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Metamorfoses Históricas: História, livros, músicas, cinema e motos!
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sexta-feira, 24 de maio de 2013
sábado, 11 de maio de 2013
sexta-feira, 3 de maio de 2013
Um evento realizado de forma secreta e sigilosa e que somente quase 6 meses depois foi tornado público: a exumação do corpo de Dom Pedro I e suas duas esposas, sepultados em São Paulo.
Um trabalho inovador no que se refere aos estudos históricos no Brasil e que revelou algumas novas faces do Primeiro Reinado. Um trabalho que pode servir de exemplo e inspiração para outros pesquisadores em nosso país, tão carente ainda de incentivo no financiamento aos trabalhos de historiadores, que muitos vezes precisam se dividir entre a docência e a pesquisa.
Vale a pena conhecer um pouco mais desse parte de nossa história, revelada de uma forma inédita!
Caveiras ilustres
Corpos da família imperial brasileira são exumados para preservar patrimônio histórico.
Por: Henrique Kugler Publicado em 02/05/2013
Entre fevereiro e setembro de 2012, os restos mortais de Dom
Pedro I e suas duas esposas foram submetidos a diversos exames. Na
foto, o corpo exumado de Amélia de Leuchtenberg passa por uma
tomografia. (foto: Valter Muniz)
E não é que perturbaram o sono eterno do primeiro imperador do
Brasil? Os restos mortais de Dom Pedro I (1798-1834) foram exumados. E,
com eles, também saíram da cripta os corpos de suas duas esposas: as
imperatrizes Leopoldina de Habsburgo (1797-1826) e Amélia de
Leuchtenberg (1812-1873).
Foi um delicado processo; lembrou até uma operação militar. Um
sigiloso esquema de segurança foi arquitetado para o transporte dos
esquifes desde o local onde estavam – o Monumento à Independência, na
capital paulista – até o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (USP). Lá foram submetidos, entre fevereiro
e setembro de 2012, a exames de tomografia, radiologia e ressonância
magnética.
“O principal objetivo da exumação foi garantir a preservação dos
remanescentes humanos e dos artefatos que se encontravam nas urnas
funerárias”, diz a arqueóloga Valdirene Ambiel – o trabalho é parte de
seu mestrado, concluído em fevereiro no Museu de Arqueologia e Etnologia
da USP. “Um dado que sempre me preocupou foi a umidade presente na
capela imperial, no interior do monumento onde jazem os corpos”, diz a
pesquisadora.
Quando chove, acumula água. As paredes são preenchidas com terra. Há
infiltrações. Não que isso incomode o descanso fúnebre, mas,
considerando a preservação desse patrimônio histórico, Ambiel constatou
que há muito a se melhorar na infraestrutura do sepulcro da realeza.
Trabalharam nessa empreitada mais de uma dúzia de cientistas das mais
variadas áreas – da história à biologia, da arqueologia à física.
“Mobilização talvez inédita na pesquisa histórica e arqueológica no
Brasil”, comenta o historiador Maurício Ferreira Jr., diretor do Museu
Imperial, em Petrópolis (RJ).
Dom Pedro I: esclarecimentos e causos
Por desastrado que pareça, o paradeiro funerário de Dom Pedro I era
um tópico não muito bem resolvido. Alguns diziam que ele fora cremado.
Outros, que seus restos estariam em qualquer outro lugar que não no
Monumento à Independência. A exumação liderada por Ambiel pôs fim à
contenda. Dom Pedro I de fato está lá, em carne e osso (no caso, só em
osso). Detalhe: seu coração – como já se sabia – está preservado em um
mausoléu na Igreja da Lapa, na cidade do Porto, em Portugal.
Duas foram as confirmações obtidas com a exumação do monarca.
Primeiro: sua estatura era de algo entre 1,66m e 1,73m. “Diziam que ele
era baixinho”, brinca Ambiel. “Mas essa é uma altura bem razoável para a
época.” Segundo: ele teve quatro costelas quebradas, o que
provavelmente prejudicou o pulmão e agravou seu quadro de tuberculose –
doença que o levou à morte aos 36 anos. Conta-se que ele caiu do cavalo,
em 1823. E, em 1829, capotou uma carruagem que ele mesmo guiava –
faltou-lhe maestria na direção.
Dom Pedro I foi enterrado com vestes de general. Em seu caixão foram
encontradas medalhas, comendas, botões e abotoaduras, além de fragmentos
de tecido e o salto de sua bota. “O material foi higienizado e
acondicionado; está agora no Departamento de Patrimônio Histórico da
Prefeitura de São Paulo.” A arqueóloga pretende doar algumas das peças
ao Museu Imperial de Petrópolis – mas para isso aguarda permissão do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Leopoldina: abandono e ciência
Essa austríaca mal compreendida foi a primeira esposa de Dom Pedro I.
Portanto, a primeira imperatriz do Brasil. Casaram-se por
correspondência – como era comum aos aristocratas da época – e
conheceram-se meses depois. De acordo com a historiadora Mary Del
Priore, foi uma relação conturbada, “uma história de maus-tratos e
solidão”, escreve em seu último livro, A carne e o sangue (editora Rocco, 2012).
Entre as fofocas imperiais, conta-se que Dom Pedro I teria empurrado
Leopoldina da escada com um pontapé – quando ela estava grávida. Na
queda, segundo alguns, a imperatriz teria fraturado o fêmur. E também
perdido o bebê. “Mas, ao contrário do que registram certos livros de
história, a exumação não aponta nenhuma fratura no fêmur”, garante
Ambiel. “É bom deixar claro que esse episódio é uma lenda.” Boletins
médicos de 1826 sugerem que o feto tenha morrido em função de um aborto;
e não de um trauma.
Leopoldina foi casada durante nove anos, passou por nove gestações e
pariu sete filhos (entre eles o herdeiro do trono, Dom Pedro II). Sua
vida e sua morte até hoje dividem opiniões. Uma contribuição insuspeita,
no entanto, é frequentemente esquecida: a imperatriz foi uma das
responsáveis pela vinda, ao Brasil, da missão austríaca – sob os
auspícios da qual aportaram em nossas terras importantes zoólogos,
botânicos e artistas, que viajaram pelo país e publicaram dois
importantes clássicos: os livros Viagens pelo Brasil e Flora brasiliensis.
“Leopoldina gostava de se afirmar como uma ‘cientista amadora’”, lembra
Ambiel. “Ela era uma figura popular e querida no Brasil do século 19.”
Novo dado: segundo a exumação, ela tinha entre 1,54m e 1,60m de altura.
Amélia: nobreza mumificada
Eis que a historiografia brasileira se vê diante de uma surpresa: o
corpo de Amélia, segunda esposa de Dom Pedro I, foi mumificado. “Essa
informação era desconhecida”, diz a arqueóloga. “Não imaginávamos que
era uma múmia.” Não se sabe, entretanto, por que ela fora mumificada.
“Pode ter sido um ‘acidente de percurso’”, cogita Ambiel, referindo-se
ao fato de que, para seu funeral, o corpo foi preparado com uma solução
de cânfora que pode ter sido útil para frear o processo de decomposição.
A imperatriz morreu em Lisboa em 1876, e seu caixão foi trazido à
cripta imperial em 1982. “Foi colocado no interior das paredes do
monumento; tivemos de procurar, pois ninguém sabia sua localização
exata.” (Detalhe: no Monumento à Independência, seu nome está incorreto.
Na lápide lê-se “Maria Amélia”, mas seu primeiro nome era apenas
“Amélia”). Após os estudos – a bem conservada senhora tinha estatura
entre 1,60m e 1,66m – ela foi ‘remumificada’.
Na história do Brasil, Amélia nunca foi figura central – ela esteve
no país entre 1829 e 1831. Curto período. Mas foi o bastante para que
instituísse na corte a língua francesa. Sobre sua relação com o
imperador, Del Priore conta que era algo “sem graça”. Dom Pedro I
poderia ter muitos méritos; mas não era um galanteador de primeira
linha. “Ele não tinha assunto e falava francês muito mal”, reclama a
donzela em seu diário, após um encontro. Nas mesmas páginas, Amélia
conta que teve de “se beliscar para não dormir”. Há quem diga,
entretanto, que os dois se amavam como pombinhos. Discussão para
historiadores.
De qualquer maneira, conta-se que os últimos anos de Amélia foram
profundamente marcados pela morte do marido e da filha – ambos por
tuberculose. Enlutada em tamanha perda, dedicou-se a obras de caridade. E
assim mandou construir, na Ilha da Madeira, em Portugal, um hospital
para o tratamento de tuberculosos. O local permanece ativo até os dias
de hoje.
“A exumação dos corpos foi apenas uma primeira etapa”, diz Ambiel.
Com as amostras de DNA coletadas, novos dados poderão vir à tona. O
trabalho abre espaço para a arqueopatologia – ciência que estuda
remanescentes de doenças pretéritas –, um campo ainda pouco explorado no
país. Ainda este ano, o Museu Imperial deve publicar o trabalho de
Ambiel em forma de livro.
Também para fins de divulgação, a equipe estuda a possibilidade de
lançar um documentário. Quanto à família imperial brasileira, querelas e
intrigas históricas estão longe de um fim. “Cada historiador é livre
para pensar e publicar o que quer”, diz Ambiel. “Mas, como historiadora,
não posso acreditar em verdades.”
Henrique Kugler - Ciência Hoje/ RJ
Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2013/302/caveiras-ilustres
quarta-feira, 1 de maio de 2013
A discussão do conceito de espaço rural e urbano é sempre um tema controverso e que envolve diferentes perspectivas. Além disso, os interesses econômicos se sobrepõem as realidades existentes no território brasileiro.
Como são as prefeituras que definem os limites em seus municípios do que é urbano e rural, temos um contexto no qual não existe um parâmetro, além da proliferação maciça de emancipações na década de 1990, que levou o Brasil a ser o país hoje com maior número de municípios no mundo.
O texto que segue aborda esta questão de forma crítica e apontando temas para reflexão.
O que é rural e o que é urbano no Brasil?
Pesquisadores acreditam que população rural brasileira seja pelo
menos o dobro da estimada pelo IBGE; raiz do problema está em decreto do
governo Vargas , que define o que é urbano no país
29/04/2013
Por Nádia Tubino
É
uma figura pouco usual para definir uma questão de ordem no Brasil: o
que é rural e o que é urbano? Um grupo coordenado pela professora Tânia
Bacelar (UFPE) e mais 15 pesquisadores pretende destravar esse nó, num
projeto financiado pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário.
O
IBGE aponta a população rural brasileira com 15,64%, quase 30 milhões de
habitantes, segundo o censo de 2010. Os pesquisadores como Tânia
Bacelar acham que pode ser o dobro.
Na raiz do problema um decreto
de 1938, governo Getúlio Vargas, que define como urbano o perímetro
definido pelos prefeitos locais. No Brasil cerca de 4 mil cidades têm
até 20 mil habitantes. Somos 84,36% de brasileiros urbanos, ou há algo
errado nessa história?
O país conta com 5.505 municípios com seus
distritos e vilas. O Brasil é o país com o maior número de cidades do
mundo. Lembro quando costumava viajar pela Belém-Brasília, em direção ao
Tocantins, e passava pelos limites urbanos de municípios localizados
nos confins da pátria.
A imagem era repetida: uma igreja pequena,
uma delegacia e o prédio da prefeitura. Fácil de entender no estado, que
na época, a família no poder comandava a administração pública como se
fosse uma capitania hereditária. Cada município tem direito ao fundo de
participação e de muitas verbas federais. Então, quanto mais, maior a
verba.
Empregos desapareceram
Nas décadas
de 1960, 1970 e 1980 o Brasil teve um enorme fluxo de migrantes, na
maior parte em direção ao sudeste. Foram 27 milhões de pessoas que
migraram do rural para o urbano.
Os
motivos são variados, desde a modernização e industrialização do país, a
situação econômica, com falta de empregos na zona rural, o avanço da
agricultura mecanizada e da monocultura e os atrativos culturais das
metrópoles. Na década de 1990, mais para o final, o fluxo interrompeu e
começou a decair.
Ou seja, começou a crescer a população de
centenas de municípios considerados rurais, e também começou a inverter o
fluxo de migrantes, deixando as metrópoles do sudeste e voltando ao
estado de origem.
É preciso entender que entre 1985 e 2006 cerca
de 7 milhões de empregos desapareceram na zona rural. A queda,
arredondada, foi de 23 milhões para 16 milhões de empregos. Também no
mesmo período as propriedades com até 10 hectares, que são maioria no
Brasil, perderam cerca de 2 milhões de hectares.
E os donos foram
expulsos para o urbano. Mesmo assim elas envolvem um número acima de 4
milhões de unidades e, além de garantir 70% dos alimentos consumidos
pelos brasileiros, ainda ocupam milhões de pessoas.
Acabar com o modelo
Portanto,
a discussão sobre rural ou urbano não é uma questão teórica. Porque por
trás disso tem o agronegócio e a agricultura industrial movida pela
química, e do outro lado, a agroecologia e a agricultura familiar, que
muito mais do que um modo de produção é um modo de vida, de convívio
social e um modelo cultural, que ajuda a manter o pouco que resta de
ambiente natural em algumas áreas do Brasil, principalmente na região
sul.
A Universidade de Essex, na Inglaterra, diz que existem cerca
de 1,4 milhão de agricultores que seguem os princípios da agroecologia
no mundo, os pesquisadores dessa instituição acompanham mais de 200
projetos, corresponde a 30 milhões de hectares.
Eles não têm
dúvida de dizer que o problema do êxodo rural está no avanço do
agronegócio, que desestimula a produção da agricultura familiar e
implica na perda da cultura camponesa e dos povos das comunidades
tradicionais. No mundo cerca de 1,8 bilhão de pessoas habitam florestas e
matas, regiões áridas, encostas íngremes ou terras inadequadas para
produção de alimentos.
O ponto central é esse: a quem interessa
acabar com a agricultura familiar e camponesa? Se depender das
estatísticas, como diz o economista Ignacy Sachs, o Brasil em poucas
décadas se tornaria totalmente urbano. Uma discussão que também foi
levantada desde a década passada pelo pesquisador José Eli da Veiga.
O plano de realizar esse delírio deve ser dos capitalistas de Wall Street
e os clones brasileiros com base na experiência estadunidense – aponta a
população rural agrícola em apenas 1%. O problema é que o índice da
população não-agrícola, ou seja, mora na zona rural, mas vive da
economia urbana, se mantém em 20%.
Uma das discussões que os
pesquisadores do projeto bancado pelo MDA deverão definir. Afinal os
setores de serviço e industrial das cidades do interior fazem parte do
rural. Segundo Tânia Bacelar, a ideia é definir as cidades em faixas
demográficas, geográficas e diferenciar nos seis biomas brasileiros
definidos – Amazônia, Pantanal, Pampa, Caatinga, Mata Atlântica,
Cerrado.
No campo os homens e os velhos
Porém,
existem outras perspectivas desse mesmo problema. A população
brasileira está
envelhecendo rapidamente. Em 2025, o Brasil será o sexto
país com maior número de idosos na faixa dos 60 anos – serão cerca de
32 milhões. Uma parte deles vive no campo.
A migração, que começou
a cair no final da década de 1990, tornou-se seletiva. As mulheres mais
jovens são maioria, na verdade, desde a década de 1980 os demógrafos já
registraram este aumento. No caso do Rio Grande do Sul migraram 22%
mais de mulheres do que de homens. Porto Alegre é a capital que, desde a
década de 1950, conta com maior número de mulheres em relação aos
homens.
Dois pesquisadores, José Carlos Froehlich e Cassiane da
Costa Rauber, do curso de pós-graduação em extensão rural da
Universidade de Santa Maria fizeram um trabalho sobre o êxodo seletivo
na região central do estado, envolve 28 municípios.
Na faixa dos
25 aos 59 anos, 25 municípios apresentaram predomínio de populações
masculinas, evidenciando um processo de masculinização acentuado:
“O
êxodo seletivo intenso ocorre há mais de uma década e se desenha como
tendência futura. A masculinização que se desenvolve silenciosamente
pode comprometer o tecido social dos territórios rurais, tão importante
para a região. Com a emigração jovem agrava-se o processo de
envelhecimento populacional. O celibato entre os rapazes rurais já se
desenha na região”, registraram os pesquisadores.
Em Santa
Catarina este tema já rendeu um documentário “Celibato no Campo”, de
Ilka Goldschmidt e Cassemiro Vitorino. O estado tem para cada grupo de
100 mulheres, 122 homens. Na Europa, conforme um relatório do Parlamento
Europeu do início dos anos 2000, o número de agricultores com menos de
35 anos se reduzirá a zero em 2020.
O sul da Europa,
principalmente Portugal e Espanha, registram os índices mais altos de
envelhecimento da população rural. O Japão já tem mais de 30% da
população na faixa dos 60 anos.
Quem vai produzir a comida?
É
uma encrenca a mais na época da modernização digital, da globalização,
dos mercados onipotentes e da mídia desinformada e totalmente urbana.
Além disso, os organismos internacionais, como a FAO, costumam bater na
tecla do aumento da produção de alimentos até 2050, deveria crescer de
2,3 bilhões de toneladas para mais de três bilhões, um aumento de 50%.
Mas não aborda a questão de quem vai produzir esta comida. Será o
agronegócio químico e transgênico, com seus equipamentos cada vez mais
sofisticados?
Ou vai sobrar espaço para as comunidades familiares,
os grupos tradicionais, as cooperativas de assentados – no RS são 327
assentamentos, em 91 municípios e mais de 13 mil famílias-, ou os
faxinais do Paraná, um sistema antigo implantado pelos ucranianos no
final dos anos 1800 e que ainda tenta sobreviver.
Faxinal é um
sistema que mistura a plantação de erva-mate com as araucárias e que se
traduz numa produção menor, mas mais diversificada. Em 1997, uma lei
estadual definiu o perfil dos faxinais – atualmente são 44, mas em 1994
eram 121, sendo que 19 estão na região de Prudentópolis, numa extensão
de 13.870 hectares.
Na década de 1970 o Paraná foi o estado que
mais contribuiu para a migração no Brasil, saíram 2,5 milhões de pessoas
da zona rural, muitas delas em direção ao Centro-oeste, e agora, indo
para a Amazônia. Como diz uma moradora de outra área no sul do Brasil,
na região do rio Ibirapuitã, município de Alegrete:
“Às vezes as pessoas dizem: que buraco. Mas eu adoro esse buraco.”
O
depoimento consta de outro trabalho da Universidade de Santa Maria
(extensão rural) sobre o esvaziamento do pampa gaúcho. A moradora mora a
70 km da sede do município, ou seja, a cidade.
Os filhos precisam
sair de casa para cursar o ensino médio que não tem na região e não há
transporte público. A passagem custa R$15. Os jovens querem estudar,
querem evoluir, como em qualquer outro lugar do mundo. As atividades na
região se concentram na pecuária de corte ou soja. Não é nem o emprego
urbano que atrai, porque estas cidades continuam registrando êxodo.
Trabalho em comunidade
É
uma situação diferente da agricultura familiar colonial, de tradição
europeia. Segundo dados do IBGE de 2006, o RS conta com 378 mil
estabelecimentos agrícolas familiares que ocupavam 992 mil pessoas –
segundo o censo de 2010, 1,6 milhão de pessoas residem em 515 mil
domicílios rurais permanentes.
Eles passaram a industrializar os
seus produtos, como o caso da agroindústria das famílias Lazzareti e
Picolotto, da comunidade linha Savaris, 7 km do município de
Constantina, norte do RS.
Eles desistiram de plantar milho e
depender das cotações de commodities. Resolveram ampliar uma área de
cana-de-açúcar com variedades específicas. Passaram a produzir açúcar
mascavo, melado, schmier (geleia), além de cachaça e licores em 14
hectares. São sete famílias que dividem tudo e ainda trouxeram os filhos
de volta, que trabalhavam na cidade como assalariados.
Ainda são
responsáveis pelo controle, recolhimento e entrega de 320 cestas básicas
destinadas as famílias carentes do município, através do Programa Fome
Zero. O selo “Vita Colônia”, da COOPERAC, a agroindústria da comunidade,
é um dos modelos que viabiliza economicamente a agricultura familiar e
camponesa e mantém viva a chama de um modelo de vida que teima em não
desaparecer. E que pretende entrar nas estatísticas como integrante do
desenvolvimento social e econômico desse país.
(Foto: Reprodução)
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/12787
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