A arqueologia sempre nos surpreende com suas descobertas, suas interpretações e análises. A Antiguidade Clássica sempre nos surpreende pelas possibilidades ainda de novidades, como o caso descrito na reportagem abaixo, que através das fontes documentais, os pesquisadores conseguem aproximar a narrativa da realidade das ruínas encontradas por toda a Europa, neste caso.
Importante se a arqueologia fosse também incentivada com maior ênfase em terras brasileiras, pois muito de nosso passado perde-se pela falta de investigação e conservação do patrimônio. Cuidado que a entrada do mundo inferior pode estar aberta....
O portão de Plutão?
Arqueólogos italianos podem ter encontrado uma porta para o
‘mundo inferior’, descrita em históricos textos gregos e romanos.
Uma simulação digital de como seria a recém-descoberta
'Porta do Inferno' nos tempos do Império Romano. O local era rota de
peregrinação naquela época. (imagem: Francesco D'Andria)
Cientistas italianos descobriram a porta para o ‘inferno’. Calma, não
se trata de um sinal do apocalipse. Na verdade, um grupo de arqueólogos
italianos encontrou ruínas de um antigo templo que a tradição romana
diz abrigar um portal para o mundo inferior, o hades.
Segundo escritos de cerca de dois mil anos, esse templo estaria
localizado próximo à antiga cidade romana de Hierápolis (perto da atual
Pamukkale, na Turquia). Dedicado a Hades (Plutão) e Perséfone (Core), ele abrigaria uma espécie de caverna com vapores altamente mortais, a tal ‘porta do inferno’ – descrita pelo historiador grego Strabo
como um local "cheio de um vapor tão nebuloso e denso que dificilmente
era possível ver o chão" e no qual "qualquer animal que entre encontra a
morte instantânea".
Lugar bacana, não é? Pois bem, naqueles tempos a cidade estava na
rota de muitos peregrinos que circulavam pela região. Conforme o
arqueólogo Francesco D'Andria, da Universidade de Salento (Itália),
declarou ao Discovery News,
a maioria dos visitantes do templo vinha em busca da água da fonte
existente no local, capaz de produzir profecias e visões em sonhos – e
ainda aproveitava as fontes termais das proximidades.
A descoberta do complexo foi feita a partir da reconstrução das rotas
para essas fontes. Em meio às muitas ruínas do local, os italianos
identificaram um templo dedicado às deidades do hades e evidências
arquitetônicas que batem com as descrições históricas.
Fora seu aspecto místico, a letalidade da caverna era quase
‘turística’: os pesquisadores explicam que, apesar de serem proibidos de
se aproximar da entrada, os peregrinos assistiam aos ritos dos degraus e
recebiam pequenas aves para serem levadas até a abertura e comprovar os
efeitos fatais.
Os sacerdotes também bebiam da água alucinógena e sacrificavam touros
em honra a Plutão. Os próprios arqueólogos comprovaram os efeitos dos
vapores durante as escavações: diversos pássaros que se aproximaram da
abertura quente morriam imediatamente com o vapor tóxico.
Segundo D'Andria, a descoberta é excepcional por confirmar
informações que só existiam em fontes históricas muito antigas. Ele
explica que o templo era popular até o século 4 e foi visitado até o
século 6. Com o crescimento do catolicismo, no entanto, acabou
abandonado – e, posteriormente, destruído por terremotos e intempéries.
Os pesquisadores trabalham, agora, na reconstrução digital do local. Essa não foi a primeira descoberta polêmica e mística do grupo: dois anos atrás, eles anunciaram ter encontrado, na mesma região, um túmulo que pode ter pertencido ao apóstolo Felipe, um dos doze discípulos de Jesus Cristo, segundo a Bíblia.
Porta dos fundos?
Saindo um pouco da mitologia e da antiguidade, o nosso mundo já
possui outra ‘porta para o inferno’, essa bem mais moderna. Localizada
não muito longe dali, na região de Derweze
(ou Darvaza), no Turcomenistão, ela arde em labaredas incandescentes
desde a década de 1970. No entanto, muito longe de ser obra de algum
deus da antiguidade, esse portão em pleno deserto de Karakum é fruto da
ação humana.
No início da década de 1970, a então União Soviética pretendia
explorar os ricos depósitos de gás natural da região. Quando o chão
abaixo da plataforma de perfuração cedeu, criou um buraco de cerca de 70
metros de diâmetro que liberava gás natural na atmosfera. Para prevenir
seus efeitos tóxicos, os geólogos decidiram que a melhor opção seria
‘tacar fogo em tudo’, na esperança de que, em algumas semanas, o
reservatório se esgotasse. Resultado: o regime comunista acabou, a União
Soviética se esfacelou e o nosso ‘inferno moderno’ continua a arder e a
espalhar um forte odor pela região.
Apesar de nenhum templo ter sido construído e de ninguém sacrificar touros por lá, Darvaza se tornou também uma atração turística – até a tribo que habitava a região foi expulsa de lá em 2004, para não ‘incomodar’ os visitantes. Desde 2010 o governo do país vem buscando formas de fechar a porta ou ao menos limitar a sua influência no desenvolvimento de outros campos de extração de gás natural na região.
Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line
Fonte:http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/2013/04/o-portao-de-plutao/view
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