Metamorfoses Históricas: História, livros, músicas, cinema e motos!

Metamorfoses Históricas: História, livros, músicas, cinema e motos!



quarta-feira, 1 de maio de 2013

A discussão do conceito de espaço rural e urbano é sempre um tema controverso e que envolve diferentes perspectivas. Além disso, os interesses econômicos se sobrepõem as realidades existentes no território brasileiro.
Como são as prefeituras que definem os limites em seus municípios do que é urbano e rural, temos um contexto no qual não existe um parâmetro, além da proliferação maciça de emancipações na década de 1990, que levou o Brasil a ser o país hoje com maior número de municípios no mundo.
O texto que segue aborda esta questão de forma crítica e apontando temas para reflexão. 


O que é rural e o que é urbano no Brasil?


Pesquisadores acreditam que população rural brasileira seja pelo menos o dobro da estimada pelo IBGE; raiz do problema está em decreto do governo Vargas , que define o que é urbano no país
29/04/2013
Por Nádia Tubino

É uma figura pouco usual para definir uma questão de ordem no Brasil: o que é rural e o que é urbano? Um grupo coordenado pela professora Tânia Bacelar (UFPE) e mais 15 pesquisadores pretende destravar esse nó, num projeto financiado pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário.

O IBGE aponta a população rural brasileira com 15,64%, quase 30 milhões de habitantes, segundo o censo de 2010. Os pesquisadores como Tânia Bacelar acham que pode ser o dobro.

Na raiz do problema um decreto de 1938, governo Getúlio Vargas, que define como urbano o perímetro definido pelos prefeitos locais. No Brasil cerca de 4 mil cidades têm até 20 mil habitantes. Somos 84,36% de brasileiros urbanos, ou há algo errado nessa história?

O país conta com 5.505 municípios com seus distritos e vilas. O Brasil é o país com o maior número de cidades do mundo. Lembro quando costumava viajar pela Belém-Brasília, em direção ao Tocantins, e passava pelos limites urbanos de municípios localizados nos confins da pátria.

A imagem era repetida: uma igreja pequena, uma delegacia e o prédio da prefeitura. Fácil de entender no estado, que na época, a família no poder comandava a administração pública como se fosse uma capitania hereditária. Cada município tem direito ao fundo de participação e de muitas verbas federais. Então, quanto mais, maior a verba.

Empregos desapareceram

Nas décadas de 1960, 1970 e 1980 o Brasil teve um enorme fluxo de migrantes, na maior parte em direção ao sudeste. Foram 27 milhões de pessoas que migraram do rural para o urbano.

Os motivos são variados, desde a modernização e industrialização do país, a situação econômica, com falta de empregos na zona rural, o avanço da agricultura mecanizada e da monocultura e os atrativos culturais das metrópoles. Na década de 1990, mais para o final, o fluxo interrompeu e começou a decair.

Ou seja, começou a crescer a população de centenas de municípios considerados rurais, e também começou a inverter o fluxo de migrantes, deixando as metrópoles do sudeste e voltando ao estado de origem.

É preciso entender que entre 1985 e 2006 cerca de 7 milhões de empregos desapareceram na zona rural. A queda, arredondada, foi de 23 milhões para 16 milhões de empregos. Também no mesmo período as propriedades com até 10 hectares, que são maioria no Brasil, perderam cerca de 2 milhões de hectares.

E os donos foram expulsos para o urbano. Mesmo assim elas envolvem um número acima de 4 milhões de unidades e, além de garantir 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros, ainda ocupam milhões de pessoas.

Acabar com o modelo

Portanto, a discussão sobre rural ou urbano não é uma questão teórica. Porque por trás disso tem o agronegócio e a agricultura industrial movida pela química, e do outro lado, a agroecologia e a agricultura familiar, que muito mais do que um modo de produção é um modo de vida, de convívio social e um modelo cultural, que ajuda a manter o pouco que resta de ambiente natural em algumas áreas do Brasil, principalmente na região sul.

A Universidade de Essex, na Inglaterra, diz que existem cerca de 1,4 milhão de agricultores que seguem os princípios da agroecologia no mundo, os pesquisadores dessa instituição acompanham mais de 200 projetos, corresponde a 30 milhões de hectares.

Eles não têm dúvida de dizer que o problema do êxodo rural está no avanço do agronegócio, que desestimula a produção da agricultura familiar e implica na perda da cultura camponesa e dos povos das comunidades tradicionais. No mundo cerca de 1,8 bilhão de pessoas habitam florestas e matas, regiões áridas, encostas íngremes ou terras inadequadas para produção de alimentos.

O ponto central é esse: a quem interessa acabar com a agricultura familiar e camponesa? Se depender das estatísticas, como diz o economista Ignacy Sachs, o Brasil em poucas décadas se tornaria totalmente urbano. Uma discussão que também foi levantada desde a década passada pelo pesquisador José Eli da Veiga.

O plano de realizar esse delírio deve ser dos capitalistas de Wall Street e os clones brasileiros com base na experiência estadunidense – aponta a população rural agrícola em apenas 1%. O problema é que o índice da população não-agrícola, ou seja, mora na zona rural, mas vive da economia urbana, se mantém em 20%.

Uma das discussões que os pesquisadores do projeto bancado pelo MDA deverão definir. Afinal os setores de serviço e industrial das cidades do interior fazem parte do rural. Segundo Tânia Bacelar, a ideia é definir as cidades em faixas demográficas, geográficas e diferenciar nos seis biomas brasileiros definidos – Amazônia, Pantanal, Pampa, Caatinga, Mata Atlântica, Cerrado.

No campo os homens e os velhos

Porém, existem outras perspectivas desse mesmo problema. A população brasileira está 
envelhecendo rapidamente. Em 2025, o Brasil será o sexto país com maior número de idosos na faixa dos 60 anos – serão cerca de 32 milhões. Uma parte deles vive no campo.

A migração, que começou a cair no final da década de 1990, tornou-se seletiva. As mulheres mais jovens são maioria, na verdade, desde a década de 1980 os demógrafos já registraram este aumento. No caso do Rio Grande do Sul migraram 22% mais de mulheres do que de homens. Porto Alegre é a capital que, desde a década de 1950, conta com maior número de mulheres em relação aos homens. 

Dois pesquisadores, José Carlos Froehlich e Cassiane da Costa Rauber, do curso de pós-graduação em extensão rural da Universidade de Santa Maria fizeram um trabalho sobre o êxodo seletivo na região central do estado, envolve 28 municípios.

Na faixa dos 25 aos 59 anos, 25 municípios apresentaram predomínio de populações masculinas, evidenciando um processo de masculinização acentuado:
“O êxodo seletivo intenso ocorre há mais de uma década e se desenha como tendência futura. A masculinização que se desenvolve silenciosamente pode comprometer o tecido social dos territórios rurais, tão importante para a região. Com a emigração jovem agrava-se o processo de envelhecimento populacional. O celibato entre os rapazes rurais já se desenha na região”, registraram os pesquisadores.

Em Santa Catarina este tema já rendeu um documentário “Celibato no Campo”, de Ilka Goldschmidt e Cassemiro Vitorino. O estado tem para cada grupo de 100 mulheres, 122 homens. Na Europa, conforme um relatório do Parlamento Europeu do início dos anos 2000, o número de agricultores com menos de 35 anos se reduzirá a zero em 2020.
O sul da Europa, principalmente Portugal e Espanha, registram os índices mais altos de envelhecimento da população rural. O Japão já tem mais de 30% da população na faixa dos 60 anos.

Quem vai produzir a comida? 

É uma encrenca a mais na época da modernização digital, da globalização, dos mercados onipotentes e da mídia desinformada e totalmente urbana. Além disso, os organismos internacionais, como a FAO, costumam bater na tecla do aumento da produção de alimentos até 2050, deveria crescer de 2,3 bilhões de toneladas para mais de três bilhões, um aumento de 50%. Mas não aborda a questão de quem vai produzir esta comida. Será o agronegócio químico e transgênico, com seus equipamentos cada vez mais sofisticados?

Ou vai sobrar espaço para as comunidades familiares, os grupos tradicionais, as cooperativas de assentados – no RS são 327 assentamentos, em 91 municípios e mais de 13 mil famílias-, ou os faxinais do Paraná, um sistema antigo implantado pelos ucranianos no final dos anos 1800 e que ainda tenta sobreviver.

Faxinal é um sistema que mistura a plantação de erva-mate com as araucárias e que se traduz numa produção menor, mas mais diversificada. Em 1997, uma lei estadual definiu o perfil dos faxinais – atualmente são 44, mas em 1994 eram 121, sendo que 19 estão na região de Prudentópolis, numa extensão de 13.870 hectares.

Na década de 1970 o Paraná foi o estado que mais contribuiu para a migração no Brasil, saíram 2,5 milhões de pessoas da zona rural, muitas delas em direção ao Centro-oeste, e agora, indo para a Amazônia. Como diz uma moradora de outra área no sul do Brasil, na região do rio Ibirapuitã, município de Alegrete:
“Às vezes as pessoas dizem: que buraco. Mas eu adoro esse buraco.”

O depoimento consta de outro trabalho da Universidade de Santa Maria (extensão rural) sobre o esvaziamento do pampa gaúcho. A moradora mora a 70 km da sede do município, ou seja, a cidade.

Os filhos precisam sair de casa para cursar o ensino médio que não tem na região e não há transporte público. A passagem custa R$15. Os jovens querem estudar, querem evoluir, como em qualquer outro lugar do mundo. As atividades na região se concentram na pecuária de corte ou soja. Não é nem o emprego urbano que atrai, porque estas cidades continuam registrando êxodo.

Trabalho em comunidade

É uma situação diferente da agricultura familiar colonial, de tradição europeia. Segundo dados do IBGE de 2006, o RS conta com 378 mil estabelecimentos agrícolas familiares que ocupavam 992 mil pessoas – segundo o censo de 2010, 1,6 milhão de pessoas residem em 515 mil domicílios rurais permanentes.

Eles passaram a industrializar os seus produtos, como o caso da agroindústria das famílias Lazzareti e Picolotto, da comunidade linha Savaris, 7 km do município de Constantina, norte do RS.

Eles desistiram de plantar milho e depender das cotações de commodities. Resolveram ampliar uma área de cana-de-açúcar com variedades específicas. Passaram a produzir açúcar mascavo, melado, schmier (geleia), além de cachaça e licores em 14 hectares. São sete famílias que dividem tudo e ainda trouxeram os filhos de volta, que trabalhavam na cidade como assalariados.

Ainda são responsáveis pelo controle, recolhimento e entrega de 320 cestas básicas destinadas as famílias carentes do município, através do Programa Fome Zero. O selo “Vita Colônia”, da COOPERAC, a agroindústria da comunidade, é um dos modelos que viabiliza economicamente a agricultura familiar e camponesa e mantém viva a chama de um modelo de vida que teima em não desaparecer. E que pretende entrar nas estatísticas como integrante do desenvolvimento social e econômico desse país.

(Foto: Reprodução)

Fonte:  http://www.brasildefato.com.br/node/12787

segunda-feira, 29 de abril de 2013

A ditadura militar no Brasil (1964-1985) ainda é um tema controverso e com muitos mistérios, devido a forma como a abertura democrática foi realizada. Mas aos poucos, a ação da Justiça começa a ganhar forma e pelo menos as investigações são retomadas. 
Dificilmente no Brasil teremos os envolvidos com torturas, mortes e desaparecimentos condenados, como ocorreu em outros países vizinhos, mas ao menos teremos condições de conhecer esse período da história mais a limpo. 
Que as verdades, de ambos os lados (militares, governo, guerrilheiros, partidos de esquerda e direita) venham a tona para entendermos os interesses e as motivações destes anos de chumbo no Brasil!

MPF denuncia coronel Ustra por ocultação de cadáver na ditadura militar

29/04/2013 - 19h23
 
Bruno Bocchini                              Repórter da Agência Brasil
 
São Paulo – O Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo denunciou, pelo crime de ocultação de cadáver, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna de São Paulo (DOI-Codi) no período de 1970 a 1974. Também foi denunciado pelo mesmo crime o delegado aposentado Alcides Singillo, que atuou no Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops-SP) na ditadura militar. 
 
Na ação, ajuizada na última sexta-feira (26), Ustra e Singillo são acusados de ocultar o cadáver do estudante de medicina Hirohaki Torigoe, então com 27 anos, morto no dia 5 de janeiro de 1972. Torigoe foi membro da Ação Libertadora Nacional (ALN) e do Movimento de Libertação Popular, organizações de resistência à ditadura.

De acordo com o MPF, a versão oficial do crime – divulgada à imprensa duas semanas após o desaparecimento do estudante – sustenta que Torigoe foi morto na Rua Albuquerque Lins, no bairro de Higienópolis, na zona oeste de São Paulo, em um tiroteio com a polícia. Segundo as fontes oficiais da época, a demora na divulgação da morte ocorreu porque a vítima usava documentos falsos, com o nome de Massahiro Nakamura.

No entanto, o MPF contesta a versão oficial com base no depoimento de duas testemunhas: André Tsutomu Ota e Francisco Carlos de Andrade, presos na mesma data. De acordo com os depoimentos, Torigoe foi ferido e levado ainda com vida ao DOI-Codi do 2º Exército, no bairro do Ibirapuera, onde foi interrogado e submetido à tortura.

As testemunhas afirmaram que os agentes responsáveis pela prisão de Torigoe tinham pleno conhecimento da verdadeira identidade do detido. Apesar disso, de acordo com o MPF, todos os documentos a respeito da morte da vítima, inclusive o laudo de necropsia, a certidão de óbito e o registro no cemitério, foram elaborados em nome de Massahiro Nakamura.

Para o MPF, além de utilizarem o nome falso nos documentos de óbito e de sepultarem clandestinamente o estudante no Cemitério de Perus, em São Paulo, os subordinados de Ustra negaram aos pais de Torigoe informações a respeito do filho desaparecido.

Na ação, o órgão acusa Ustra de enterrar clandestinamente Hirohaki Torigoe, falsificar os documentos sobre a morte com o intuito de dificultar a localização do corpo, ordenar a seus subordinados que deixassem de prestar informações aos pais da vítima e de retardar a divulgação da morte em duas semanas, com a intenção de ocultar o cadáver e garantir a impunidade pelo homicídio.

“A conduta dolosa de ocultação do cadáver resta totalmente caracterizada pelo fato de que os pais da vítima estiveram nas dependências do DOI-Codi antes da divulgação da notícia do óbito, em busca do paradeiro do filho. Lá, porém, funcionários do destacamento sonegaram-lhes a informação de que Hirohaki Torigoe fora morto naquele mesmo local e que seu corpo fora clandestinamente sepultado com um nome falso”, ressalta o texto da ação.

Desde 2006, um inquérito civil público busca localizar os restos mortais de Hirohaki Torigoe. “Até hoje permanecem os restos mortais de Hirohaki Torigoe ocultos para todos os fins, inclusive os penais”, afirma o MPF.

O delegado de Polícia aposentado Alcides Singillo é acusado de deixar de comunicar a correta identificação e localização do corpo à família da vítima, o cemitério onde ele supostamente foi enterrado e o cartório de registro civil onde a morte foi registrada. De acordo com o MPF, Singillo era, na época, delegado do Deops de São Paulo e tinha ciência da identidade do estudante, pois colheu o depoimento do verdadeiro Massahiro Nakamura, que foi a delegacia após a notícia de que Torigoe usava seu nome.

Segundo o advogado de Ustra, Paulo Esteves, o ex-coronel nunca participou de nenhum tipo de violação de direitos. “A violência não foi apanágio da vida dele”, disse. A reportagem não conseguiu localizar o advogado do ex-delegado Singillo.
 
Edição: Carolina Pimentel
 
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Fonte:http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-04-29/mpf-denuncia-coronel-ustra-por-ocultacao-de-cadaver-na-ditadura-militar

domingo, 28 de abril de 2013


Charges da semana: o que foi notícia retratada de forma bem humorada, mas sem perder a crítica! (24 a 28 de abril de 2013)

Pão de Sal caro

O sertão e o discursso do governo

Lei de Chico de Brito

Crianças na prisão

Renan Calheiros promete retaliação do poder judiciário

Arnold Schwarzenegger com Sarney, Renan e Feliciano

Censura à mídia

Brasil tem democracia demais...

Igualdade, Liberdade e Fraternidade

Político arrotando depois do almoço

PEC 37 - O Sonho dos políticos corruptos

Viagem só de IDa para Marte

Base eleitoral e a inflação

PEC quer tirar poderes do STF

Leão esperando sua declaração

Leão e a declaração do Imposto de Renda

segunda-feira, 22 de abril de 2013

A leitura é sempre um universo paralelo e fascinante, para aqueles e aquelas que tem este hábito. Uma indicação para os aficionados por ficção científica é o clássico Neuromancer, de William Gibson. Parte da narrativa deste livro foi fonte de inspiração para a produção Matrix, sucesso nas telas de cinema.
Vale a pena a leitura deste livro que chega aos 30 anos de seu lançamento. Visões de tecnologias de um futuro que se materializou e de tantas outras (quem sabe) que ainda estão por vir....

Sonhos cibernéticos

‘Neuromancer’, romance que legitimou o cyberpunk, completa 30 anos. As histórias desse subgênero da ficção científica se passam em futuro distópico com ênfase em alta tecnologia e degradação social. 
 
Por: Fred Furtado                                                                      Publicado em 17/04/2013 

 

No mundo imaginado por William Gibson, a fronteira entre real e virtual é imprecisa. Os usuários de computadores na megacidade criada por ele vivem uma “alucinação consensual coletiva”. (imagem: Wikimedia Commons) 
 
Um mundo onde as corporações multinacionais têm grande poder e controlam um volume substancial da sua vida; onde a computação e a internet estão em todos os lugares, sendo usados até para fins militares; onde as cidades se expandiram tanto até se fundirem; e onde a interface entre homem e máquina está avançando.

Pode parecer uma descrição do mundo atual ou mesmo de alguns anos à frente, mas na verdade é o futuro representado no romance Neuromancer, do escritor norte-americano William Gibson.

Escrito em 1983 (mas publicado em 1984), o livro transformou esse cenário num elemento integral do subgênero que legitimou, o cyberpunk. Tecnologias de informação e cibernética mescladas à desintegração na ordem social são alguns dos elementos que caracterizam esse estilo.
 
A história, num tempo futuro não identificado, mas supostamente não tão distante da atualidade, acompanha o caubói Case. Em Neuromancer, caubóis não são os vaqueiros do Velho Oeste – eles se assemelham mais aos nossos hackers. São pessoas que ganham a vida invadindo computadores e roubando informação.

Por meio de dispositivos inteligentes, os decks, os caubóis navegam a “alucinação consensual” da matriz, uma versão muito mais sofisticada da internet que é projetada em 3D na mente do caubóis e de todos que interagem com ela. Quando conectada a ela, o usuário se encontra no ciberespaço, termo cunhado pelo próprio Gibson e que hoje integra o meio da computação.

Junto com o inescrutável Armitage, a perigosa Molly e o psicótico Peter Riviera, Case é contratado pelo misterioso Wintermute para uma missão que o fará sair de Chiba City, no Japão, passar por Istambul (Turquia) e pelo Sprawl, megacidade que cobre boa parte da costa leste dos Estados Unidos, até chegar às estações espaciais que orbitam a Terra.
Obras de William Gibson
No conto Burning chrome, de 1982, e depois no romance Neuromancer, publicado em 1984, William Gibson cunhou o termo 'ciberespaço', aludindo à rede global de comunicação, na época incipiente.
Tudo isso num clima noir e envolvendo elementos de contracultura, computação e cibernética, também descrito em inglês como high tech, low life; em português, algo como ‘alta tecnologia, vida baixa’.

 

Marco um

Segundo o professor de jogos digitais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o escritor de ficção científica Fábio Fernandes, Neuromancer não é considerado o marco zero do cyberpunk.

“Esse título é dado ao romance City come a-walkin, do escritor norte-americano John Shirley, de 1980. Mas a obra de Gibson é brilhante e tem seu diferencial no excesso de estilo, nas imagens que cria e no seu olho para o detalhe, entre outros aspectos”, observa.

“É preciso lembrar que ele já tinha 35 anos quando escreveu Neuromancer – não era um escritor inexperiente, apesar de ser seu primeiro romance,” acrescenta Fernandes, que traduziu a obra para o português (editora Aleph).

Entre as inspirações de Gibson, o escritor brasileiro destaca a pop art, especialmente a de temática espacial dos anos 70; a cultura japonesa; o nascente mundo da informática; e o movimento de contracultura.

“Esteticamente, há semelhanças com o filme Blade Runner, mas Gibson as nega. Diz que entrou no cinema para ver o filme, mas saiu no meio para não se influenciar”, conta Fernandes.

 

Previsões

Volta e meia, obras de ficção científica são julgadas pela sua capacidade de previsão do futuro. Embora essa não seja considerada uma métrica válida para escritores e críticos, fãs do gênero gostam de discutir como esse ou aquele livro acertou em prever o desenvolvimento de um determinado tipo de tecnologia.

Não poderia ser diferente com Neuromancer. Mas Gibson é o primeiro a refutar o título de profeta. Ele argumenta que se realmente fosse presciente, teria pensado no telefone celular, um dispositivo cuja ausência na história de Case e seus comparsas é, hoje em dia, extremamente chamativa.

Outro elemento que não se concretizou foi a supremacia cultural do Japão. Na década de lançamento de Neuromancer, apostava-se que o futuro seria dominado por influências nipônicas, mais ou menos como atualmente se acredita que será o caso com a cultura chinesa.
Shibuya, Tóquio
Quando 'Neuromancer' foi lançado, apostava-se que o futuro seria dominado por influências nipônicas, simbolizado aqui pela Times Square japonesa, Shibuya, em Tóquio. No entanto, essa previsão não se concretizou. (foto: Guwashi/ CC BY 2.0)
Finalmente, em determinado momento da narrativa, Case se refere a 3 megabytes (MB) de memória RAM como um item “quente”. Embora o ‘calor’ da memória tenha mais a ver com o conteúdo guardado nela, é risível pensar que no futuro megabytes ainda terão alguma relevância, já que nós, no presente, estamos trabalhando com gigabytes (GB) e terabytes (TB), volumes mil e um milhão de vezes maiores que MB.

 

Ocaso

Um detalhe curioso da obra é o número acima da média de referências ao Brasil, desde drogas sintéticas a instalações de inteligência artificial. Para Fernandes, a presença do país no texto não tem significado mais profundo e estaria lá porque Gibson precisava de um lugar que parecesse exótico. “Na época, o Brasil era um lugar violento associado ao tráfico de drogas”, lembra o escritor.

 Apesar de seu sucesso nos anos 1980, o cyberpunk hoje está praticamente extinto como gênero literário. Seus escritores mais emblemáticos se dedicam a uma ficção científica que não mais se enquadra nos padrões do subgênero que deu origem a Neuromancer.
“É um pós-cyberpunk. Na verdade, houve uma abertura de escopo das histórias, inclusive com visitas ao passado. Um dos filhos do cyberpunk é o steampunk, cujas histórias se passam numa era Vitoriana com tecnologias que nunca existiram”, conta Fernandes.

Fred FurtadoCiência Hoje/RJ

Fonte:  http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/sobrecultura/2013/04/sonhos-ciberneticos

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A arqueologia sempre nos surpreende com suas descobertas, suas interpretações e análises. A Antiguidade Clássica sempre nos surpreende pelas possibilidades ainda de novidades, como o caso descrito na reportagem abaixo, que através das fontes documentais, os pesquisadores conseguem aproximar a narrativa da realidade das ruínas encontradas por toda a Europa, neste caso. 
Importante se a arqueologia fosse também incentivada com maior ênfase em terras brasileiras, pois muito de nosso passado perde-se pela falta de investigação e conservação do patrimônio. Cuidado que a entrada do mundo inferior pode estar aberta....

O portão de Plutão?

Publicado em 08/04/2013
Arqueólogos italianos podem ter encontrado uma porta para o ‘mundo inferior’, descrita em históricos textos gregos e romanos. 

Uma simulação digital de como seria a recém-descoberta 'Porta do Inferno' nos tempos do Império Romano. O local era rota de peregrinação naquela época. (imagem: Francesco D'Andria) 
 
Cientistas italianos descobriram a porta para o ‘inferno’. Calma, não se trata de um sinal do apocalipse. Na verdade, um grupo de arqueólogos italianos encontrou ruínas de um antigo templo que a tradição romana diz abrigar um portal para o mundo inferior, o hades. 

Segundo escritos de cerca de dois mil anos, esse templo estaria localizado próximo à antiga cidade romana de Hierápolis (perto da atual Pamukkale, na Turquia). Dedicado a Hades (Plutão) e Perséfone (Core), ele abrigaria uma espécie de caverna com vapores altamente mortais, a tal ‘porta do inferno’ – descrita pelo historiador grego Strabo como um local "cheio de um vapor tão nebuloso e denso que dificilmente era possível ver o chão" e no qual "qualquer animal que entre encontra a morte instantânea". 

Lugar bacana, não é? Pois bem, naqueles tempos a cidade estava na rota de muitos peregrinos que circulavam pela região. Conforme o arqueólogo Francesco D'Andria, da Universidade de Salento (Itália), declarou ao Discovery News, a maioria dos visitantes do templo vinha em busca da água da fonte existente no local, capaz de produzir profecias e visões em sonhos – e ainda aproveitava as fontes termais das proximidades

A descoberta do complexo foi feita a partir da reconstrução das rotas para essas fontes. Em meio às muitas ruínas do local, os italianos identificaram um templo dedicado às deidades do hades e evidências arquitetônicas que batem com as descrições históricas. 
Portão de Plutão
O sítio encontrado pelos arqueólogos apresenta características muito semelhantes ao local descrito nos textos históricos. As inscrições indicam um templo dedicado a Hades (Plutão) e Perséfone (Core), senhores do mundo inferior. (foto: Francesco D'Andria)
Fora seu aspecto místico, a letalidade da caverna era quase ‘turística’: os pesquisadores explicam que, apesar de serem proibidos de se aproximar da entrada, os peregrinos assistiam aos ritos dos degraus e recebiam pequenas aves para serem levadas até a abertura e comprovar os efeitos fatais. 
 
Os sacerdotes também bebiam da água alucinógena e sacrificavam touros em honra a Plutão. Os próprios arqueólogos comprovaram os efeitos dos vapores durante as escavações: diversos pássaros que se aproximaram da abertura quente morriam imediatamente com o vapor tóxico. 

Segundo D'Andria, a descoberta é excepcional por confirmar informações que só existiam em fontes históricas muito antigas. Ele explica que o templo era popular até o século 4 e foi visitado até o século 6. Com o crescimento do catolicismo, no entanto, acabou abandonado – e, posteriormente, destruído por terremotos e intempéries. 

Os pesquisadores trabalham, agora, na reconstrução digital do local. Essa não foi a primeira descoberta polêmica e mística do grupo: dois anos atrás, eles anunciaram ter encontrado, na mesma região, um túmulo que pode ter pertencido ao apóstolo Felipe, um dos doze discípulos de Jesus Cristo, segundo a Bíblia. 

Porta dos fundos?

Saindo um pouco da mitologia e da antiguidade, o nosso mundo já possui outra ‘porta para o inferno’, essa bem mais moderna. Localizada não muito longe dali, na região de Derweze  (ou Darvaza), no Turcomenistão, ela arde em labaredas incandescentes desde a década de 1970. No entanto, muito longe de ser obra de algum deus da antiguidade, esse portão em pleno deserto de Karakum é fruto da ação humana.
Derweze
No deserto do Turcomenistão, uma outra 'porta para o inferno', que nada tem a ver com deuses antigos, mas com a economia moderna. (foto: Wikimedia commons)

No início da década de 1970, a então União Soviética pretendia explorar os ricos depósitos de gás natural da região. Quando o chão abaixo da plataforma de perfuração cedeu, criou um buraco de cerca de 70 metros de diâmetro que liberava gás natural na atmosfera. Para prevenir seus efeitos tóxicos, os geólogos decidiram que a melhor opção seria ‘tacar fogo em tudo’, na esperança de que, em algumas semanas, o reservatório se esgotasse. Resultado: o regime comunista acabou, a União Soviética se esfacelou e o nosso ‘inferno moderno’ continua a arder e a espalhar um forte odor pela região. 

Apesar de nenhum templo ter sido construído e de ninguém sacrificar touros por lá, Darvaza se tornou também uma atração turística – até a tribo que habitava a região foi expulsa de lá em 2004, para não ‘incomodar’ os visitantes. Desde 2010 o governo do país vem buscando formas de fechar a porta ou ao menos limitar a sua influência no desenvolvimento de outros campos de extração de gás natural na região. 

Marcelo Garcia 
Ciência Hoje On-line

Fonte:http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/2013/04/o-portao-de-plutao/view
 

sábado, 13 de abril de 2013

Embora com todas as informações e conhecimentos da história que temos nos dias atuais, ainda permanece forte na sociedade brasileira o preconceito e a intolerância com determinados grupos taxados de inferiores ou doentes. 
A notícia retratada abaixo demonstra como o Brasil ainda precisa avançar na superação destes preconceitos históricos, como uma rigidez maior na legislação referente a intolerância e a violência nos diferentes espaços sociais e virtuais. O caso exposto aqui mesmo no blog do trote na UFMG é um exemplo de como essas ideias e concepções permanecem na sociedade como um todo.
O levantamento do estudo reproduzido, ainda chama atenção como a região sul ainda concentra a maioria dos grupos neonazistas no Brasil. Uma questão que fica: por que? Muitas respostas são possíveis....

Mapa da intolerância: região sul concentra maioria dos grupos neonazistas no Brasil


Léo Rodrigues - Portal EBC11.04.2013 - 18h49 | Atualizado em 12.04.2013 - 19h07


O crescimento do número de simpatizantes neonazistas tem se tornado uma tendência internacional. É o que aponta um monitoramento da internet realizado pela antropóloga e pesquisadora da Unicamp, Adriana Dias. De 2002 a 2009, o número de sites que veiculam informações de interesse neonazistas subiu 170%, saltando de 7.600 para 20.502. No mesmo período, os comentários em fóruns sobre o tema cresceram 42.585%.

Nas redes sociais, os dados são igualmente alarmantes. Existem comunidades neonazistas, antissemitas e negacionistas em 91% das 250 redes sociais analisadas pela antropóloga. E nos últimos 9 anos, o número de blogs sobre o assunto cresceu mais de 550%.

Adriana Dias trabalha há 11 anos mapeando grupos neonazistas que atuam na internet e também no mundo não virtual. Devido ao conhecimento construído, a pesquisadora já prestou consultoria para a Polícia Federal e para serviços de inteligência de Portugal, Espanha e outros países.

- Veja as estatísticas do crescimento de sites com assuntos neonazistas:
Gráfico: quantidade de sites neonazistas na internet

Brasil

Segunda Adriana, os grupos neonazistas eram predominantes no sul do país, mas nos últimos anos têm crescido vertiginosamente no Distrito Federal, em Minas Gerais e em São Paulo. Ela vem mapeando o número de internautas que baixam arquivos de sites neonazistas e considera simpatizantes aqueles que já fizeram mais de 100 downloads. Por esse critério, seus dados de 2013 apontam que há aproximadamente 105 mil neonazistas na região Sul.

- Estados com maior número de internautas que baixaram mais de 100 arquivos de sites neonazistas (clique nos estados)

No caso de Minas Gerais, os movimentos parecem ter ganhado fôlego em 2009, como forma de responder ao assassinato de Bernardo Dayrell Pedroso. Fundador da revista digital "O Martelo", ele era uma referência do movimento neonazista na cidade. Acabou morto em um evento no município de Quatro Barras (PR), por uma outra gangue de skinheads neonazistas que via em Bernardo uma barreira para sua ascenção.

Organização

Não é possível descrever um único percurso para ingresso no movimento neonazista. Mas há uma trajetória mais comum: "Geralmente, eles atendem ao proselitismo na juventude. O jovem em busca de uma causa acaba recebido pelo grupo, que o convencem de que o negro ou o judeu tomou seu espaço no mercado de trabalho, na universidade, etc", explica Adriana Dias.

Os líderes dos grupos geralmente não participam das ações violentas. "São pessoas que já possuem uma condição financeira melhor e geralmente possuem curso superior. Eles conduzem o movimento e leem muito material antissemita. Possuem um alto grau de instrução e buscam se resguardar de eventuais ações judiciais", descreve a pesquisadora.

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