Metamorfoses Históricas: História, livros, músicas, cinema e motos!

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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Nem precisaria tecer maiores comentários acerca da notícia abaixo, mas retrata como ainda precisamos entender no Brasil os processos que envolveram a escravidão de pessoas africanas ao longo de séculos e de como os modelos econômicos em vigor reforçaram ou refutaram este tipo de comércio.

A história do Brasil e suas revisões nas últimas décadas tenham nos proporcionado outros olhares e compreendermos estes processos, no campo teórico e dos movimentos sociais, mas precisamos fazer estas visões ganharem espaço nos ambientes educacionais e na sociedade como um todo. 

Embora em inglês, para quem quiser conhecer, a página do Museu Internacional da Escravidao (International Slavery Museum) citado no texto é http://www.liverpoolmuseums.org.uk/ism/

 28/02/2013 - 17h33 | Maurício Hashizume/Repórter Brasil

Arquivo mostra como escravidão enriqueceu os ingleses

Museu em Liverpool explica como o tráfico de escravos foi central para a Revolução Industrial
 
 Há uma expressão em inglês que resume a "naturalidade" da dinâmica mercantil: business as usual, ou seja, um negócio comum, como outro qualquer. Pois é assim que o Museu Internacional da Escravidão retrata o comércio transatlântico de escravos, que vigorou dos séculos XVI ao XIX.

Inaugurado na famosa cidade dos Beatles em 23 de agosto de 2007 – por ocasião dos 200 anos do Ato pela Abolição do Comércio de Escravos -, o museu inglês expõe os fundamentos econômicos da escravidão. Cumpre, dessa maneira, os três principais objetivos a que se propõe: mostrar como milhões de africanos foram escravizados, evidenciar a participação crucial de Liverpool (e da Inglaterra como um todo) no processo, e enfatizar as consequências dessa exploração para as diferentes partes envolvidas.

Os conteúdos dos painéis que fazem parte do museu, localizado na revitalizada Albert Dock, servem de complemento ao (pouco) que se aprende sobre a escravidão nos bancos escolares do Brasil, uma ex-colônia de Portugal - nação que aliás sucumbiu justamente diante da ascensão inglesa.

São três seções montadas para os visitantes. A primeira busca mostrar um pouco da vida e da cultura da África Ocidental: com a reconstituição de parte de uma vila do povo Igbo e a exibição do artesanato, das manifestações culturais e dos conhecimentos tradicionais desta região da África. Nesse segmento inicial, os organizadores do museu priorizam a valorização da diversidade cultural do continente africano, definido como "berço das civilizações", do qual "todos nós somos descendentes".

Os alicerces econômicos do comércio transatlântico de escravos aparecem na segunda parte do museu, chamada de "passagem do meio". Depois de recuperar (e condenar) o pensamento racista adotado como justificativa para as intervenções coloniais ("superiores" em comparação com os nativos "bárbaros") por parte dos "conquistadores" europeus (primeiro portugueses e espanhóis, depois principalmente ingleses, franceses e holandeses), as placas e objetos históricos do acervo compõem uma desconstrução reveladora das transações triangulares entre Europa, África e América.

Alma do negócio

Nunca foi segredo que o comércio transatlântico de escravos atendia uma demanda por mão-de-obra, pois as nações europeias estavam interessadas em aumentar a produção de gêneros como açúcar, café, algodão e tabaco em território colonial para abastecer o crescente consumo europeu. Não havia braços suficientes nas próprias colônias, já que muitos nativos foram dizimados, fugiram ou ficaram doentes com as invasões dos "conquistadores".
 
 A forma como essas operações de tráfico negreiro eram organizadas, no entanto, nunca mereceu explicação mais detida nos estudos da história brasileira. Os visitantes saem do museu com a noção concreta de que a comercialização de escravos se assemelhava a um investimento de alto risco, mas com possibilidades de retornos exponenciais - típico da ciranda financeira.

Era custosa e complexa a preparação de uma embarcação para esse fim. Mercadores convocavam parceiros (outros mercadores, banqueiros, políticos, fazendeiros e até pequenos "investidores") para formar um pool, uma espécie de consórcio para a repartição dos custos e riscos e, por conseguinte, para a viabilização do negócio. Registros dão conta de que a estruturação de apenas uma viagem em 1790 custou, por exemplo, £ 10 mil (libras esterlinas). Corrigido para valores atuais, esse "investimento" seria equivalente a £ 550 mil, ou melhor, cerca de R$ 1,8 milhão.
 
 A participação de diversos interessados também facilitava outra providência essencial para o tráfico: a arrecadação de mercadorias necessárias para a "troca" por escravos africanos. Com mais pessoas envolvidas, ficava mais simples reunir produtos que interessavam aos "dominadores" da África que capturavam à força e vendiam escravos. Encontrar gente disposta a fazer parte desse tipo de empreitada não era tarefa muito complicada: segundo relato de um observador que vivia em Liverpool na época, praticamente todo homem da cidade era um mercador.

Além disso, existia uma estreita coincidência entre o poder político e a exploração do comércio de escravos. A própria Royal African Company inglesa, fundada em 1672 e ativa até 1750, deteve o monopólio do comércio de ouro e de escravos com os africanos até 1698. O principal comandante e maior acionista da empresa era James, irmão do rei e Duque de York.

Capital do tráfico negreiro

Mercadores de escravos como Thomas Golightly, que foi prefeito de Liverpool nos idos de 1720, reiteravam a conexão direta entre o pólo econômico e a classe política. As docas da cidade foram inauguradas em 1715 e a Casa da Alfândega (Custom House) foi construída em 1722. Algumas das construções daquela época, como a estação da Great Western Railway (veja foto acima), encravada na região portuária, continuam até hoje em pé.

No final do século XVIII, Liverpool se transformara na capital do comércio transatlântico de escravos. O escritor William Mathews, testemunha dos acontecimentos, assinalou uma adesão em bloco do povo da cidade ao tráfico escravagista, que satisfazia o "desejo indiscriminado de participar de negociações comerciais e ganhar dinheiro em todas as oportunidades".

As estimativas dão conta de que pelo menos 1,5 milhão de africanos tenham sido transportados da África para a América por embarcações que partiram de Liverpool. Esse contingente consiste em mais de 10% do total de escravos vendidos de que se tem conhecimento.

Um conjunto de fatores explica a dianteira assumida por Liverpool nesse quesito em comparação com outras cidades inglesas como Londres e Bristol. Cidade portuária, Liverpool é também um ponto de convergência de rios e canais. Roupas, armas de fogo, munições e ferro chegavam com preços relativamente baixos no burburinho do comércio local. Em suma, os mercadores de Liverpool baixaram custos, eram mais rápidos e mais flexíveis. Com o tempo, estreitaram relações com os vendedores de escravos do Oeste da África. Aproveitaram-se dessa proximidade para providenciar todos os produtos almejados por seus parceiros comerciais.

Base da Revolução Industrial

Ainda na seção intermediária da "passagem do meio", o Museu Internacional da Escravidão também dá nome aos bois quando trata dos beneficiados do tráfico negreiro. Algumas personalidades como Richard Watt, que fez fortuna explorando escravos na Jamaica e depois comprou uma mansão em Liverpool, são citadas nominalmente no acervo. Famílias milionárias tradicionais como os Gladstone também aparecem diretamente vinculadas à escravidão, assim como bancos importantes – Thomas Leyland, Heywoods (absorvido posteriormente pelo Barclays) e até o Banco da Inglaterra.
 
 
 O tráfico impulsionou ainda investimentos em outros setores, como na mineração, ligação que fica evidente no caso do empresário Richard Pennant, que redirecionou os lucros advindos do comércio escravagista pra construir um império com base na extração da ardósia (utilizada para diversos outros fins). Defensor incondicional da escravidão, ele foi o primeiro Barão de Penrhyn.

Os dados coletados não deixam dúvidas, portanto, que a escravidão esteve na base da Revolução Industrial. Com os benefícios econômicos decorrentes da exploração do modelo colonial, os ingleses puderam injetar recursos em setores estratégicos como a siderurgia, a extração de carvão mineral e a formação dos bancos. Concomitantemente, a mão-de-obra escrava propiciou o aumento de produção de gêneros como açúcar e algodão, atendendo à demanda do mercado interno europeu.

Essa conjunção de fatores contribuiu para o desenvolvimento da indústria têxtil e das bases da infraestrutura produtiva (estradas, canais, etc.) na Inglaterra, nação soberana no comércio de escravos durante o século XVIII. Era o jogo de "ganha-ganha-ganha", em que os ingleses lucravam com a venda de escravos, com o comércio dos produtos por eles cultivados e ainda investiam em indústrias próprias e na estrutura necessária para garantir ainda mais acúmulo de riqueza no futuro.

O tráfico negreiro se estendeu por quatro séculos. Pelo menos 12 milhões de pessoas foram escravizadas. Dois terços dessa estimativa eram formados por homens com idade de 15 a 25 anos. Ou seja, as nações europeias capturaram a mão-de-obra dos africanos em seu favor, fator que evidentemente se tornou um obstáculo para o desenvolvimento dos povos locais.

De quebra, armas de fogo e munições estavam entre os principais produtos que os europeus transportaram para os comerciantes da África em troca de escravos. A posse de armas de fogo era fundamental para a manutenção das atividades dos "mercadores" de escravos. Essa troca certamente ajudou a perpetuar os conflitos internos na África e está no pano de fundo da instabilidade política que marca o continente.

Sem força de trabalho e "inundada" por um arsenal bélico, os povos africanos viram as possibilidades de desenvolvimento tolhidas. Uma declaração pinçada do acervo faz uma pertinente dupla constatação: a África ajudou a desenvolver a Europa e a Europa ajudou a não desenvolver a África. Esse tipo de relação extremamente desigual pode ser estendido, com as devidas adaptações, às colônias da América e da Ásia.

Rotina dos escravos

Elementos de sobra no museu relembram as condições enfrentadas pelos escravos. Desde a compilação de dados sobre três viagens realizadas pelos barcos Brooks, Bud e Rose – com a catalogação das respectivas durações dos trechos, da quantidade de alimentos consumidos e de quantos chegaram vivos às ilhas do Caribe – até a exibição de material audioviovisual replicando a viagem nos navios negreiros em telões. Em média, as viagens da África para o continente americano duravam cinco semanas. As pessoas eram obrigadas a ficar em espaços apertados, sem ar, nos "porões" das embarcações. Água para beber e comida eram limitadas.

Os homens eram separados das mulheres e das crianças. Alguns eram forçados a dançar para entreter a tripulação. Era frequente o abuso sexual de mulheres. Traumas abatiam muitos dos escravizados. Alguns ficavam sem comer e revoltas explodiam em pelo menos uma de cada dez viagens da África para a América. Todas eram reprimidas com ferocidade. De acordo com um levantamento do British Privy Council de 1789, uma média de 12,5% dos escravos morria antes de chegar ao destino.

A troca de "donos" era comum. Escravos eram forçados a caminhar por longos trechos da costa africana até os locais de embarque para atravessar o Oceano Atlântico. Esqueletos empalados expostos nos fortes demonstravam o que aconteceria se alguém tentasse fugir. Mesmo com todas essas dificuldades, líderes se rebelaram: como Tomba, líder do povo Baga no Guiné (1720), e Agaja Trudo, rei de Dahomey (1724-1726).

Uma das passagens mais trágicas do tráfico se deu com o navio Zong. A embarcação deixou a costa africana no dia 5 de março de 1781 com 440 escravos a bordo. Durante a viagem, 132 foram jogados ao mar e apenas 208 chegaram à ilha que hoje é a Jamaica. O grupo de "investidores" entrou na Corte Inglesa para cobrar £ 30 (libras esterlinas) por cada corpo jogado ao mar. A ação não resultou em ressarcimentos e o capitão Colingwood (acusado de assassinato) não foi condenado, mas a repercussão do caso foi péssima para os defensores do comércio de escravos.

Uma réplica de uma fazenda no sistema plantation foi montada no Museu Internacional da Escravidão. No modelo "Casa Grande e Senzala", os escravos enfrentavam vários tipos de violência. De todos os lados, vinham pressões para que os africanos se desvinculassem de suas identidades. Eram marcados com ferro quente e tratados como animais. Ainda assim, não faltaram casos de resistência. O caso de Zumbi dos Palmares, liderança popular que desafiou escravocratas no Nordeste brasileiro, está registrado em Liverpool.

Mudança de postura

A partir do século XIX e na esteira da Revolução Industrial, a posição da Inglaterra mudou. Em 1807, o tráfico negreiro se tornou ilegal no país. Os ingleses passaram a pressionar pelo fim desse comércio, em resposta ao fortalecimento das mobilizações abolicionistas e especialmente de olho na conversão de escravos em potenciais consumidores de seus produtos industrializados. Liverpool passara de capital do comércio transatlântico de escravos para capital do algodão.

Essa é a participação inglesa no tocante à história da escravidão mais frisada aos brasileiros. Em 1810, Portugal – que tinha transferido a Coroa para o Brasil em 1808 – e Inglaterra assinam o Tratado de Aliança e Amizade, no qual os ingleses já exigem restrições ao tráfico negreiro. Também por pressão da Inglaterra, Portugal concorda, durante o Congresso de Viena de 1815, em vetar o tráfico acima da Linha do Equador. Depois de desempenhar papel importante na independência do Brasil, os ingleses continuaram pressionando pela abolição. O Brasil acabou assinando um tratado com mais restrições nesse sentido em 1826 e, em 1831, promulgou lei que proíbe o comércio de escravos com outras nações da África.

Em 1833, o Parlamento aprovou a abolição da escravatura também na parte das Antilhas pertencente à Inglaterra, no Canadá e no Cabo da Boa Esperança (sul da África do Sul). Em 1845, o Parlamento inglês aprovou o Bill Aberdeen, que determinou o aprisionamento de embarcações utilizadas no tráfico de escravos. Entre 1808 e 1869, a Esquadra do Oeste africano da Real Marinha Inglesa desbaratou cerca de 1,6 mil navios negreiros e libertou cerca de 150 mil africanos. Mesmo assim, mais de um milhão de pessoas ainda foram escravizadas e transportadas durante o século XIX.

Entre os legados da escravidão (que estão na terceira e última seção do museu que já recebeu a visita de 302 mil pessoas), foram destacados nomes famosos de ruas de Liverpool que têm alguma relação com o comércio de escravos. A herança musical e a presença de uma comunidade negra em Liverpool ganharam espaço reservado nessa parte. Personalidades negras foram resgatadas e a influência do tráfico negreiro para o racismo existente até hoje está exposta com destaque.

Um memorial, construído pelo Babalaô Yoruba Orlale Kan Babaloa, presta homenagem aos ancestrais negros. E uma escultura feita a partir de sucata e objetos reciclados por jovens de Porto Príncipe, no Haiti, simboliza o déficit de liberdade, que não acabou com o fim da escravidão antiga. "As pessoas hoje não têm mais correntes em seus braços e suas pernas, mas ainda têm correntes em suas mentes. Quando não se tem comida ou moradia, não se vive livremente", disse um dos autores da peça.

Logo na entrada do Museu Internacional da Escravidão, há uma declaração do ex-escravo William Prescott, captada em 1937. "Eles vão lembrar que nós éramos vendidos, mas não que éramos fortes. Eles vão lembrar que éramos comprados, mas não que éramos corajosos". Em seguida, os organizadores do museu prometem: "Nós lembraremos. Essa história foi negligenciada por muita gente durante muito tempo".
 
Fonte: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/27477/arquivo+mostra+como+escravidao+enriqueceu+os+ingleses.shtml

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A cada ano que passa, a China ganha mais e mais espaço no comércio mundial, tornando-se, segundo dados, o país líder no comércio exterior, ultrapassando os EUA. Com as crises econômicas no Ocidente, o gigante asiático parece não ser afetado pelas tempestades do capitalismo ocidental.
Mas até quando a China se manterá no topo? Com a exploração desenfreada de recursos naturais e humanos e o pouco acesso a informações pelas restrições do regime político local, é uma incógnita para muitos analistas e economistas.
O dragão ameaça a águia com toda força e novas correlações de poderes se formam neste século XXI, com uma nova geopolítca em ação!
 
 
11/02/2013 - 19h20 | Ana Carolina Marques* | São Paulo

China ultrapassa EUA na liderança de comércio global

Economia e importações norte-americanas ainda são maiores que as chinesas, o que pode mudar em pouco tempo.
 
Reprodução/Wikicommons

Com um crescimento médio de 9,9% ao ano desde 1978, China importou e exportou mais que EUA em 2012


A China ultrapassou os EUA na liderança do comércio exterior, de acordo com informe da Bloomberg divulgado nesta segunda-feira (11/02). A combinação de importações e exportações chinesas chegou a 3,87 trilhões de dólares em 2012, acima dos 3,82 trilhões de dólares dos norte-americanos, que ocupavam a liderança mundial desde a II Guerra Mundial.

“Para muitos países no mundo, a China está se tornando rapidamente o mais importante parceiro bilateral de comércio“, disse Jim O’Neill, chefe de gerência acionária do grupo financeiro Goldman Sachs e figura que cunhou o termo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China como próximas potências econômicas) em 2001. O país já é o maior importador do mundo desde 2009 e o maior parceiro comercial do Brasil, desde que ultrapassou os EUA há três anos.
“Desse jeito, em dez anos, vários países europeus farão individualmente mais comércio com a China do que com outros países europeus". O’Neill citou à Bloomberg que a Alemanha, por exemplo, deve passar a exportar à China até o fim da década o dobro do que exporta à França hoje. O Economist também defendeu a maior participação chinesa em organizações globais.

Ano passado, o banco HSBC previu que a China se tornaria líder em comércio global até 2016.

Apesar disso, a
economia norte-americana vale US$ 15,7 trilhões, comparados aos US$8,3 trilhões do gigante asiático e com renda per capita cinco vezes maior, de acordo com o Banco Mundial – o que pode indicar a dependência chinesa no comércio internacional para gerar empregos e rendas internos.

Quando o comércio de serviços é incluído na conta, as trocas internacionais totais dos EUA chegam a 4,93 trilhões de dólares com lucro de 195 bilhões de dólares, como indicou o Escritório de Análise Econômica norte-americano ao fim de 2012. E os EUA continuam sendo os maiores importadores mundiais, com 2,28 trilhões de dólares em 2012 frente aos 1,82 trilhões de dólares chineses.

Mesmo que seja o maior consumidor de energia, tenha o maior mercado de carros novos e as maiores reservas financeiras internacionais, uma parte significativa do comércio chinês envolve importar matéria-prima e outras peças para gerar produtos finais para a re-exportação, atividade que gera “apenas um modesto valor agregado“, disse Eswar Prasad, ex-membro do FMI (Fundo Monetário Internacional) à Bloomberg.

Ainda assim, o país asiático vence em relação a produtos: enquanto os EUA apresentam um déficit de mais de 700 bilhões de dólares, a China tem um superávit de 231,1 bilhões de díolares. Desde 1978, ano em que Deng Xiaoping iniciou a reforma econômica no país, a média anual de crescimento é de 9,9%.

Segundo o que disse à Bloomberg Nicholas Lardy, do Instituto de Economia Internacional de Washington, “é impressionante que uma economia que é apenas uma fração do tamanho norte-americana tenha um volume comercial maior“. Isso, no entanto, não é resultado da desvalorizada moeda chinesa, o yuan, impulsionando as exportações, uma vez que as importações cresceram mais rapidamente que as exportações desde 2007.

A última vez que a China foi considerada a economia líder no mundo foi durante a dinastia Qing, no século XVIII. Na época, porém, o foco chines não era o comércio: em uma
carta ao rei Jorge III em 1793, o imperador Qianlong escreveu que “possuímos todas as coisas. Não dou valor em objetos estranhos ou engenhosos, e não tenho uso para seus produtos manufaturados“.

* Com informações de Bloomberg, Forbes e The Guardian
 
Embora não iremos saber os motivos efetivos da renúncia do papa Bento XVI, é um momento ímpar para a história da Igreja Católica, depois de quase um milênio, alguém tomar esta atitude. Em um momento que o islamismo se fortalece em nível mundial e no Brasil temos os avanços de diferentes denominações religiosas; é um marco importante para a Igreja definir seus rumos.
Ratzinger é um excelente teológo e não conseguiu atingir o público por ser este "homem" das ideias. Mais uma ocasião que modificará os caminhos do mundo ocidental, sem dúvidas... vamos ver quais as consequências dessa renúncia no futuro próximo.
 
11/02/2013 - 09h12 | João Novaes (*) | São Paulo

Papa Bento XVI deixará suas funções em 28 de fevereiro

Ratzinger sai oito anos após substituir João Paulo II como líder da Igreja Católica

 
O papa Bento XVI anunciou nesta segunda-feira (11/02) , durante o consistório para a canonização de dois mártires, que vai se retirar de suas funções no dia 28 de fevereiro. Pouco antes, o Vaticano havia confirmado a informação às agências internacionais. "O papa anunciou que renunciará a seu ministério às 20 horas do dia 28 de fevereiro", disse o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, citado pela agência France Presse em um pronunciamento em latim.
Nascido Joseph Alois Ratzinger, Bento XVI, de 85 anos, afirmou que iria deixar o posto por não reunir mais condições físicas para exercê-lo. A partir de sua saída, será iniciado um período de vacância na Igreja Católica até a formação de um conclave que irá eleger um novo sumo pontífice.
 
Agência Efe

Bento XVI, no dia em que anunciou sua saída do comando da Igreja Católica, em Roma

O cardeal alemão Joseph Ratzinger assumiu a chefia da Igreja Católica em 19 de abril de 2005, no lugar de João Paulo II, adotando a alcunha de Bento XVI. No ano passado, Bento XVI tinha já dito que estava “na última etapa da vida”, abrindo espaço para especulações sobre sua saída.

Sua decisão de deixar o cargo em vida tem poucos precedentes na história, mas é prevista no direito canônico. O último papa a abdicar de seu pontificado foi Gregório XII (1406-1415), aos 88 anos. Ele assmuiu o poto quando a instituição se encontrava em grave crise, no episódio histórico conhecido como "
Grande Cisma do Ocidente". Na ocaisão, brigas políticas acabaram levando à criação de três papas simultâneos, minando o prestígio da Santa Sé. Após ser nomeado, sempre deixou claro que deixaria o cargo à disposição se isso fosse para o bem da instituição. Sua postura facilitou uma reconciliação, dando início ao Concílio de Constança. Após ter se tornado novamente o único papa reconhecido, cumpriu o prometido e, aos 88 anos, deixou o cargo nove anos após assumi-lo.

O primeiro a tomar tal decisão o papa Clemente I (de 88 a 97), que renunciou a favor de Evaristo, porque após ser detido e condenado ao exílio decidiu que os católicos não poderiam ficar sem um guia espiritual.
Segue a íntegra das palavras do papa de anúncio de sua renúncia, lida por ele em carta:

"Queridísimos irmãos,
Convoquei-os a este Consistório, não só para as três causas de canonização, mas também para comunicar-vos uma decisão de grande importância para a vida da Igreja.

Após ter examinado perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino. Sou muito consciente que este ministério, por sua natureza espiritual, deve ser realizado não unicamente com obras e palavras, mas também e em não menor grau sofrendo e rezando.

No entanto, no mundo de hoje, sujeito a rápidas transformações e sacudido por questões de grande relevo para a vida da fé, para conduzir a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor tanto do corpo como do espírito, vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de tal forma que eis de reconhecer minha incapacidade para exercer bem o ministério que me foi encomendado.

Por isso, sendo muito consciente da seriedade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao Ministério de Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, que me foi confiado por meio dos Cardeais em 19 de abril de 2005, de modo que, desde 28 de fevereiro de 2013, às 20 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro ficará vaga e deverá ser convocado, por meio de quem tem competências, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.

Queridísimos irmãos, lhes dou as graças de coração por todo o amor e o trabalho com que levastes junto a mim o peso de meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos.

Agora, confiamos à Igreja o cuidado de seu Sumo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo, e suplicamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista com sua materna bondade os Cardeais a escolherem o novo Sumo Pontífice. Quanto ao que diz respeito a mim, também no futuro, gostaria de servir de todo coração à Santa Igreja de Deus com uma vida dedicada à oração.

Vaticano, 10 de fevereiro 2013
".

(*) com agências de notícias internacionais
 
Fonte: http://operamundi.uol.com.br/

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013


Contos de fadas dos Irmãos Grimm

No bicentenário da publicação, um encontro com narrativas orais da Idade Média contadas em uma estética textual que moldaria a Literatura Infantil e faria as histórias da carochinha universais. Foto: akg images/latinstock

Por Karin Volobuef* 

Os contos coletados e editados pelos Irmãos Grimm continuam vivos e atuais, mantendo como nunca seu poder de encantar crianças e adultos, mesmo tendo se passado 200 anos desde a sua primeira aparição em livro. A obra dos irmãos foi decisiva para moldar nossa concepção de Literatura Infantil e impulsionar os estudos e a coleta de folclore, tendo contribuído para diversas áreas, dentre as quais a filologia, a antropologia e a literatura comparada.
Cinderela, Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho e tantos outros personagens de contos de fadas nos acompanham desde as nossas primeiras impressões de infância. São parte integrante de nossa cultura e formação como leitores, fundamentais para estimular a nossa capacidade de imaginação. Os personagens dos contos dos Grimm povoam filmes, desenhos animados, brinquedos e uma infinidade de outros produtos e artefatos, de modo que podemos duvidar que hoje possa haver alguém que nunca tenha ouvido falar no sapo que virou príncipe ou na casinha de doces onde mora uma bruxa malvada.
Por volta do Natal de 1812, saiu o primeiro volume de seus Contos de Fadas para o Lar e as Crianças (em alemão: Kinder-und Hausmärchen), seguindo-se o segundo volume em 1815. Em comemoração a essa data e ao feito dos Grimm, a Editora Cosac&Naify acaba de lançar Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos, que reúne os dois volumes dos textos originais traduzidos por Christine Röhrig e com ilustrações em cordel de J.Borges. 
Os Irmãos Grimm 
Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859) nasceram na cidade de Hanau (no estado de Hessen, na região central da Alemanha), de uma família de pastores da Igreja Calvinista Reformada. Os pais, Philipp Wilhelm Grimm e Dorothea Grimm, tiveram nove filhos, dos quais apenas seis chegaram à idade adulta. A infância dos irmãos foi vivida na aldeia de Steinau, onde o pai atuava como funcionário de Justiça e Administração do Conde de Hessen.
A morte súbita do pai em 1796 lançou a família na miséria, e os dois filhos mais velhos, Jacob e Wilhelm, foram enviados em 1798 para morar com a tia, na cidade de Kassel, onde cursaram o Ensino Médio no Friedrichsgymnasium, como preparo para o estudo do Direito, que ambos iniciaram a seguir, junto à Universidade de Marburg.
Um de seus professores, Friedrich Carlvon Savigny, percebeu a disposição dos irmãos para a pesquisa de antigos manuscritos e documentos históricos e colocou à disposição sua biblioteca particular, familiarizando-os assim com as obras do Romantismo e com as cantigas de amor medievais. Nesse momento, foi decisivo para os irmãos o pensamento de Johann Gottfried Herder, que com sua antologia de Canções Populares (Volkslieder, 1878/1879) havia apontado para a importância cultural da poesia popular contemporânea e de tempos remotos.
Um evento de natureza política ainda concorreu para moldar a trajetória dos irmãos. Com o avanço do exército francês pelos territórios alemães adentro, em 1807 a cidade de Kassel passou a ser governada pelo irmão de Napoleão, Jérôme Bonaparte, que a designou capital do recém-instaurado Reino da Vestfália. Essa situação criou as condições para que os Grimm voltassem o olhar para a Idade Média de maneira muito distinta do fascínio manifestado até então pelo Romantismo. Ao contrário dos românticos, que tendiam a idealizar a Idade Média, os Grimm focalizaram o passado em busca de explicação para as condições vividas no presente pelas terras alemãs (que culturalmente se submetiam aos modelos vigentes na França e que viriam a se unificar política e economicamente como país, formando a Alemanha de hoje, apenas em 1871, muitos anos após a morte de ambos os irmãos).
O medievalismo dos Grimm tingiu-se, assim, da conotação de resistência à ocupação estrangeira e pautou-se pela tentativa de recuperação da identidade nacional por meio da busca de suas raízes culturais. Tais raízes estariam, justamente, no reservatório linguístico e no material folclórico de origem popular. Como resultado, os Grimm dedicaram suas vidas à criação de um dicionário filológico da língua alemã, à elaboração de livros sobre gramática e história da língua alemã, à reunião de mitos, lendas, baladas e, é claro, contos de fadas. Os contos foram sendo coletados, revisados e divulgados ao longo de décadas, desde 1812 até a edição definitiva, em 1857, última em vida dos irmãos.
A coleta de contos populares
Após os estudos universitários, os Grimm fixaram-se em Kassel e passaram a ganhar a vida como bibliotecários. Por intermédio de seu mentor, o professor Von Savigny, eles foram contatados pelos escritores Achim von Arnim e Clemens Brentano para que colaborassem na realização de A Cornucópia Mágica do Menino (3 vols., 1805-1808), antologia de canções populares com um anexo contendo cantigas infantis. A cooperação nesse projeto serviu-lhes de treino, e os irmãos ganharam experiência na coleta e publicação de textos antigos tanto de cunho literário quanto popular.
O contato com Brentano foi decisivo para chamar a atenção para o filão das narrativas populares registradas em livros antigos. Através de Brentano, os Grimm também tomaram conhecimento da obra Conto dos Contos, em que Giambattista Basile reuniu narrativas por ele colhidas da oralidade popular na Itália, antes da publicação dos contos de Perrault na França (1697).
Como bibliotecários, os Grimm tinham fácil acesso a textos e manuscritos raros, e dentro em pouco descobriram um volume de Johann Michael Moscherosch contendo o conto O Camundongo, o Passarinho e a Linguiça. Daí em diante os irmãos nunca abandonaram a prática de buscar narrativas em fontes impressas, passando inclusive a acolher textos publicados em sua época, como O Pescador e sua Mulher O Pé de Zimbro, coligidos por Philipp Otto Runge e publicados em jornal em julho de 1808.
Logo, no entanto, eles passaram a buscar fontes orais e, para isso, recorreram a amigos e conhecidos. Dessa forma, além das 16 narrativas absorvidas de publicações e manuscritos, o primeiro volume de contos de fadas dos Grimm, publicado em 1812, contém contribuições de Dorothea Wild e suas quatro filhas (família do farmacêutico local; uma das filhas, também chamada Dorothea, casou-se em 1825 com Wilhelm Grimm), das irmãs Hassenpflug (descendentes de franceses huguenotes e amigas de Charlotte, a única irmã dos Grimm), de Johann Friedrich Krause (filho de sapateiro e vigia, que recebia de Wilhelm uma peça de roupa usada em troca de cada narrativa que ele lhe contava) e de Friederike Mannel (filha de pastor e professora de escola privada em Allendorf), entre outros.
A contribuição de maior envergadura, porém, veio de Katharina Dorothea Viehmann (1755-1815), apelidada de “Viehmännin”. Ela era a mulher de um alfaiate da aldeia de Niederzwehren e costumava dirigir-se a Kassel para vender frutas, indo constantemente à casa dos Grimm para abastecê-la de ovos e verduras. É dela que veio grande quantidade de contos, e muitas vezes suas versões acabaram substituindo outras que haviam sido coletadas anteriormente e até já publicadas. No total, ela forneceu 37 contos, os quais formaram o miolo do segundo volume, publicado em 1815. Ela foi a maior tributária dos Grimm, ficando conhecida como “a mulher dos contos de fadas” (Märchenfrau).
Ao contrário do que usualmente se assume, os Grimm não viajaram pelas áreas rurais da Alemanha à cata de contos, tampouco se sentaram ao pé de velhas camponesas para escutar suas narrações. Estudiosos e letrados, os Grimm procederam a um complexo trabalho de depuração dos textos, que não apenas os adequou ao público-alvo do espaço doméstico da classe média burguesa, como também lapidou seu caráter estético, potencializando assim seu efeito artístico.
As versões dos contos dos Grimm
O Romantismo alemão conferiu grande importância aos contos de fadas e ao elemento mágico em geral, ou maravilhoso, conforme atestam as obras de escritores como Ludwig Tieck (O Loiro Eckbert), Clemens Brentano (Contos de Fadas do Reno) ou Friedrich de la Motte Fouqué (Ondina). Na obra desses autores, o conto de fadas popular é tratado como uma matriz ou fonte de inspiração para a livre criação ou invenção de histórias.
Os Grimm, ao contrário, nunca alteraram enredos ou adicionaram novos personagens. Isso não significa que eles tenham tratado as narrativas recolhidas com total imparcialidade ou fidelidade científica.
Guiando-se por sua sensibilidade literária e também por um “ideal de conto”, os irmãos, em especial Wilhelm, pretendiam trazer a lume um material que mais se aproximasse da “narrativa primordial”, a partir da qual teriam sido geradas as várias versões que circulavam na oralidade. Quando começaram a se ocupar das narrativas de cunho antigo e popular, os Grimm logo perceberam as gritantes semelhanças entre certos contos distintos, a exemplo de A Gata Borralheira Mil Peles, ou ainda entre contos e mitos, como A Bela Adormecida e o mito de Sigfried (ou Sigurd, na Saga dos Volsungos), herói que resgata uma valquíria de seu sono secular. Os Grimm consideravam que é possível depreender de tais similaridades uma origem compartilhada, ou a existência, num passado remoto, de uma narrativa primordial que teria se modificado ao longo das gerações de contadores, dando origem a um múltiplo de narrativas no presente.
Assim, quando um conto lhes chegava narrado por vários contadores, os Grimm selecionavam a versão mais próxima da forma primitiva ou original. Outras vezes mesclavam partes de uma versão com outras, a fim de alcançar o mesmo objetivo. Eles não tinham em vista a cristalização dos contos na forma exata em que os tinham ouvido, mas a conservação de um protótipo ideal, em que estaria espelhada a ascendência comum das múltiplas formas da narrativa popular oral: contos de fadas, mitos, fábulas, lendas, sagas… Os contos foram sendo revistos a cada nova edição, buscando-se destilar sua essência prototípica. Ao longo dos anos, contos recém-coletados iam sendo acrescidos à antologia, outros foram excluídos, o que, no final, levou a um gradual aumento no número de narrativas. Em 1857, a sétima e última edição preparada por Wilhelm Grimm continha 200 contos de fadas e dez legendas infantis.
Rejeitando alterações profundas e arbitrárias, os Grimm realizaram diversas mudanças: expandiram o tamanho de descrições, buscando torná-las mais vívidas e cativantes; substituíram o discurso indireto (fala do narrador) pelo direto (fala de personagens); reduziram as orações subordinadas, simplificando assim os períodos que antes estavam longos demais; subtraíram repetições inúteis e expressões desajeitadas; adaptaram a expressão em dialeto, passando-a para o alemão-padrão. Essa atuação sistemática sobre a forma dos contos resultou em uma antologia dotada de um estilo bastante uniforme e coerente que, hoje em dia, faz dos contos um verdadeiro modelo do que seria um “típico conto de fadas”.
* Doutora em Literatura Alemã, professora do Departamento de Letras Modernas da Unesp (Araraquara), pesquisa conto de fadas maravilhoso e é autora, entre outros, de Mito e Magia (2011)
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental/contos-de-fadas-dos-irmaos-grimm/

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013



2012 ficou marcado para uma quantidade significativa de pessoas como o ano que o mundo iria terminar. Fiquei muito, mas muito preocupado mesmo, (não com o fim do mundo obviamente) mas a forma como essa ideia era levada a sério por pessoas que convivia diariamente. Na véspera, ouvi comentários de pessoas que não iriam trabalhar no dia 21 de dezembro com medo do fim do mundo... 

Embora não concorde com alguns trechos, o texto a seguir de Ulisses Capozzoli, editor-chefe da Revista Scientific American Brasil é uma boa dica de como precisamos acreditar e divulgar menos boatos e trabalharmos mais para a melhoria do mundo em que vivemos!



Um retorno à Idade Média 
                                                                                                   
Ulisses Capozzoli
 
Terminar 2012 sob boataria, prevendo o fim do mundo em 21 de dezembro, certamente merece alguma reflexão.
Na segunda década do século 21, quando a Voyager-2 se encontra a mais de 18 bilhões de km da Terra, uma navegação que convive com temores típicos do passado pré-científico evoca um paradoxo perturbador.

Navegamos rumo a outras estrelas, ao mesmo tempo em que retrocedemos no tempo e vivenciamos temores típicos da Idade Média.

O que levou multidões nas mais diferentes regiões do mundo a dar crédito a uma fabulação sem qualquer sentido racional e temer, uma vez mais, o fim da humanidade?
Várias questões podem ser levadas em conta para uma resposta possível e, em conjunto, é possível que elas forneçam uma ideia satisfatória.
Vivemos uma crise de valores em que, de maneira geral, o que era não é mais e o que deve ser ainda não é.

A sucessão e o ritmo de mudanças a que estamos submetidos dificulta a percepção de uma ideia de processo e o resultado disso é um movimento desencontrado, profundamente desestabilizador do ponto de vista da estabilidade emocional.
Em pleno século 21 é possível que, com a ideia de fim do mundo, tenhamos de volta conceitos típicos de uma época pré-científica, da ciência mágica que antecedeu a ciência moderna.

É como se tudo pudesse ser processado de um único golpe e assim fosse possível retornar àquilo que os mitólogos conhecem como a “idade dourada”, uma época em que, supostamente, habitássemos o paraíso.

É possível que estejamos vivendo um retrocesso orquestrado por certo fundamentalismo de fundo religioso, refratário a princípios de racionalidade que formam a base do pensamento científico e de uma realidade pretensamente contemporânea.
Como o mundo não acabou, que justificativa fornecerão aos incautos que lhes deram crédito uma diversidade de gurus, embusteiros, oportunistas e desajustados psíquicos de várias ordens?

Seguramente dirão que rituais, entre outras práticas desenvolvidas em diferentes regiões do mundo, tidas como “seguras para enfrentar o fim do mundo”, foram  responsáveis pela manutenção da naturalidade das coisas, ou seja, impediram que o mundo viesse abaixo como anunciado.

E assim continuarão explorando um filão rentável que extrai do desconhecimento mínimo de princípios naturais, lucros e outras vantagens indevidas.
Talvez não faça sentido atribuir a uma indústria de entretenimento gananciosa e desprovida de elementares sentidos de ética a responsabilidade por este momentâneo (?) retorno ao obscurantismo.

Mas não se pode dizer que essa versão inescrupulosa da indústria de lazer não tenha dado sua contribuição significativa para que as coisas tenham chegado a esse nível de retrocesso.

Ainda na quinta-feira à noite, pelo menos dois canais de uma rede de TV por assinatura alimentavam um clima de dúvida e insegurança numa programação com a participação de “autores” e “pesquisadores” , gente destituída de qualquer base lógica, para não falar em equívocos elementares, erros grotescos e citações e comparações despudoradamente indevidas.

O mundo de fato não acabou. Mas talvez não esteja muito longe disso.
As trevas do obscurantismo, oportunismos e retrogradação há muito tempo não demonstravam o quanto estão manipulando a história das mentalidades.

Fonte: http://blogdasciam.blog.uol.com.br/

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013


Quem são os melhores guitarristas de todos os tempos?

Pergunta difícil, pois dependendo o gênero e o gosto musical, as respostas podem ser as mais variadas possíveis. Mas com certeza as listas teriam nomes em comum, podemos ter certeza. 

Buscando estabelecer a lista com os 100 melhores guitarristas de todos os tempos, a revista Rolling Stones (http://www.rollingstone.com.br/) reuniu um seleto grupo de grandes guitarristas e especialistas para indicar quem são os maiores mestres do instrumento em todos os tempos. Reproduzimos a seguir os 6 primeiros... ficamos aberto aqui a suas considerações e eu concordo com estes nomes, sem sombra de dúvida, embora em outra ordem.

6 B.B. King
 


Por Billy Gibbons, do ZZ Top

As influências de B.B. foram estabelecidas há muito tempo. Por ser de Indianola, Mississippi, ele se lembra do som dos lavradores e das figuras primordiais do blues, como Charley Patton e Robert Johnson. O fraseamento de uma nota só de T-Bone Walker era outra coisa. Dá para ouvir essas influências na escolha de melodias que ele canta não só na parte vocal, mas em como deixa sua guitarra cantar instrumentalmente.
Ele toca em explosões encurtadas, com riqueza e solidez. E há uma destreza técnica, um fraseamento tocado de maneira limpa. Eram solos sofisticados. É tão identificável, tão claro que poderia ser escrito. B.B. é um solista legítimo.
Ele faz duas coisas que fiquei desesperado para aprender. Criou um fraseado onde toca duas notas ao mesmo tempo, depois pula para a outra corda e desliza até uma nota. Consigo fazer isso dormindo agora. E há essa coisa de duas ou três notas na qual ele faz um bend na última nota. Esses dois truques sempre fazem você se mexer na cadeira – ou se levantar dela. É poderoso assim.
Houve um momento de virada, mais ou menos na época de Live at the Regal [de 1965], quando seu som assumiu uma personalidade que hoje é intocável – este timbre arredondado, no qual o captador de cima e o de baixo estão fora de fase. E B.B. ainda toca com um amplificador Gibson que não é produzido há muito tempo. Seu som vem dessa combinação. É simplesmente B.B.

PRINCIPAIS FAIXAS “3 O’Clock Blues”, “The Thrill Is Gone”, “Sweet Little Angel”

5 Jeff Beck


Por Mike Campbell

Jeff Beck tem a combinação de técnica brilhante e personalidade. É como se dissesse: “Sou Jeff Beck. Estou bem aqui, e você não pode me ignorar”. Até no Yardbirds, ele tinha um timbre que era melódico, brilhante, urgente e ousado, mas doce ao mesmo tempo. Dava para perceber o quanto ele era sério e determinado.
Há uma arte real em tocar com e em torno de um vocalista, respondendo e o pressionando. Essa é a beleza dos dois discos que ele gravou com Rod Stewart, Truth, de 1968, e Beck-Ola, de 1969. Ampliou os limites do blues. “Beck’s Bolero”, em Truth, não é blueseira, mas mesmo assim é inspirada no blues. Uma das minhas faixas preferidas é a cover de “I Ain’t Superstitious”, de Howlin’ Wolf, em Truth. Há um senso de humor – aquele wah-wah grunhido. Não sei se Clapton toca com o mesmo senso de humor, mesmo sendo tão bom. Jeff definitivamente tem isso.

Quando passou pela fase do fusion, a cover de “Cause We’ve Ended as Lovers”, do Stevie Wonder, em Blow by Blow, me conquistou. O timbre era tão puro e delicado. É como se houvesse um vocalista cantando, mas havia um guitarrista fazendo todas as notas. Eu o vi no ano passado em um cassino em São Diego, e a guitarra era a voz. Você não sentia falta do vocalista, porque a guitarra era muito lírica. Havia uma espiritualidade e uma confiança nele, um compromisso com ser ótimo. Depois de ver aquele show, fui para casa e comecei a praticar. Talvez tenha sido o que aprendi com ele: se você quer ser Jeff Beck, faça a lição de casa.

PRINCIPAIS FAIXAS “Beck’s Bolero”, “Freeway Jam”, “A Day in the Life”, “I Ain’t Superstitious”, “Heart Full of Soul”

4 Keith Richards

 

Por Nils Lofgren, da E Street Band

Eu me lembro de estar no ensino médio ouvindo “Satisfaction” e pirando com o que aquilo fazia comigo. É uma combinação do riff e dos acordes que se movem por baixo dele. Keith escreveu temas de duas ou três notas que eram mais poderosos do que qualquer grande solo. Tocou a guitarra rítmica com vibrato e a solo em “Gimme Shelter”.
Acho que ninguém criou uma ambientação tão sinistra. Há uma claridade entre essas duas guitarras que deixa um espaço agourento para Mick Jagger cantar. Ninguém usa afinações alternativas melhor do que Keith. Essa é a essência das guitarras nos Rolling Stones. Keith encontra a afinação que permite que o trabalho – as cordas inquietas, depois silenciosas – encontre o caminho do que ele está sentindo.
Fui ver Keith com o X-Pensive Winos. No camarim, ele começou a ensaiar um riff de Chuck Berry. Nunca o ouvi soar daquele jeito. Amo Chuck Berry, mas aquilo era melhor. Não tecnicamente – havia um conteúdo emocional que falava comigo. O que Chuck é para Keith, Keith é para mim.
PRINCIPAIS FAIXAS “(I Can’t Get No) Satisfaction”, “Gimme Shelter


3 Jimmy Page


Por Joe Perry

Ouvir o que Jimmy Page faz na guitarra faz você viajar. Como guitarrista solo, ele sempre toca a coisa certa para o momento certo – tem um gosto incrível. O solo em “Heartbreaker” tem uma urgência tão sensacional; ele está cambaleando à beira de sua técnica e ainda assim domina o show. Só que não dá para olhar apenas para seu jeito de tocar guitarra.
Você tem de ver o que ele fez no estúdio e como usou isso nas músicas que compôs e produziu. Jimmy construiu um catálogo imenso de experiências no Yardbirds e como músico de estúdio, então, quando gravou o primeiro disco do Led Zeppelin, sabia exatamente que tipo de sons queria obter.
Ele tinha esta visão de como transcender os estereótipos do que a guitarra pode fazer. Se você seguir a guitarra em “The Song Remains the Same” o tempo inteiro, ela evolui através de tantas mudanças diferentes – mais alta, mais quieta, mais suave, mais alta de novo. Ele compunha, tocava, produzia as músicas – não consigo pensar em outro guitarrista desde Les Paul que possa reivindicar algo parecido.
PRINCIPAIS FAIXAS “Dazed and Confused”, “Heartbreaker”, “Kashmir”

2 Eric Clapton

 

Por Eddie Van Halen

Eric Clapton é basicamente o único guitarrista que me influenciou – embora eu não soe como ele. Havia uma simplicidade em seu jeito, seu estilo, sua vibração e seu som. Ele pegou uma Gibson, plugou-a em um amplificador Marshall, e pronto. O básico. O blues. Seus solos eram melódicos e memoráveis – e é assim que solos de guitarra devem ser, uma parte da música. Eu poderia murmurá-los para você.
O que eu realmente gostava eram as gravações ao vivo do Cream, porque dava para ouvir os três músicos tocando. Se você escutar “I’m So Glad”, do disco Goodbye, realmente ouve os três – e Jack Bruce e Ginger Baker eram dois músicos de jazz, impulsionando Clapton. Li uma vez que Clapton disse: “Eu não sabia o que diabos estava fazendo”. Ele estava só tentando acompanhar os outros dois!

Depois do Cream, ele mudou. Quando começou a fazer “I Shot the Sheriff” e outras coisas, e quando se juntou a Delaney & Bonnie, todo o seu estilo mudou. Pelo menos o seu som. Seu foco estava mais em cantar do que tocar. Eu o respeito por tudo o que fez e ainda faz – mas o que me inspirou, o que me fez pegar uma guitarra, foram seus primeiros trabalhos. Eu poderia tocar alguns daqueles solos agora – estão permanentemente gravados no meu cérebro. Aquele som baseado no blues ainda é o cerne da guitarra do rock moderno.
PRINCIPAIS FAIXAS “Bell Bottom Blues”, “Crossroads”, “White Room”

1 Jimi Hendrix

 

Por Tom Morello

Jimi Hendrix explodiu nossa ideia do que o rock poderia ser: ele manipulou a guitarra, a alavanca, o estúdio e o palco. Em músicas como “Machine Gun” ou “Voodoo Child”, seus instrumentos são como uma vareta sensorial dos turbulentos anos 60 – dá para ouvir os tumultos nas ruas e as bombas de napalm explodindo em sua versão para “Star-Spangled Banner”.
Seu estilo de tocar era sem esforço. Não há um minuto de sua carreira gravada que deixe transparecer que ele está dando duro naquilo – parece que tudo flui através dele. A música mais bonita do cânone de Jimi Hendrix é “Little Wing”. É simplesmente essa coisa linda que, como guitarrista, você pode estudar a vida inteira e não tocar, nunca penetrar nela da forma como ele faz.
Hendrix tece uniformemente acordes com trechos de uma só nota e usa sequências de acordes que não aparecem em nenhum livro de música. Seus riffs eram um demolidor funk pré-metal e seus solos eram uma viagem elétrica de LSD até as encruzilhadas, onde ele humilhava o diabo.
Há discussões sobre quem foi o primeiro guitarrista a usar feedback. Não tem importância, porque Hendrix o usou melhor do que ninguém: pegou o que se tornaria o funk dos anos 70 e o fez atravessar uma pilha de amplificadores Marshall, de uma forma que ninguém fez desde então.
É impossível pensar no que Jimi estaria fazendo agora; ele parecia ter uma personalidade bem volátil. Seria um político idoso do rock? Seria Sir Jimi Hendrix? Ou estaria fazendo uma temporada em Las Vegas? A boa notícia é que seu legado está garantido como o maior guitarrista de todos os tempos.
PRINCIPAIS FAIXAS “Purple Haze”, “Foxy Lady”, “The Star-Spangled Banner”, “Hey Joe”