Metamorfoses Históricas: História, livros, músicas, cinema e motos!
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sexta-feira, 14 de junho de 2013
Há alguns dias pulsa nas metrópoles brasileiras o movimento popular questionando o aumento do valor das passagens de ônibus e os meios de comunicação fazem a cobertura de tais manifestações, apresentando-se favoravéis ou contra.
Um ponto importante destacar é como aos poucos a população brasileira, embora ainda uma minoria, começa a sair ás ruas em busca de seus direitos, em um processo "parecido" com o que acompanhamos em alguns países desde 2010, com a revolta no Egito.
Importante frisar como os meios estatais lidam com tais manifestações, gerando o fenômeno da violência policial que acaba sendo a ponta do iceberg desdes movimentos. Os policiais acabam se tornando a ponta de lança na tentativa de manutenção da ordem, embora os manifestantes também estejam buscando o mesmo, mas por outros meios.
A questão financeira é o menor dos aspectos em jogo neste movimento, que ganha força com as manifestações referentes aos grandes eventos, que como percebe-se, somente trará benefícios as grandes empresas e pessoas envolvidas diretamente na construção e administração dos estádios construídos.
A promessa de melhoria na mobilidade urbana ficará em segundo, terceiro, quarto plano... a segurança pública irá melhorar sim, enquanto estes eventos estiverem acontecendo. Depois, o Brasil continua ser o Brasil de sempre, mas quem sabe com este levante da população aos poucos... E que a democracia se efetive de uma vez no Brasil....
Em torno do direito de ir e vir: existe diálogo em SP?
Publicado em por Raquel Rolnik
Depois de duas semanas em missão como relatora da ONU
na Indonésia, volto ao Brasil e encontro minha cidade em pé de guerra
como há muito tempo não via por aqui. A resposta truculenta da polícia
de São Paulo à manifestação contra o aumento das passagens no transporte
público chegou ontem ao seu auge. O que vi foi violência contra um
movimento que há anos vem lutando, não apenas em São Paulo, mas em
várias capitais brasileiras, não apenas contra os aumentos do valor das
passagens, mas pelo direito à mobilidade como elemento essencial do
direito à cidade.
Aliás, ao contrário do que
muitos vêm dizendo na imprensa, o Movimento Passe Livre, assim como os
demais que se articulam em torno da apropriação do espaço público e do
direito à cidade, são muito mais amplos que a militância de partidos de
esquerda e sindicatos, e não são estruturados pela lógica, métodos e
práticas da política tradicional brasileira. Ao se negar a entender essa
manifestação e classificá-la de “movimento político” (triste o país
onde ser “político” é uma desqualificação…) as autoridades públicas se
recusam ao diálogo com essa parcela da sociedade que, ano a ano, mostra
que tem algo a dizer sobre a condução da política urbana no país.
Sou
radicalmente contra depredações de ônibus, de abrigos, de estações de
metrô: são patrimônio de todos e devem ser cuidados. Aliás, essa nunca
foi a prática do movimento Passe Livre. Mas o discurso da mídia tenta
transformar o ato de alguns em justificativa para a repressão violenta
da polícia. Isso, ao meu ver, é inaceitável. Nada justifica o nível de
violência a que assistimos ontem nas ruas de São Paulo: balas de
borracha, bombas de gás lacrimogêneo, pessoas revistadas e presas por
levar vinagre na mochila, manifestantes e jornalistas presos e feridos.
Aliás,
esta foi a postura do governador Geraldo Alckmin desde o início: tratar
as manifestações como “caso de polícia”, ato de baderneiros e vândalos
que impede o direito de ir e vir das pessoas em seus carros.
Lamentavelmente, o ministro da Justiça, Jose Eduardo Cardozo, diante do
que aconteceu em São Paulo e de manifestações semelhantes em outras
capitais, ofereceu o apoio das forças de segurança nacionais para
reprimir as manifestações. Para nenhum dos dois, o conteúdo do que está
sendo dito nas ruas parece ter qualquer relevância.
O
prefeito Fernando Haddad, por sua vez, inicialmente limitou-se a
repetir ad nauseum que o aumento da tarifa foi abaixo da inflação. Hoje,
depois de dizer que para baixar o valor da passagem é necessário
aumentar os subsídios, ele pergunta de que áreas tirar recursos para
cobrir esse aumento. Diante dessa pergunta, outra é inevitável: em que
momento a população de São Paulo foi chamada para decidir se quer
aumentar o subsídio do transporte público de São Paulo ou investir esse
recurso em outras áreas? Em que momento foi chamada a compartilhar as
decisões sobre os investimentos da cidade? Esse é um debate que a
população quer fazer.
Mas para poder fazer este
debate, é necessário abrir a caixa preta dos custos do transporte
público de São Paulo. Precisamos entender por que temos que pagar
subsídios tão altos. É importante lembrar, aliás, que, historicamente,
em muitas cidades do país, concessionárias de ônibus têm envolvimento
com práticas de cartelização, de desvios de recursos, de controle
político de câmaras municipais etc. Quem não se lembra da dificuldade
que a prefeitura de São Paulo teve que enfrentar para implementar
corredores de ônibus e o bilhete único? Aliás, esse não é um problema
apenas de São Paulo, muitas cidades do país enfrentam dificuldade para
enfrentar o lobby das concessionárias de ônibus e implementar projetos
de melhoria do transporte público de qualidade para todos em seus
territórios.
Engana-se quem pensa que as pessoas
estão nas ruas de São Paulo protestando por causa de 20 centavos. As
pessoas estão hoje nas ruas dizendo algo muito parecido com o que a
população de Istambul está clamando na Praça Taksim: estão falando do
direito à cidade, do direito de se manifestar sobre as decisões
relacionadas ao lugar onde vivem. E parece que está mais do que na hora
de São Paulo – e muitas outras cidades brasileiras – enfrentar com
coragem essa questão, sem violência.
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