaram tão poucos cemitérios egípcios antigos em que a não-elite era enterrada, é possível que essas condições extenuantes fossem prevalentes em todo o Egito naquela época, aponta Stevens.

Outra pesquisa descobriu que até mesmo egípcios abastados sofriam com desnutrição e doença, frequentemente vivendo até os 30 anos.

Fonte: http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/esqueletos_egipcios_de_3_mil_anos_revelam_sofrimento_do_cidadao_comum.html

quarta-feira, 20 de março de 2013

Os Estados Unidos a 10 anos invadiam o Iraque (liderando uma coalização de alguns países) em busca das armas de destruição em massa que este país, sob o comando de Saddam Hussein e sua família, possuiria. Uma invasão inflamada pelo ataque às Torres Gêmeas, em 2001. Até hoje não foram encontradas tais armas e a dominação desse país acabou sendo mais uma das peças do tabuleiro da geopolítica mundial, no qual a matriz energética do petróleo determina qual a próxima jogada.

Sendo acusados de usos de força excessiva, torturas e outras coisas mais, os Estados Unidos mantém-se, mesmo assim, como a força militar do nosso tempo. Interessante observarmos como a população do país lida com esta questão, ou melhor, muitas vezes silencia ou é silenciada em nome da segurança nacional. 

O texto a seguir, que aborda o espaço educacional dos EUA, nos mostra uma faceta que a maioria de nós desconhece e poucos filmes de Hollywood se aventuram a discutir.
 

O que as escolas nos EUA ensinam sobre a Guerra do Iraque?

Da Redação da Revista Samuel

Dez anos após a invasão de Bagdá, "silêncio constrangedor" nas salas de aula afasta debate; jovens pouco sabem sobre como e o que foi feito pelas tropas dos EUA

Completados dez anos da incursão norte-americana em Bagdá, a Guerra do Iraque gradualmente deixa o campo das “atualidades” para passar a ser estudada nas páginas dos livros de história. À medida que o assunto míngua do noticiário, muitos começam a se perguntar como o tema é abordado nas escolas dos Estados Unidos. Será que os jovens norte-americanos confrontam e discutem a presença das tropas do seu país em outro continente?
 
Mesmo com bons livros didáticos, debate é escasso por pressão pelos resultados e restrição das decisões judiciais

Para achar a resposta, Jonathan Zimmerman, da publicação Salon, foi às apostilas e livros didáticos usados nos colégios dos EUA. E teve uma feliz surpresa. “Os livros apresentam um balanço complexo e equilibrado da guerra no Iraque, sem as manipulações que diversas vezes mancharam a historiografia norte-americana”, diz.

Aparentemente livres de propaganda chapa-branca das ações dos EUA, as apostilas incluem passagens de fôlego sobre temas controversos. Tanto os prisioneiros torturados e abusados pelas tropas dos EUA fora do país, quanto a volta da vigilância interna são lembrados nas páginas dos livros.
O buraco, no entanto, é mais embaixo: uma combinação de política educacional com decisões judiciais restritivas parece fazer com que os jovens pouco ou nada saibam sobre o que foi empreendido no Iraque.
 
 
Política educacional e tribunais

Zimmerman lembra ainda que nunca houve uma “era de ouro” para as escolas dos EUA — em que professores e alunos protagonizassem debates e discussões profundas sobre os assuntos do cotidiano. Durante as duas grandes guerras, por exemplo, houve demissões dos professores que ousaram fazer um contraponto. No Vietnã, o contrário: docentes tentavam frear manifestações vindas dos próprios alunos.

Atualmente, o problema é outro e o pensamento crítico, ainda mais rarefeito. Estudiosos reclamam que não há mais tempo para tentar levantar questões desse tipo. Desde os anos 1980, o sistema educacional nos EUA passa por um processo forte de padronização do ensino, que impõe exames periódicos para avaliar os alunos e, por extensão, as escolas. A pressão por bons resultados nos testes acaba por ditar o ritmo (intenso) e o conteúdo (canônico) nas salas de aula — sem que haja brechas para digressões.

Pior que isso, está se consolidando uma jurisprudência nas cortes norte-americanas que impõe limites às liberdades de discurso dos professores dentro das suas próprias salas de aula. Basta ver o caso de Deborah Mayer, professora de uma escola primária no estado de Nova York. Em 2003, durante uma das suas atividades surgiu na sala de aula uma discussão a respeito de uma manifestação antiguerra. Uma de suas alunas perguntou a Mayer se ela iria a um protesto desse tipo. Ela disse que sim e que as pessoas deveriam procurar maneiras pacíficas de resolver os conflitos. A declaração foi repudiada pelos pais e, após a polêmica, a escola não quis renovar o contrato de trabalho com Mayer.

Ela acionou a Justiça e, após diversas cortes locais validarem a decisão da diretoria do colégio, o caso chegou até a Suprema Corte dos EUA em 2006. Julgando a questão, os magistrados do mais alto tribunal do país decidiram que funcionários públicos não têm liberdade irrestrita para manifestar seu pensamento no local de trabalho. Suas palavras pertencem ao empregador.

Em suma, o professor atua como um “ventríloquo cívico”, pago para repetir frases que são colocadas na sua boca. Não importa que o professor tenha uma opinião própria, se a matriz curricular do colégio compactua com o discurso “Support our Troops”, então é o que será feito.

O resultado é o que Zimmerman chama de “silêncio ensurdecedor” a respeito da Guerra do Iraque nas escolas dos EUA. O assunto não é discutido e os jovens não percebem a sua ausência. A escola da filha de Zimmerman, por exemplo, adota um dos livros didáticos completos e balanceados sobre o conflito. No entanto, a versão utilizada em sala de aula é a edição de 2002, impressa antes das terras iraquianas serem invadidas.

Fonte: http://revistasamuel.uol.com.br/conteudo/view/20249/O_que_as_escolas_nos_eua_ensinam_sobre_a_guerra_do_iraque.shtml

terça-feira, 19 de março de 2013

Uma prática que ainda persiste no ensino superior no Brasil é o trote, que adquire as mais variadas formas e formatos em cada estado. Infelizmente uma prática que legalmente é proibida por expor, na maioria das vezes, os alunos e alunas ingressantes a situações vexatórias e humilhantes. 

Infelizmente ontem, dia 18 de março de 2013, tivemos mais um exemplo de trote e de como nas brincadeiras que surge o preconceito e o racismo, tão presentes, embora dissimulados, em nosso cotidiano.

As imagens abaixo retratam uma das brincadeiras para a recepção dos calouros no curso de Direito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). É de se imaginar que concepções éticas e morais estes futuros profissionais têm ao se portarem desta forma. Lembrando também que as manifestações de símbolos que remetem ao nazismo também são consideradas crimes no Brasil e em muitos países do mundo. 

O ensino superior deve ser a porta de entrada para a formação de profissionais e contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade ética, moral e igualitária. Ao menos é em teoria...

Mas como tudo no Brasil, é mais uma brincadeira somente... e a vida segue neste país desigual, pré-conceituoso, racista e individualista cada vez mais.. só uma brincadeira continuarão a repetir os defensores dessas atitudes.... espero que você leitor não seja um desses ou uma dessas....













 
Fonte: http://www.viomundo.com.br/denuncias/trote-racista-na-ufmg-provoca-indignacao-nas-redes-sociais.html

segunda-feira, 18 de março de 2013

É assustador o investimento mundial em armamentos. A cada ano que passa, mais e mais armas são fabricadas, comercializadas e utilizadas pelo mundo afora, tanto em guerras como no cotidiano das cidades. No Brasil, segundo os últimos dados, quase 39 mil pessoas foram mortas com armas de fogo! 

A fome das indústrias de armamentos é insaciável e os conflitos atuais mobilizam alguns trilhões de dólares por ano. As eternas guerras civis africanas, a guerra na Palestina, o conflito na Síria e a atual tensão entre as duas Coreias fazem com que novas tecnologias sejam desenvolvidas (e testadas) e revendidas aos países, dentro de uma geopolítica de interesses que tem como os principais exportadores os EUA e agora a China, como demonstra o texto que segue. 

A história humana é a história de lutas, conflitos, guerras, morte e destruição que em diferentes momentos históricos fez tecnologias mais destrutivas e mortais serem  desenvolvidas. O estágio atual de mortalidade faz com que os seres humanos tenham a capacidade de extermínio do planeta em algumas centenas de vezes. Infelizmente, a violência e o uso de armas está longe de ser extinto, ao contrário de nós e nosso planeta..... O filme Senhor das Armas sempre atual....

A geopolítica das armas

Gabriel Bonis - 17 de março de 2013

Há ao menos três décadas, o rápido crescimento econômico chinês aponta para a futura retomada de um cenário global com duas potências econômicas e militares: os Estados Unidos e a China. E um sinal da consolidação deste quadro é a ascensão da China como o quinto maior exportador de armas convencionais do mundo, segundo relatório do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), publicado na noite deste domingo 17, ao qual CartaCapital teve acesso com exclusividade no Brasil. Essa é a primeira vez desde o fim da Guerra Fria que o top 5 não é formado apenas por EUA e outros quatro países europeus.

O estudo ainda mostra que o volume das transferências mundiais das principais armas convencionais (aviões de combate, tanques, veículos armados, helicópteros, artilharia, mísseis, entre outros) aumentou 17% entre os períodos de 2003-2007 e 2008-2012. Os EUA seguem como o maior fornecedor global nos últimos cinco anos, com 30% das exportações, seguidos por Rússia (26%), Alemanha (7%), França (6%) e China (5%). É a primeira vez que o Reino Unido não está nesta lista desde 1950.

Foto: Mashleymorgan/Flickr
Pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria, a China está entre os cinco maiores exportadores de armas. Foto: Mashleymorgan/Flickr

Entre os dois quinquênios analisados, as exportações de armas convencionais chinesas subiram 162%, com acordos que têm estabelecido o país como um significativo fornecedor mundial. A maior parte das vendas foi para a Ásia e Oceania (74%). Somente o Paquistão ficou com 55% das exportações do país. “A China sempre foi uma grande exportadora de armas leves, mas não tinha uma indústria militar muito desenvolvida. Mas há mais de uma década existe um investindo forte para dar suporte a esse crescimento militar ajudado por um desenvolvimento industrial e tecnológico”, explica Gunther Rudzit, especialista em segurança e professor da Faculdade Rio Branco, em São Paulo.

Esse avanço militar chinês reflete uma possível corrida armamentícia em países asiáticos e da Oceania, responsáveis por 47% das importações mundiais no setor nos últimos cinco anos, um aumento de 35% em relação ao período anterior. Além disso, os cinco maiores importadores são todos da Ásia: Índia (12%), China (6%), Paquistão (5%), Coreia do Sul (5%) e Cingapura (4%).
Em grande parte, esses Estados compram armas chinesas para lidar com tensões e conflitos de fronteiras marítimas com a própria potência asiática.

A busca por sistemas de defesa na região, acredita Paul Holtom, diretor do programa de transferências de armas do SIPRI, pode ser uma compensação pela defasagem provocada na crise asiática dos anos 90. Mas também está relacionada à ascensão militar chinesa. “Os países sempre levam em conta como a China vai agir, o que também influencia fornecedores como os EUA a comercializar mais equipamentos avançados que no passado.”

No último quinquênio, diversos países da região encomendaram ou anunciaram planos de adquirir armas de longo alcance e sistemas de suporte que os tornariam capazes de projetar poder muito além de suas fronteiras. No ano passado, a Rússia entregou um submarino nuclear à Índia, e a China inaugurou um porta aviões.

Submarinos nucleares estão entre os pedidos mais comuns de países na Ásia. Foto: Russian Trooper/Flickr

Submarinos nucleares estão entre os pedidos mais comuns de países na Ásia. Foto: Russian Trooper/Flickr

A Índia importou 59% mais armas no período, com compras de aviões de combate da Rússia e EUA. No sudeste asiático, as importações cresceram 169%, devido a tensões por fronteiras marítimas, especialmente entre China e Vietnã ou as Filipinas. “O mar ao sul da China é disputado entre muitos países e essa tentativa de ter vantagem em termos navais prevalece na lógica regional. Alguns pesquisadores chegam a comparar os atritos do sudeste asiático à Europa do início do século XX”, Rudzit.

Enquanto isso, a China revelou no ano passado uma série de sistemas de armas domésticos que diminuíram sua dependência externa, por isso sua importações caíram 47% entre 2008 e 2012. No mesmo período, houve aumento no volume de importação de armas das Américas (34%) e África (104%) e queda de 20% na Europa (países como Portugal e Espanha estão vendendo aviões de combate novos por não terem condições de mantê-los) e 7% do Oriente Médio.

Vendas de armas 

Os dados do SIPRI são prévios à decisão dos EUA no ano passado em realocar grande parte de suas forças militares e marítimas rumo à Àsia, mas podem ser um indicativo da escolha norte-americana. Antes mesmo da decisão, a indústria de defesa norte-americana era uma das principais fornecedoras para a região. “Os EUA têm olhado a Índia como um mercado potencial, um país antes dominado por exportações da Rússia e países europeus”, explica Holtom.

A China, que fornece enorme quantidades de sistemas básicos para países de menor desenvolvimento, contudo, está entrando em mercados importantes para países europeus e os EUA. “É interessante notar que, há alguns anos, a Rússia montou um grupo de estudos sobre a indústria de defesa chinesa para saber se ela competiria com a russa em médio prazo”, lembra Holtom.

“A China está se desenvolvendo em áreas importantes, mas ainda há laços tradicionais muito fortes neste tipo de comércio. Ninguém deixa de comprar armas de um país facilmente, porque esse mercado é de relação política intensa e profunda”, completa Rudzit.

Maiores exportadores 

Os EUA lideram a lista dos maiores exportadores de armas entre 2008 e 2012, com 30% do comércio mundial. O país vendeu armas para ao menos 85 países, além da Otan. A maior parte destes equipamentos foi comprada por Estados da Ásia e Oceania (45%), Oriente Médio (27%) e Europa (18%).

Foto:danielfoster437/Flickr
Foto:danielfoster437/Flickr

Segundo os dados, 62% das entregas foram de aeronaves, incluindo 49 aviões de combate como o F-35.

Em retirada do Iraque e do Afeganistão, os EUA venderam 4% de suas exportações para cada um destes países. Os itens inclusos nas negociações variam de tanques a veículos armados novos e de segunda mão.

A Rússia vem em segundo lugar na lista, com 26% das exportações no setor. Destas, 46% são de aeronaves e 20% de mísseis. Ásia e Oceania também são os maiores compradores, 65% do total. Além disso, o relatório mostra que o país foi responsável por 71% das exportações de armas convencionais para a Síria nos últimos cinco anos, incluindo o período de guerra civil do país do Oriente Médio.

Alemanha e França ocupam a terceira e quarta posições, respectivamente. Os dois países registraram quedas de 8% e 18% no período analisado.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/internacional/a-geopolitica-das-armas/#todos-comentarios

quinta-feira, 14 de março de 2013

As mudanças climáticas sempre geram controvérsias e discussões acaloradas, sobre os efeitos da ação humana na exploração desenfreada dos recursos naturais, em especial a partir da Revolução Industrial (meados do século XVIII).

Segundo os cientistas, o planeta está cada vez mais quente. Um processo mudanças ao longo da história natural do planeta, marcado por drásticas mudanças em alguns bilhões de anos. 

O desafio para o futuro e as próximas gerações é saber lidar com este legado da história natural do planeta de transformações e o nosso legado, enquanto humanidade e sua voracidade em explorar, explorar e consumir os recursos naturais, em sua maioria, não-renováveis em curtos espaços de tempo.

Temperaturas globais ultrapassarão os registros no século 21

 Por Sid Perkins e revista Nature

Um estudo sugere que, atualmente, temperaturas médias globais estão mais altas do que estiveram por aproximadamente 75% dos últimos 11.300 anos. E se modelos climáticos servem de qualquer indicação, até o fim deste século elas serão as mais altas desde o fim da era glacial mais recente.

Registros instrumentais do clima só chegam até o fim do século 19. Para antes disso, cientistas dependem de análises de crônicas naturais como anéis de árvores e proporções de isótopos em formações de cavernas.

Mas mesmo esses arquivos têm seus limites: muitas reconstruções detalhadas do clima, particularmente da temperatura, só se aplicam a regiões limitadas ou no máximo se estendem alguns milênios, declara Shaun Marcott, cientista climático da Oregon State University em Corvallis.

Marcott e seus colegas decidiram reconstruir tendências climáticas globais até 11.300 anos atrás, quando o Hemisfério Norte estava saindo da mais recente era do gelo. Para fazer isso, eles coletaram e analisaram dados reunidos por outras equipes. Os 73 registros climáticos sobrepostos que eles consideraram incluíam núcleos de sedimentos perfurados de fundos de lagos e mares ao redor do mundo, além de um punhado de núcleos de gelo coletados na Antártica e na Groenlândia.

Cada uma dessas crônicas tinha pelo menos 6.500 anos, e cada uma delas incluía um período de base começando em meados do período pós-era-glacial, em 3550 a.C.

Imagem cortesia de AIRS Science Team, NASA/JPL
 Temperaturas da Terra (vistas aqui por um sensor infravermelho do satélite Aqua, da Nasa) estão prestes a se tornar tão quentes quanto após a última era do gelo  

 

Para alguns registros, os pesquisadores inferiram temperaturas passadas a partir da proporção de íons de magnésio e cálcio nas cascas de criaturas microscópicas que morreram e foram parar no fundo do mar; para outros, eles mediram as distâncias de moléculas orgânicas de cadeia longa chamadas de alquenonas que ficaram presas nos sedimentos.

Depois da era do gelo, descobriram eles, as temperaturas globais médias subiram até atingirem um platô entre 7550 e 3550 a.C. Então uma tendência de resfriamento de longo prazo se estabeleceu, atingindo sua temperatura extrema mais baixa entre 1450 e 1850.

Desde então, temperaturas vêm aumentando a uma taxa dramática: da primeira década do século 20 até o presente, temperaturas globais médias variaram praticamente de seu ponto mais frio desde a era do gelo até  seu mais quente, relataram Marcott e sua equipe na Science de 7 de março.

Contexto climático

As tendências de temperatura que a equipe identificou nos últimos dois mil anos são estatisticamente indistinguíveis de resultados obtidos por outros pesquisadores em um estudo anterior, observa Marcott. “Isso aumenta nossa confiança no resto de nosso registro”, adiciona ele.

Marcott e seus colegas “reuniram um conjunto bastante impressionante de representantes climáticos”, elogia Gavin Schmidt, cientista climático do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, em Nova York.“O quadro climático geral já está claro há muito tempo, em sua maioria para o Hemisfério Norte, mas essa compilação realmente põe o resto do mundo em contexto”, adiciona ele.

“Antes desse estudo, pesquisadores só podiam imaginar se temperaturas globais haviam excedido a parte mais quente do atual período interglacial”, explica Darrell Kaufman, geólogo da Northern Arizona University em Flagstaff. As novas descobertas mostram que as recentes temperaturas altas não são necessariamente as mais quentes, mas são incomumemente altas, aponta ele.

As tendências de temperatura durante grande parte do período pós-era-glacial se adequa às esperadas de fatores naturais como a variação de longo prazo no eixo da Terra, aponta Marcott. Mas nos últimos 150 anos, emissões industriais do gás dióxido de carbono aumentaram – o que ajuda a explicar porque temperaturas globais subiram tão rápido em décadas recentes, sugere ele.

Modelos climáticos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas sugerem que até o fim deste século, independentemente de emissões futuras de dióxido de carbono, temperaturas atingirão seu ponto mais alto desde o fim da era glacial mais recente, concluem os pesquisadores.

Este artigo foi reproduzido com permissão da revista Nature. O artigo foi publicado pela primeira vez em 7 de março de 2013. 

Fonte:http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/temperaturas_globais_serao_as_mais_altas_dos_ultimos_onze_mil_anos.html

terça-feira, 12 de março de 2013

A Segunda Guerra Mundial (1939 -1945) continua gerando debates, pesquisas, discussões, filmes e livros, em especial na Europa e Estados Unidos. No Brasil essa temática vem ganhando atenção nos últimos anos, com pesquisas de mestrado e doutorado que vão além de entender a participação militar efetiva na Guerra. 

Várias dessas pesquisas abrem luz a várias situações, como os campos de concentração para os presos políticos, as políticas de higienização, a força e as influências do partido nazista no Brasil, entre outras.

O texto a seguir problematiza ainda mais esse período histórico, trazendo novas questões para discussão e levantando a poeira de um passado, que muitas vezes, procura ser ignorado na história brasileira. O fim do século XIX e as primeiras quatro décadas do século XX ainda possuem muitas histórias aqui no Brasil que precisam de investigação e divulgação, nas escolas e na sociedade como um todo. Eis nosso desafio.

Infância roubada

Historiador resgata história de órfãos obrigados a trabalhar em fazendas de nazistas e integralistas no interior de São Paulo no início do século 20. 
 
Por: Sofia Moutinho
 
Publicado em 28/02/2013 | Atualizado em 28/02/2013
Aloysio Silva, um dos órfãos entrevistados pelo historiador Sidney Aguilar para seu doutorado na Unicamp. (foto: Antoninho Perri/ Ascom Unicamp) 
 
Quando o descendente de escravos Aloysio Silva tinha 11 anos, vivia no orfanato para meninos Educandário Romão de Mattos Duarte, no Rio de Janeiro. Em 1932, sua infância, e a de outros garotos da instituição, tomou um rumo diferente. Nesse ano, foi ao orfanato o fazendeiro Oswaldo Rocha Miranda com seu motorista. No pátio, todos os órfãos estavam reunidos quando o empregado começou a jogar balas no chão. Aloysio foi um dos que pegaram mais doces.

O que podia parecer motivo de alegria, no entanto, se mostrou um golpe do destino. Os meninos mais espertos, que juntaram mais balas, foram escolhidos e levados pelo fazendeiro. “Ele chegou e mandou encostar nós num canto lá, então separou nós como separa boi na mangueira”, lembra. “Da minha turma, ele tirou 20 e desses 20 tirou 10, de onde veio nós 10; ele mandou a superiora botar nós num lugar lá pra esquecer dos outros.”

 A partir desse dia, os meninos do educandário não mais foram chamados por seus nomes, receberam números de identificação e passaram a viver e realizar trabalhos forçados em fazendas no interior de São Paulo da família Rocha Miranda, aristocratas que tinham aproximações com o nazismo e o integralismo – dois movimentos políticos de extrema direita, distintos, mas igualmente marcados pelas ideias eugenistas. Aloysio e seus colegas foram apenas os primeiros de quase 50 órfãos, a maioria negros, levados à força.

A descoberta dessa história ocorreu durante pesquisa feita pelo historiador Sidney Aguilar como parte de seu doutorado na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Aguilar dava aulas sobre a Segunda Guerra Mundial em um colégio de ensino médio quando uma aluna disse ter visto esculpida em tijolos de uma antiga fazenda paulista de Campina do Monte Alegre a suástica, insígnia nazista. O professor resolveu visitar a região e lá escutou a história dos meninos, entrevistando sobreviventes como Aloysio Silva. “O que me chamou a atenção não foram tanto as suásticas, mas os boatos que comecei a ouvir sobre esses órfãos e a forte presença integralista no local”, diz.
Tijolos com suástica
                    Os tijolos das fazendas dos irmão Rocha                Miranda exibiam símbolos nazistas e integralistas. 
                 (foto: Mário Franca/ Ascom Unicamp)
O pesquisador conta que alguns integrantes da família Rocha Miranda ocupavam a ‘Câmara dos Quarenta’, um dos órgãos superiores da Ação Integralista Brasileira (AIB). Um, Renato, era amigo próximo do líder do movimento, Plínio Salgado. Outros dois irmãos, Sérgio e Otávio, mantinham relação direta com membros do partido nazista. Sérgio era o dono da fazenda Cruzeiro do Sul, que exibia suásticas nos tijolos e no gado. Já Otávio vendeu uma de suas fazendas ao criminoso de guerra e ex-ministro do Estado nazista Alfried Krupp, que lá se instalou com mulher e filho depois do conflito mundial.

As aproximações políticas da família que ganhou a tutela dos órfãos chamaram a atenção de Aguilar. “Em meio a essas relações familiares e empresariais entre adeptos do integralismo e do nazismo, havia um grupo de 50 crianças submetidas a toda sorte de violência”, diz. “Depois de estudar documentos da época e das fazendas da família, o que descobri foi um projeto eugenista.”

De acordo com o pesquisador, os irmãos Rocha Miranda tinham um propósito ideológico ao retirar esses órfãos e levá-los para suas fazendas: queriam deixar a então capital livre de crianças negras e pobres. “A eugenia, pseudociência que buscava ‘a raça e o indivíduo perfeitos’, era muito forte no imaginário popular da época e, nesse caso, se deu por meio de práticas de afirmação de certos grupos e segregação de outros”, explica. “Nessa lógica, a transferência de crianças negras e pobres do Rio de Janeiro para o interior de São Paulo foi uma ação eugênica, uma vez que incidiu sobre órfãos (e para os eugenistas era muito importante saber a origem do indivíduo) e negros, considerados de raça inferior.”

Ao examinar documentos da época, Aguilar verificou que as transferências dos órfãos contavam com a concordância da Igreja, que mantinha o educandário, e do Estado, na figura do juiz que autorizou o processo, José Cândido de Albuquerque Mello Mattos, autor do primeiro Código do Menor do país. A tutela dos meninos era passada à família Rocha Miranda com a justificativa de que se tratava de ação filantrópica e educativa.
Alunos da fazenda Cruzeiro do Sul
                          Alunos da escola criada na fazenda                
Cruzeiro do Sul, onde os órfãos estudavam apenas por cerca de um ano. (foto: cedida por Sidney Aguilar)
Mas, segundo o historiador, ao chegar às fazendas, os órfãos tinham apenas um ano de escola com uma professora contratada. O restante de suas infâncias era gasto com trabalhos no campo. “Eles eram obrigados a acordar às cinco horas da manhã e tomar banho gelado em uma piscina coletiva mesmo no inverno”, conta Aguilar, com base nas entrevistas com sobreviventes e seus parentes. “Eles contam que faziam fila para receber a enxada e não podiam brincar sequer nas horas de descanso. Muitos morreram cedo, alguns fugiram e a maioria não se casou nem teve filhos.”

Momento oportuno

Nazismo e eugenia no Brasil são temas que despertam estranheza e curiosidade. Mas ambos tiveram forte presença por aqui. O Brasil chegou a ter o maior número de afiliados ao partido nazista fora da Alemanha. Já a eugenia tinha um espectro político amplo, abrangendo as ideologias nazista e integralista e até movimentos liberais e de esquerda.
Segundo o historiador Luis Edmundo de Souza Moraes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), o pensamento eugenista era comum em todo o mundo no início do século 20. “Intelectuais alemães, norte-americanos e também brasileiros muito legitimados divulgavam ideias eugenistas. Os Estados Unidos tinham leis de eugenia desde 1907 e vários países europeus tiveram leis de esterilização de pessoas. A eugenia foi, no século 20, um fenômeno bem disseminado, que obviamente teve seus expoentes no Brasil.”

 As transferências de meninos órfãos do Rio de Janeiro para as fazendas da família Rocha Miranda terminaram, coincidentemente ou não, nos momentos finais da Segunda Guerra Mundial, quando os movimentos de extrema direita enfraqueceram. Em 1938, foi proibida a existência de partido político estrangeiro no Brasil e, em 1942, o governo de Getúlio Vargas declarou guerra à Alemanha nazista. Aguilar conta que nesse momento a família Rocha Miranda mudou seu posicionamento político frente à sociedade e chegou a oferecer um dos meninos sob sua tutela para combater os alemães na guerra.

“Há duas versões para explicar o fim das transferências”, conta o historiador. “Uma delas é que Oswaldo Rocha Miranda, tutor oficial das crianças, ficou muito doente e transferiu os negócios para seu sobrinho, que liberou os meninos, mesmo os que ainda não tinham completado a maioridade. Mas tem outra possibilidade que é a influência do momento histórico, pois entre 1942 e 1943 as posições políticas colocavam integralistas e nazistas em uma situação muito delicada.”

O caso dos meninos do Educandário Romão de Mattos Duarte foi o único desse tipo que Aguilar encontrou durante sua pesquisa. Mas o historiador não descarta a possibilidade de que histórias semelhantes tenham acontecido em outras fazendas brasileiras no início do século 20. “Encontrei nas documentações eugenistas da época a ideia de que o trabalho deveria fazer parte da educação e formação das crianças pobres”, diz. “Esse discurso do trabalho como educação se transformava em uma forma de exploração sistemática do trabalho infantil pelas elites. É plausível que outros casos tenham ocorrido e sinceramente espero que esse trabalho sirva de motivação para mais pesquisas.”

Sofia Moutinho - Ciência Hoje/ RJ

Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2013/300/infancia-roubada/view

segunda-feira, 11 de março de 2013

Como forma de difundir conhecimento, reproduzo abaixo uma coluna que discute dois filmes recentes e que abordam a história da escravdão nos EUA no século XIX. Vale a pena fazer a leitura, bem como ver os filmes citados, que possibilitam compreender alguns processos históricos, bem como a visão do diretor pode dar novos contornos a um enredo.
 
Ficção e história se mesclam, mas o pano de fundo da discussão sobre estes eventos permanece e seus impactos na sociedade. Interessante percebermos, como a autora nos chama a atenção ao término do texto, como a história da escravidão no Brasil ainda não ganhou um espaço merecido nas produções cinematográficas... como muitas outras passagens de nossa história que mereciam ser interpretadas no cinema, popularizadas e também questionadas.
 
Diferentes olhares sobre a abolição
                  
Por: Keila Grinberg

Publicado em 08/03/2013 | Atualizado em 08/03/2013
 
Diferentes olhares sobre a abolição
                  
Este ano começou bem para quem gosta de cinema e história, com a indicação de dois filmes sobre escravidão nos Estados Unidos. Lincoln, de Steven Spielberg, que recebeu 12 indicações e levou duas estatuetas (melhor ator e melhor direção de arte), aborda os quatro últimos meses da vida do presidente norte-americano Abrahão Lincoln (1809-1865), especificamente as negociações para aprovar no Congresso a famosa 13ª emenda à Constituição dos Estados Unidos, que viria a abolir formalmente a escravidão nos Estados Unidos.
 
Django, de Quentin Tarantino, que recebeu dois dos cinco prêmios para os quais foi indicado (melhor roteiro original e melhor ator coadjuvante), retrata a vida do escravo Django que, ao ser libertado em 1858, passa a vida a tentar resgatar sua esposa, vendida para uma grande fazenda no Mississipi.
 
Não por acaso, os dois filmes abordam o mesmo período da história norte-americana, entre o fim da década de 1850 e 1865, quando findava a guerra civil que também pôs fim à escravidão no país. Tanto que, se aqui, para acompanhar o filme, um bom manual de instruções seria bem-vindo (sugiro o excelente livro Gerações de Cativeiro, de Ira Berlin), lá esses fatos são de conhecimento geral.
 
Da mesma maneira, também não é fortuito que, mais uma vez, Spielberg e Tarantino estejam à frente de filmes históricos. Ambos gostam de história. E os dois desejam retratar temas históricos sensíveis a seus públicos, cientes do efeito que suas versões dos acontecimentos criam.
 
Basta lembrar como os dois retrataram a Segunda Guerra Mundial (A lista de Schindler e O resgate do soldado Ryan, de Spielberg, e, mais recentemente, Bastardos Inglórios, de Tarantino). Isso sem falar no anterior Amistad, no qual Spielberg já havia tratado do período do fim da escravidão, ao filmar a revolta de africanos que iriam para Cuba a bordo do navio Amistad no fim dos anos 1840.
Filmes sobre Holocausto
Tanto Tarantino quanto Spielberg tratam seus protagonistas como heróis. O Lincoln do filme é o visionário que conseguiu entender a importância histórica do momento e não mediu esforços para conseguir aprovar a abolição da escravidão; o Django do filme é um escravo que, bem à moda Tarantino, faz justiça com as próprias mãos, matando todo mundo que vê pela frente para conseguir reaver sua esposa.

 

Realismo exacerbado x ficção deliberada

Mas as semelhanças param por aí. Spielberg quer construir sua versão da história fazendo-a parecer o mais próximo possível da realidade-tal-qual-ela-foi. Sua ambientação de época é impecável: o cenário, as roupas... Em tudo reconhecemos no filme aquilo que imaginamos ter sido os Estados Unidos de meados do século 19. Spielberg quer criar uma ilusão de verdade. Tanto que, ao final, nos perguntamos se o que aconteceu foi realmente assim, porque o filme nos faz crer que sim.
 
Já Tarantino faz exatamente o oposto. Seus exageros não deixam margens de dúvida: é impossível que Django pudesse ter existido de verdade. Além da já deliberadamente estranha esposa – uma escrava chamada Brunhilde, que fala alemão –, é claro que nenhum liberto poderia agir como ele, matando brancos a torto e a direito sem ser atingido de volta. A força do argumento de Tarantino está na ação desmedida, inverossímil: ao contrário de Spielberg, que quer criar a ilusão no espectador de ter construído a história tal qual ela foi, Tarantino quer que o seu público tenha certeza de que ele faz uma versão da história como ela não foi.
 
E, no entanto, do ponto de vista da produção historiográfica contemporânea sobre escravidão, Tarantino formula questões muito mais acuradas do que as de Spielberg, e mesmo as imprecisões históricas parecem ter um sentido em seu filme. A cena da Ku Klux Khan, por exemplo, ridiculariza o racismo com humor – mesmo que, na vida real, o movimento só tenha surgido dez anos depois da época retratada no filme.
'Django', Tarantino
Ainda no início do filme, o caçador de recompensas alemão Dr. King Schultz se surpreende ao saber que Django, um escravo, não só era casado, como estava atrás de sua esposa. E, de fato, este é um tema que por muito tempo vem sensibilizando os historiadores da escravidão. Como os escravos constituíam famílias? Como eram as suas relações amorosas, suas vidas privadas? Django parece mais um super-herói do que uma pessoa de verdade, mas sua busca para reaver sua esposa foi mais do que real para um sem-número de pessoas que viveram situações semelhantes naquela época. Afinal, os escravos consideravam absolutamente injusto quando suas famílias eram separadas pela venda, e a revolta de Django certamente foi compartilhada pelos seus contemporâneos.
 
Por conta disso, tão importante quanto a representação da família escrava é a forma como Tarantino trata a resistência escrava. Lá pelo meio do filme, um proprietário branco de escravos se pergunta: “por que eles não nos matam?”. Realmente: por quê? Por que todos os escravos não mataram seus senhores? Essa pergunta, que está na raiz da reflexão sobre as motivações da ação humana, dá o que pensar.
 
Sendo maioria, é de se surpreender que, na vida real, os escravos não tenham se revoltado mais do que o fizeram. Talvez por isso Tarantino tenha criado um personagem tão violento e vingativo. Da mesma maneira, a historiografia sobre a escravidão vem se colocando essas questões. O que motivava a ação escrava? Qual é o valor atribuído pelos escravos às suas liberdades? Qual foi a influência de suas ações individuais no processo geral de abolição da escravidão?

 

Questionador x conservador

Quem assiste a Django não sai com respostas a nenhuma dessas perguntas, mas talvez fique com uma pulga atrás da orelha e pense quantas situações extremas e inusitadas o absurdo da escravidão criou para aqueles – principalmente os africanos e seus descendentes – que viveram em países como os Estados Unidos ou o Brasil no século 19.
 
O mesmo não acontece com Lincoln. É de se lamentar que Spielberg tenha escolhido a versão mais conservadora das interpretações sobre a abolição da escravidão nos Estados Unidos. O protagonista do seu filme praticamente ignora todos os demais atores fundamentais para se entender o processo de abolição da escravidão nos Estados Unidos: os republicanos do Norte, os abolicionistas, os descendentes de escravos livres e libertos e, principalmente, os próprios escravos, que contribuem fundamentalmente para o enfraquecimento do exército e da economia do Sul. O Lincoln de Spielberg aprova a 13ª emenda praticamente sozinho.
 
A abolição de Spielberg é feita por brancos ilustres, e os negros – escravos ou livres – são meros espectadores do processo decisório que levou ao fim da escravidão. É grave, para quem costuma ter a pretensão de apresentar a história tal qual ela foi.
'Lincoln'’, de Spielberg
Seja como for, acabo esta coluna reconhecendo o quanto o tema da escravidão continua sensível na memória coletiva norte-americana, e é natural e saudável que seja assim. Escrevendo de um país onde a escravidão é tão ou mais importante para a construção da nação, fico me perguntando por que não temos mais filmes brasileiros sobre a abolição da escravidão.


 
Keila Grinberg Departamento de História
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/em-tempo/diferentes-olhares-sobre-a-abolicao
 

sábado, 9 de março de 2013

Com a tendência nas últimas décadas da inserção das tecnologias da informação, ampliada com a popularização da rede mundial de computadores (conhecida por internet), as formas de fazer a guerra e proteger os países também mudaram. Um exemplo, já apresentado aqui neste blog, é o uso de drones, aviões não-tripulados controlados a distância e usados por diferentes países em missões pelo mundo afora, como o caso dos Estados Unidos no Afeganistão e Iraque.
 
O uso intensivo de tecnologia em rede, faz com que sejam necessárias medidas para garantir a segurança das redes e sistemas. Com certeza você já recebeu e-mails com diferentes conteúdos, mas que possuíam links ou anexos com o objetivo de infectar o seu computador com um vírus. O medo dos ataques cibernéticos deixou de ser algo restrito a pessoas ou empresas, mas tornou-se alvo de divisões das forças armadas pelo mundo afora. Uma nova guerra é travada e muitas vezes nem percebemos ou sabemos! Serão assim as guerras do futuro? Travadas dentro de salas, atrás de computadores?
 
 
06/03/2013-15h00

Hackers do exército chinês: a ponta do iceberg na guerra cibernética

PAUL HARRIS DO "OBSERVER"
 
A China está repleta de edifícios de escritórios novos e anônimos, de modo que a torre de 12 andares no limite do bairro de Pudong, em Xangai, não pareceria ser causa de manchetes. Nem os cartazes de propaganda nos muros que o cercam e nem os guardas do exército chinês postados como sentinelas na entrada fazem com que o edifício se destaque.
 
Mas na semana passada, a Mandiant, uma companhia de segurança na computação norte-americana sediada na Virgínia, identificou o edifício como quartel-general da Unidade 61398, uma organização do exército chinês suspeita de operações de guerra cibernética.
 
O estudo revelou que 150 ataques altamente sofisticados contra alvos nos Estados Unidos foram conduzidos daquele local. Na semana passada, jornalistas e equipes de TV internacionais que acorreram subitamente ao edifício foram impedidos de entrar, enquanto o governo chinês, furioso, negava as alegações. Uma equipe da BBC chegou a ser detida por breve período.
 
Mas a verdadeira história não era a existência do edifício ou dos hackers que supostamente operam dele. O fato é que isso representa apenas a ponta do iceberg da guerra cibernética, um assunto que vem ganhando cada vez mais visibilidade.
Os especialistas alertam há anos quanto à epidemia mundial de hackers. Agora, essas previsões sombrias estão se confirmando. Está claro que a China, a superpotência mundial emergente, hoje está envolvida em uma batalha contra a superpotência estabelecida, os Estados Unidos.
 
É uma guerra travada na internet, uma versão virtual dos jogos de espionagem da guerra fria, exceto por substituir as armadilhas de sedução e as trocas de prisioneiros no Checkpoint Charlie por inoculação de máquinas com malware, demolição de firewalls e sequestro de servidores.
 
Mas esse novo mundo não envolve apenas rivalidades entre Pequim e Washington. Outros governos, entre os quais os da Índia e Rússia, ou organizações agindo em nome deles, também são participantes importantes. Grandes empresas também estão sendo atraídas ao conflito, tentando se defender contra as legiões de hackers ou contra rivais inescrupulosos que roubam seus valiosos segredos. E em lugar de ocultar os problemas, eles agora começam a ser comentados, e o submundo cibernético está sendo exposto.
"É uma mudança de percepção. Agora os envolvidos estão mais dispostos a revelar publicamente os incidentes", disse Kurt Baumgartner, pesquisador sênior da Kaspersky Lab, uma companhia de segurança na computação sediada em Moscou.
 
O crime se mudou para a internet. De invasões a computadores pessoais para obter dados bancários a trapaças que prometem riqueza instantânea aos ingênuos, e chegando a roubo de identidade completo, o computador que você tem em casa deixou de ser um aparelho inocente. Agora ele é um alçapão que pode conduzir-nos diretamente aos desvãos mais escuros da rede. "Há risco nos caminhos da internet, coisas que envolvem risco imenso de ataque", disse John Strand, instrutor na Sans, uma companhia norte-americana de segurança na computação, sediada em Maryland.
E há quem tema que os terroristas sigam os criminosos ao seu novo paradeiro. O mundo da guerra cibernética já testemunhou o surgimento de poderosos "agentes não estatais", como o Wikileaks e o coletivo de "hacktivistas" conhecido como Anonymous.
 
Os dois grupos combatem por aquilo em que acreditam, usando a internet para difundir informação ou agir contra as pessoas que os tenham ofendido. Mas além deles existem outras organizações com agendas nacionalistas ou de extremismo religioso que podem conspirar para substituir as bombas do passado por atos devastadores de sabotagem virtual.
 
É isso que a Unidade 61398 de fato representa: não só as ambições da China ascendente mas a maturidade de um novo ecossistema de guerra, espionagem, ativismo e criminalidade.
Na semana passada, Michael Hayden, antigo diretor da Agência Central de Inteligência (CIA) norte-americana, comparou o momento atual aos primeiros dias da era nuclear, em Hiroshima, afirmando que "isso cheira a agosto de 1945".
Como resultado do relatório da Mandiant, escrito por Peter Mandia, investigador aposentado de crimes cibernéticos e fundador e presidente-executivo da empresa, agora temos informações sobre algumas das forças em ação nesse estranho mundo novo.
 
A empresa investigou os perfis de alguns dos hackers chineses que acredita trabalharem no edifício em Xangai. Um deles seria um contra-almirante reformado da marinha chinesa cujo nome de guerra é UglyGorilla. Outro aparentemente aprecia as obras de JK Rowling, porque a resposta dele a uma questão de segurança é "Harry Poter" (grafado erroneamente).
 
Um terceiro usa o apelido SuperHard --talvez uma demonstração do machismo frustrado que é traço comum entre os hackers seja em Xangai, seja em San Francisco.
Mas esses hackers e a Unidade 61398 representam apenas uma pequena parte da questão. Nas últimas semanas, surgiram diversas revelações sobre o alcance das ações de hackers chineses. Depois de divulgar detalhes sobre a riqueza da família de um poderoso político chinês, o "New York Times" se tornou alvo de infiltração. O "Washington Post" e o "Wall Street Journal" afirmaram que também sofreram ataques, e na sexta-feira a Microsoft admitiu um invasão aos seus servidores --da mesma forma que outros gigantes da tecnologia, Facebook e Twitter, nas últimas semanas.
 
Institutos de pesquisa, agências governamentais, grupos de defesa dos direitos humanos e escritórios de advocacia foram invadidos virtualmente. O "Washington Post" revelou as dimensões preocupantes das atividades semana passada com a manchete "hackers chineses invadiram redes da maioria das instituições de Washington, segundo especialistas".
 
O problema, de acordo com muitos desses especialistas, é que fazê-lo continua a ser muito fácil. E não é preciso que as autoridades de Pequim ordenem essas invasões para que aconteçam. As negativas da China quanto à responsabilidade de suas autoridade por muitas atividades de hackers parecem plausíveis devido à falta de segurança sofisticada nas redes de muitas organizações e ao fato de que hackers podem agir sozinhos, movidos por patriotismo ou pela vontade de causar confusão. Em 2011, a origem de um ataque foi investigada, e descobriu-se que ele vinha de organizações acadêmicas chinesas.
É claro que a China não é o único país a invadir computadores. Pouca gente duvida que os espiões e as companhias norte-americanas sejam igualmente agressivos nesse tipo de atividade. Ainda que Pequim esteja protegida pelo Grande Firewall da China e regulamente a internet de forma severa, o país em 2011 sofreu cerca de 500 mil ataques cibernéticos --e 15% deles vieram dos Estados Unidos.
 
O ato mais dramático de espionagem cibernética parece ter sido um projeto conjunto dos Estados Unidos e Israel para usar o vírus Stuxnet contra computadores iranianos. Um relatório alega que o código nocivo pode ter danificado até mil centrífugas na central de enriquecimento nuclear de Natanz, no Irã, que muita gente suspeita tenha papel central no desenvolvimento de armas nucleares pelo país.
 
Outros países também se envolveram nesse tipo de ação. Um relatório divulgado pela Casa Branca na semana passada identificou a Rússia como origem de grande número de ataques de hackers. O estudo alertava que outros países podiam emergir como ameaças. "Uma ou mais das grandes potências regionais em ascensão podem considerar que mudanças em seus interesses políticos e econômicos justificam o risco de um programa de espionagem agressivo", o texto diz.
 
No setor privado, parece que a espionagem cibernética --quer da parte de rivais ou de criminosos-- já se tornou norma. A cada ano, acontecem dezenas de milhares de ataques de hackers a computadores de companhias, para tentar roubar segredos ou ganhar acesso a dados. Em um relatório, Dmitri Alperovitch, do grupo de segurança na computação McAfee, da Califórnia, escreveu que "estou convencido de que toda companhia, em todos os setores concebíveis, que tenha porte significativo e propriedades intelectuais e segredos comerciais valiosos, já sofreu invasões, ou sofrerá em breve".
 
Mas as verdadeiras fronteiras desse novo mundo que está emergindo das sombras ficam distantes das grandes empresas e dos Estados soberanos. No jargão da espionagem, estamos falando de "agentes não estatais". O grupo mais famoso desses agentes é o Anonymous, uma organização amorfa de hackers que adotou diversas causas e ataca sites, indivíduos e organizações das quais discorda.
Algumas dessas causas são pequenas. Membros do grupo saíram em defesa de pessoas que sofrem bullying na escola, atacando os agressores on-line e forçando-os a pedir desculpas.
O Anonymous também se envolveu em confrontos com grandes empresas e agências policiais, invadindo seus sites. "O grupo se tornou um fenômeno mundial", diz Fruzsina Eordogh, um jornalista independente que cobre as atividades do grupo. "Eles estão se tornando cada vez maiores; logo não poderão mais ser chamados de Anonymous".
 
Talvez o aspecto mais assustador da espionagem cibernética é perceber até onde ela pode chegar. Quer estejamos falando de um país, um grupo terrorista ou um indivíduo, a possibilidade mais assustadora é a de que ele decida atacar um elemento crítico de infraestrutura, por exemplo a rede de energia. Isso poderia causar quedas de aviões, colisões de carros e explosão de usinas elétricas. "Seria um ato de guerra, algo fora da civilização", diz o professor John Steinbruner, da Universidade de Maryland.
Fora da civilização, talvez. Mas não mais impensável. Steinbruner acredita que Estados Unidos, China e outros países deveriam criar uma espécie de convenção de Genebra cibernética, desautorizando certas ações e organizando cooperação para garantir que não aconteçam.
 
Mas ele é pessimista quanto à possibilidade de que isso venha a ocorrer antes que algum evento catastrófico force uma solução do tipo. "Deveríamos estar negociando isso. Mas por enquanto estamos só esperando até que algo de abominável aconteça", afirmou.
 
Tradução de PAULO MIGLIACCI
 

segunda-feira, 4 de março de 2013

No mundo contemporâneo que vivemos, as diferenças entre as condições de acesso e vida das pessoas ao longo do mundo são gigantescas. Enquanto uns são chamados de heróis por serem confinados em uma casa e viverem tranquilamente sendo vigiados, outros são confinados embaixo da terra ou em fábricas em condições mais que sub humanas de exploracão. 
Enquanto alguns ganham milhões para correrem atrás de uma bola e financiarem suas festas e desejos de consumo, outros milhões tentam ganhar o minímo para a sua alimentação, para tentarem sobreviverem mais um dia. 
Contrastes de um sistema econômico que suga a vida de milhões em prol do bem estar de poucos. O exemplo abaixo é um de tantos que existem pelo mundo afora e com certeza no Brasil também. 

 04/03/2013 - 05h00

Apesar das leis, crianças trabalham em minas da Índia

GARDINER HARRIS DO "NEW YORK TIMES" 

Khliehriat, Índia 

Depois de descer 20 metros num poço escuro e úmido com a ajuda de uma escada bamba de bambu, os mineiros adolescentes entraram num buraco de 60 centímetros de altura e se arrastaram por 90 metros de lama, para então começarem seu dia de trabalho, escavando carvão. Eles usavam camisetas, calças semelhantes a pijamas e botinas de borracha. Não havia um capacete ou bota de ponteira de aço à vista. Eles amarraram panos nas cabeças para prender faroletes e taparam seus ouvidos com pano. Passaram o dia inteiro olhando a morte de frente. 

A Unicef revela que, faltando dois meses para a implementação de uma lei de 2010 que determina a obrigatoriedade de todas as crianças indianas entre seis e 14 anos de idade frequentarem a escola, cerca de 28 milhões delas trabalham. Crianças e adolescentes trabalhadores são vistos em toda parte: em lojas, cozinhas, fazendas, fábricas e canteiros de obras.

"Neste país temos leis muito boas", comentou Vandhana Kandhari, especialista da Unicef para a proteção infantil. "O problema está na implementação das leis."

A pobreza, a corrupção, as escolas decrépitas e a escassez de professores estão entre as causas da situação, e não existe um exemplo melhor do problema que as minas do tipo "toca de rato" do Estado de Meghalaya, que parecem ter saído de um romance de Charles Dickens.

Meghalaya fica no isolado nordeste da Índia, uma área comprimida entre a China, o Butão, Bangladesh e Mianmar. A maioria de sua população é tribal e cristã. Os idiomas falados, a comida e as feições das pessoas parecem tão chineses quanto indianos.

Suresh Thapa, 17, contou que trabalha nas minas "desde criança" e prevê que seus quatro irmãos façam o mesmo. Ele e sua família vivem num barraco minúsculo, feito de paus e lona, perto da mina.

"Se eles não forem para as minas, que outro trabalho podem ter?" disse a mãe de Suresh, Mina Thapa. "Precisamos que eles trabalhem. Ninguém vai nos dar dinheiro. Precisamos trabalhar e nos alimentar."

A lei indiana de 1952 referente às minas proíbe o trabalho de menores de 18 anos em minas de carvão, mas o patrão de Suresh, Kumar Subba, declarou que crianças trabalham nas minas de toda a região.

Kuni Takahashi/The New York Times
Uma lei indiana que em breve entrará em vigor torna a frequência escolar obrigatória, mas, em vez de estudar, 28 milhões de crianças e adolescentes trabalham; mineiro estuda durante uma hora de folga
Uma lei indiana que em breve entrará em vigor torna a frequência escolar obrigatória, mas, em vez de estudar, 28 milhões de crianças e adolescentes trabalham; mineiro estuda durante uma hora de folga

"As crianças que trabalham são principalmente as que são órfãs", falou Subba, que supervisiona cinco minas e emprega 130 pessoas. Ele admitiu que as condições nas minas dele e de outras pessoas na região são perigosas. Suas minas pertencem a uma mineradora estatal, afirmou. "Pessoas morrem o tempo todo. Você toma o café da manhã, vai trabalhar e não volta mais. Muitos já morreram assim." 

Embora o governo indiano tenha leis que proíbam o trabalho infantil e as condições de trabalho inseguras, a implementação das leis cabe aos Estados, na maioria dos casos. A polícia indiana é subordinada à política, de modo que são raras as operações de repressão a setores sancionados por figuras poderosas.
"O trabalho infantil continua em Meghalaya porque é permitido por aqueles que estão em posições de poder e autoridade, e a mesma coisa se dá em toda a Índia", declarou Shantha Sinha, presidente da Comissão Nacional para a Proteção dos Direitos da Criança e do Adolescente. 

Em 2010, a Impulse, organização não governamental com sede em Shillong, a capital de Meghalaya, relatou ter encontrado 200 crianças trabalhando em dez minas locais. Algumas tinham apenas cinco anos. O grupo estimou que até 70 mil crianças e adolescentes trabalhem em cerca de 5.000 minas.
As descobertas do grupo levaram à publicação na mídia indiana de imagens de crianças pequenas trabalhando sob condições pavorosas. Autoridades públicas negaram a existência de qualquer problema de trabalho infantil. 

Seguiram-se investigações da Comissão Nacional para a Proteção dos Direitos da Criança e do Adolescente, além do Instituto Tata de Ciências Sociais, um dos mais respeitados institutos independentes de pesquisa da Índia. Ambas as instituições confirmaram a presença de trabalhadores infantis. O grupo Tata descobriu 343 crianças de até 15 anos trabalhando em 401 minas e sete depósitos de carvão. 

Bindo M. Lanong, o vice-ministro chefe de Minas e Geologia do Estado de Meghalaya, refutou as descobertas.Várias minas visitadas em Meghalaya não tinham ventilação e possuíam uma única entrada. Elas não obedeciam a nenhum plano operacional, não usavam calcário para reduzir os riscos de explosões e tinham escoras de teto mínimas. As escadas de bambu eram estruturalmente frágeis e exigiam que os mineiros andassem de lado, para não caírem.

De acordo com o relatório do instituto Tata, os gerentes das minas têm dificuldade em encontrar trabalhadores em número suficiente, mesmo oferecendo salários altos. Por isso, menores de idade e outros trabalhadores são trazidos do Nepal e de Bangladesh, por meio de redes informais descritas por críticos como redes de tráfico humano. Muitos acabam virtualmente presos: embora os salários sejam altos, as operadoras das minas cobram valores altíssimos para levar água, comida e outros bens essenciais aos acampamentos de mineiros. Muitas crianças e adolescentes que trabalham nas minas não conseguem mandar dinheiro a seus pais nem ganhar o suficiente para partir.

Há poucas escolas perto das minas, e, nas que existem, as aulas são dadas nos dialetos locais, que as crianças imigrantes geralmente não falam.

No distrito de Jaintia Hills, em Meghalaya, as minas irregulares são tão endêmicas que boa parte da região parece uma paisagem lunar. Mas elas dão dinheiro aos moradores da região. Suresh contou que hoje ganha entre US$ 37 e US$ 74 por semana, um salário alto num país onde dois terços da população vive com menos de US$ 15 semanais. Ele dá o dinheiro à sua família.
Suresh disse que já viu pessoas morrerem. "Mas eu ainda não sofri um acidente."

"Bem", corrigiu, "uma vez eu machuquei as costas quando a lama cedeu, mas trabalhamos no dia seguinte mesmo assim".

Colaboraram Sruthi Gottipati, de Khliehriat, e Niharika Mandhana, de Nova Déli 

Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1239335-apesar-das-leis-criancas-trabalham-em-minas-da-india.shtml