O Fantasma da Energia Nuclear
O fantasma da energia nuclear ronda o mundo desde seu uso a partir da década de 1940. Seu uso para produção de energia elétrica ou como item bélico vem sendo questionado ao longo das últimas décadas e os desastres com este tipo de produto geram um grande impacto no meio ambiente bem como nos meios de comunicação.
E o Japão é assolado por este fantasma desde 1945, com as bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki. Recentemente o tsunami que devastou parte da costa japonesa (2011), levou ao colapso a usina nuclear de Fukushima e as previsões não são nada animadoras para os próximos anos, ou melhor décadas!
29/10/2012 - 15h19
Peixes de Fukushima podem ficar "não comestíveis por uma década"
FIONA HARVEY do "GUARDIAN"
Os peixes que vivem nas águas próximas à usina nuclear de Fukushima, no Japão, podem apresentar radiatividade elevada demais para consumo por ao menos uma década, revelam amostras que demonstram que os níveis de radiatividade permanecem elevados e mostram pouco sinal de queda.
De acordo com estudo publicado na edição da última quinta-feira (25) da revista "Science", as espécies de maior porte e as que vivem perto do piso do mar oferecem o maior risco, o que significa que bacalhaus, alabotes, julianas, raias e linguados das águas em questão terão seu consumo restrito por anos.
Kazuhiro Nogi/AFP | ||
Centenas de manifestantes japoneses protestam em Tóquio contra a política energética nuclear do governo |
Amostras de peixes pescados nas águas próximas aos reatores desativados depois de um desastre sugerem que ainda existe uma fonte de césio no piso do mar ou ainda em descarga para as águas marinhas, talvez pelo resíduo da água usada no resfriamento do reator da usina. Como os níveis de isótopos radiativos nos peixes não estão caindo com a rapidez que deveriam, as perspectivas da pesca na área devem ser pobres pelos próximos dez anos, disse o autor do estudo ao "Guardian".
"Esses peixes podem ter de ficar proibidos por muito tempo. A coisa mais surpreendente para mim foi que os níveis [de radiatividade] nos peixes não estavam caindo. Os números deveriam estar muito mais baixos", disse Ken Buesseler, cientista sênior da Woods Hole Oceanographic Institution, nos EUA, e autor do estudo intitulado "Pescando Respostas ao Largo de Fukushima".
Ele disse que suas constatações --extraídas em parte de pesquisas japonesas e em parte de amostras de peixes obtidas na área-- demonstram como é difícil prever o resultado de um incidente nuclear tal como o de Fukushima. Em 2011, depois do terremoto e tsunami que atingiram o Japão em 11 de março e causaram a morte de quase 20 mil pessoas, os reatores nucleares da usina sofreram uma série de vazamentos de radiação causados pela falha de seus sistemas de refrigeração, e os trabalhadores da usina tiveram de trabalhar freneticamente para desativá-los. Foi o pior desastre nuclear no planeta desde o de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.
Depois do incidente, o governo japonês tentou acalmar o temor do público baixando o nível de radiatividade que torna um peixe inapropriado para o consumo humano. Desde abril de 2012, só podem ser vendidos no Japão peixes que contenham menos de cem becqueréis de césio 134 e de césio 137 por quilo de peso, ante um limite anterior de 500 becqueréis.
Buesseler disse que isso havia acontecido não por conta de uma mudança nas recomendações científicas, mas porque o governo desejava reassegurar a população. "Não é um nível letal. Não estou tentando ser alarmista", disse. "Mas os níveis de radiatividade nos peixes testados são mensuráveis e consistentes. Representam uma pequena elevação de risco".
Ele acrescentou, porém, que comer grande quantidade desses peixes por prazos longos poderia ser prejudicial. Os peixes são parte mais importante da dieta no Japão do que em países como os Estados Unidos e Reino Unido.
Tradução de PAULO MIGLIACCI.
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