Metamorfoses Históricas: História, livros, músicas, cinema e motos!

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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Como estamos nos aproximando do Natal, uma crítica muito contundente e objetiva frente ao quadro de desespero coletivo que toma contas das cidades, dos supermercados, lojas, ruas, nestes dias que antecedem o Natal. Compras, compras, compras compras e mais compras... consumir e consumir!!!


Espírito natalino e consumismo exacerbado
Por Jaciara Itaiam*                                                                    12/12/2013 

O espírito natalino desnuda a realidade mais cruel do modelo no qual estamos sendo conduzidos. Não basta só o consumo. É necessário o consumismo exacerbado.

A chegada do mês de dezembro reproduz a cada ano cenas que poderiam ser consideradas completamente irracionais por algum alienígena que se aproximasse de nosso País. Estamos em pleno final de ano, auge do verão aqui no hemisfério sul, com temperaturas bastante elevadas. No entanto, os ambientes todos estão tomados por indivíduos fantasiados com roupas pesadas e quentes, imitando a figura emblemática e mitológica do Papai Noel. A tentativa é de reproduzir o contexto da Lapônia, uma província da Finlândia, onde as temperaturas podem atingir mínimas de -20° C nessa época do ano.

Vem daí então o imaginário da neve, do pinheirinho, do trenó com as renas e tudo o mais que cerca o ambiente de Natal. Estranho sincretismo esse que conseguiu unir as tradições bíblicas que envolvem o nascimento de Jesus às estórias fantásticas do velhinho barbudo do norte europeu em um território equatorial e do outro lado do Oceano Atlântico. A tradição dos presentes - que remonta, na verdade, à chegada dos reis magos no dia 6 de janeiro - foi sendo aos poucos substituída pela pressão social em torno da oferta dos presentes no próprio dia do nascimento do menino Jesus.
 
Consumir, consumir, consumir e oferecer

Assim, o espírito natalino se converteu à sanha das compras e das aquisições. Festejar o Natal passou a ser sinônimo de desejo de consumo, impulso expresso por todos - desde as crianças até os adultos de todas as idades e gerações. As cartas ingênuas à entidade desconhecida de barriga grande e barbas brancas, as trocas de presentes no ambiente de trabalho, as festas familiares com as encomendas acertadas previamente ou sob efeito surpresa do amigo-secreto. Pouco importa a forma, uma vez que o essencial é um elemento apriorístico: o consumo.

É importante reconhecer que a realidade brasileira é pródiga na criação e na ampla aceitação social de datas “comemorativas”, onde o foco é sempre o presentear outrem por meio de compras. Apesar de o Natal ocupar, de longe, o primeiro lugar em importância e em faturamento, na seqüência surgem outros momentos que são utilizados para que a indústria e o comércio esquentem seus motores ao longo do ano. É o caso do Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia das Crianças e Dia dos Pais, para citar alguns exemplos. Para além das questões de natureza cultural e de sociabilização, a grande marca deixada pelas organizações que constituem a nossa formação capitalista relaciona-se ao verbo comprar. Ou seja, transformar esse misto de desejo e de imposição social em circulação de mercadoria, em movimentação acelerada de valores de troca e de valores de uso.

Nesse aspecto, ganha relevância o papel desempenhado pelas estruturas de propaganda e marketing. Trata-se da criação de necessidades sociais e culturais de forma artificial e exógena, em processos onde os indivíduos se sintam motivados a desenvolver determinadas ações ou a adotar certos comportamentos em nome de uma espécie de “unanimidade construída”. O verdadeiro bombardeio a que estamos todos submetidos por várias semanas antes mesmo da data da ceia tem uma mensagem muito clara. Natal feliz é Natal com presente. Quem não recebe nada comprado na data deve se sentir menosprezado ou desprezado por aqueles que o cerca. Quem se atreve a não comprar presentes para oferecer não merece o carinho nem o bem querer de seus pares. A comemoração é fortemente carregada do elemento simbólico: o querer é avaliado a partir da quantidade, da exuberância e dos preços.

A criação das necessidades e a generalização das compras

Vale recordar, por outro lado, a importância adquirida por uma forma muito especial, em meio à multiplicidade de estratégias mercadológicas: a publicidade dirigida ao público infantil. Apesar da festa não ser dirigida apenas às crianças, o foco recai sobre essa parcela expressiva da população, que termina por exercer influência significativa sobre as decisões das famílias no período. Ainda que os espaços de tangência entre a ética e a legalidade estejam presentes em todo o tipo de propaganda, no caso específico do universo infantil a situação é ainda mais escabrosa. São pessoas ainda em processo de formação e amadurecimento, sem quase nenhuma capacidade de discernimento entre o necessário e o supérfluo, entre o real e a fantasia, com pouca referência a respeito de preços e capacidade de aquisição. Ou seja, é o caso típico de atividade que deve ser proibida por lei - em razão de seus reconhecidos efeitos nocivos para o conjunto da sociedade – e não ser liberada em nome da liberdade do mercado e da possibilidade de amplo de acesso à informação.

O padrão civilizatório hegemônico nos tempos atuais determina que a conquista da felicidade e a vigência do bem estar estão intimamente associados à capacidade do indivíduo ter e comprar. A posse dos bens é elemento sempre martelado pelos meios de comunicação, a todo momento associada à imagem da pujança, da beleza e do amor. Quem tem, pode. Quem tem mais, pode mais. Quem tem mais caro, pode ainda muito mais. Ocorre que na sociedade capitalista, a tendência é a da generalização das relações mercantis. Assim, via de regra, para se ter algo é necessário processar o ato da compra. A relação de troca se realiza por meio do equivalente geral, o dinheiro. E para os que ainda não reúnem as condições de recursos para a compra do presente desejado, o sistema oferece o instrumento mágico que permite a antecipação do consumo: o crédito.

A intermediação da esfera financeira ajuda a completar o ciclo da realização do capital, com a garantia de que o consumo se efetive mesmo na ausência dos recursos monetários no momento da aquisição do bem. Isso porque o modelo envolvido na dinâmica do capitalismo pressupõe a produção e a venda das mercadorias de forma contínua, sempre em escala crescente, para promover a acumulação concentrada de riqueza.

Esmagamento do espaço para práticas de sustentabilidade

De forma geral, a lógica que orienta a ação da empresa privada é a da maximização do lucro no curto prazo, sem nenhuma perspectiva de médio e longo prazo. No jogo pesado das disputas por novas fatias de mercado não existe muito espaço para a noção da sustentabilidade. Pouco importa se ela se refere ao aspecto econômico, ao elemento social ou à sua dimensão ambiental. Assim, o que interessa na “racionalidade” inerente ao processo de acumulação de capital é o crescimento do consumo em toda e qualquer escala. Portanto, a mudança comportamental envolvendo inovações como “consumo consciente” ou “processos sustentáveis” só se viabilizam com a entrada em cena das políticas públicas, proibindo determinadas ações ou estimulando outras alternativas. A lógica pura do capital, atuando com plena liberdade, combina uma dialética de criação e destruição em sua própria essência. 

Assim, o que todos verificamos à nossa volta com a aproximação do espírito natalino é a cristalização mais evidente da forma de funcionamento da economia capitalista. Nas sociedades hegemonizadas pelo padrão civilizatório do mundo ocidental, o mês de dezembro radicaliza e potencializa o comportamento social que assegura a reprodução ampliada dessa forma particular de organização social e econômica. Não basta um Natal que seja marcado apenas pelo espírito da solidariedade e pelo sentimento da fraternidade. O período das festas deve ser o momento do consumo, por excelência.

Os ingredientes que contribuem para manter esse gigante em movimento são introduzidos de forma crescente ao longo do processo. Isso significa a incorporação crescente de bilhões de novos agentes no mercado consumidor e a generalização do acesso às compras em escala global. Além disso, torna-se necessário avançar bastante nos processos envolvendo a chamada “obsolescência programada”, de forma a garantir a continuidade do ciclo de consumo por meio da redução da vida útil dos produtos. A propaganda também joga um papel essencial, ao incutir nos indivíduos valores e desejos que estão muito distantes das necessidades, digamos, mais reais e concretas.

Em suma, não é mais suficiente que as pessoas exerçam sua função de compradores finais de bens e serviços. O espírito natalino desnuda a realidade mais cruel do modelo no qual estamos sendo conduzidos. Não basta apenas o consumo. Faz-se necessário o consumismo exacerbado.

(*) Economista e militante por um mundo mais justo em termos sociais e econômicos.



quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Charges dos últimos dias: o que foi notícia retratada de forma bem humorada, mas sem perder a crítica (02 de dezembro a 12 de dezembro de 2013).
Serpentes a bordo

Mandela o conciliador

Chuvas Natalinas

Briga de torcidas
Eleição e Copa do Mundo em 2014
Morre Nelson Mandela

Sorteio dos grupos da Copa do Mundo

Sorteio Copa do Mundo de 2014

Educação do Brasil entre as piores do mundo

Transportando cocaína com dinheiro público

Aumento da Gasolina


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

05 de dezembro de 2013

Morre Nelson Mandela, líder sul-africano que derrotou o apartheid


Ícone da queda do apartheid e figura adorada pelos sul-africanos, Nelson Mandela morreu hoje aos 95 anos. A causa foram complicações decorrentes de uma infecção respiratória.
"Nelson Mandela, o presidente fundador de nossa nação democrática, partiu. Faleceu em paz, ao lado de sua família por volta das 20h50, no dia 5 de dezembro. Ele agora está em paz. Nosso país perdeu seu maior filho", disse o presidente sul-africano, Jacob Zuma, ao anunciar a morte do líder em cadeia de TV.

"Nossos pensamentos e orações estão com a família Mandela. Temos uma dívida de gratidão com eles. Eles sacrificaram muito para que nosso povo fosse livre", continuou. "O que fez Nelson Mandela grande foi justamente o que o fazia humano. Nós víamos nele o que perseguíamos em nós mesmos."

Primeiro presidente negro da África do Sul (1994-99), Mandela não era visto em público desde a final da Copa do Mundo da África do Sul, em julho de 2010.

Sua última aparição ocorreu em abril, quando ele recebeu um grupo de políticos encabeçado pelo presidente sul-africano. As cenas transmitidas pela TV estatal, em que aparece distante e alheio ao que se passa a seu redor, causaram comoção no país.

Em junho passado, ele enfrentou a sua quarta internação desde dezembro de 2012, o Medi-Clinic Heart Hospital, em Pretória.

Respeitado internacionalmente pelos gestos de reconciliação, Mandela passou 27 anos preso por se opor ao sistema segregacionista branco. Após intensa pressão internacional, foi libertado em 1990. Saiu da prisão para negociar com a minoria branca o fim do regime e de lá para ser presidente eleito sob uma nova Constituição.

Em seu governo, adotou como prioridade o discurso de unidade nacional e desencorajou atos de vingança e violência. Analistas apontam que, em razão disso, não conseguiu dar atenção suficiente a programas sociais, à geração de empregos e à epidemia de Aids, que se alastrou durante seu governo.

Em 1999, declinou da possibilidade de concorrer a um novo mandato para se dedicar a causas sociais e a ser uma espécie de consciência moral da nação. Pouco a pouco, no entanto, foi reduzindo sua visibilidade à medida em que a idade avançava.

Ainda não está claro quando e onde será o enterro. Há duas possibilidades: na vila onde nasceu, Mvezo, ou na pequena localidade em que passou a infância, Qunu. Ambas ficam na na província de Cabo Oriental, na costa do oceano Atlântico.




segunda-feira, 11 de novembro de 2013


Concurso Fotográfico “Turismo sob outros olhares”

Como uma das atividades da Semana Acadêmica de Turismo, será promovido um Concurso Fotográfico intitulado “Turismo sob outros olhares”, com o objetivo de proporcionar aos alunos e servidores do IFC a participação de forma interativa nas atividades da Semana, através dos diferentes olhares sobre o turismo na região da AMESC retratados em fotografias.

As fotografias poderão ser enviadas do dia 11 de novembro de 2013 ao dia 20 de novembro de 2013 e as inscrições deverão ser feitas através do e-mail outrosolhares.ifc@gmail.com. Poderão participar enviando fotografias para o Concurso os servidores e acadêmicos dos Cursos Superiores do IFCatarinense -  campus Sombrio.

As fotografias serão expostas e avaliadas no período de 25 a 27 de novembro pelos alunos dos cursos superiores, alunos do ensino médio integrado ao técnico, servidores do IFC e demais participantes da Semana Acadêmica, de forma voluntária e após por uma Comissão Julgadora formada por professores do curso.

Os interessados em participar no Concurso Fotográfico deverão escolher uma das categorias listadas abaixo, sendo que a fotografia deverá ser de sua autoria e o tema exclusivo de elementos da região da AMESC.

As categorias são:
·         Aventura e esportes;
·         Espaço rural e urbano;
·         Paisagens Naturais;
·         Sol e praia.

Como o objetivo principal deste concurso fotográfico é a participação de forma interativa com as atividades da Semana Acadêmica, as fotografias escolhidas como as melhores nas quatro categorias nas duas etapas de votação receberão uma premiação simbólica.

Os vencedores serão anunciados no dia 28 de novembro no Auditório da Unidade Urbana durante as atividades da Semana Acadêmica de Turismo.


Confira o regulamento e participe!

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Charges dos últimos dias: o que foi notícia retratada de forma bem humorada, mas 
sem perder a crítica ( 26 de outubro a 31 de outubro de 2013).

Saci Pererê proibido de entrar no Halloween

Saci Pererê - Cultura Nacional


Dia das Bruxas

Bolsa Família Voto
Lula e Sarney

Siglas cheias de bandidos

Ratos querem se transformar em Beagles
Desigualdade mundial

ENEM.com
Jumentos fazendo ENEM
Obama reclama de descobertar de espionagem
Beagles cobaias serão investigados pela Câmara

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Charges dos últimos dias: o que foi notícia retratada de forma bem humorada, mas 
sem perder a crítica ( 16 de outubro a 25 de outuro de 2013).

 China e EUA ficam com maior parte do pré-sal

Petróleo e Propina
 EUA espionam o mundo todo

 Pré-sal vendido

 Marcha das Cobaias

 Obama espionando a Alemanha

 O Petróleo é nosso!

 Inflação e Juros e a família brasileira

 Justiça sentada

 Edson Lobão leiloando o petróleo do Brasil
 O Petróleo não é mais do povo

Petróleo da China
 Dilma liberta PSB

 Medidas para evitar espionagem
 Político só pensa em dinheiro
 Celular mais caro do mundo e sem qualidade
Educação não se cala

quinta-feira, 17 de outubro de 2013



Nossas práticas culturais são frutos de algumas dezenas ou centenas de anos. Definimos nossas normas, valores e padrões nos mais variados âmbitos de no nossa sociedade. Ao nos depararmos com o diferente, com aquilo que foge a norma a nossos padrões culturais, percebemos qual a nossa cultura bem como podemos ficar chocados e indignados com este novo padrão que conhecemos. 

O caso retratado abaixo é um desses, no qual uma prática cultural, embora sem definir-se sua origem, rompe com os padrões de nossa cultura ao utilizar um animal, que em várias culturas é doméstico, com vários usos, em parte do cardápio alimentar de uma determinada população. Normal, anormal, certo ou errado? Como definir?
 

13/10/2013 - 03h19 

O mercado ilegal de carne canina no Sudeste Asiático

KATE HODAL                                tradução FRANCESCA ANGIOLILLO


Nguyen Tien Tung é o tipo de homem que você imaginaria encontrar em um matadouro de Hanói (capital do Vietnã): atlético, frenético e imundo, com a camiseta branca salpicada de manchas de sangue, os shorts de jeans frouxos sobre as pernas tesas e arranhadas, os pés espraiados em sandálias de plástico. 

Debruçado sobre sua bancada de metal, entre duas peças de carne penduradas, o homem de 42 anos vigia seu abatedouro -um pátio de concreto a céu aberto, que dá para uma rua movimentada. 

Outras duas peças sem pele, alvas e brilhantes, são lavadas por um dos primos de Nguyen. Bem ali ao lado ficam as jaulas, cada uma com cinco cães, todos mais ou menos do mesmo tamanho, alguns com coleiras. 

Nguyen se aproxima de uma jaula e acaricia o cão mais próximo da porta. Tão logo o bicho começa a abanar o rabo, ele agarra uma barra de metal e acerta em cheio a cabeça do cão. Depois, rindo alto, bate a porta da jaula. 

Em uma rua do verdejante bairro de Cau Giay, não muito longe do negócio da família Nguyen, fica um dos restaurantes mais famosos da cidade, o Quan Thit Cho Chieu Hoa, que só tem uma iguaria no menu. 

Há cozido de cachorro, servido em sopa de sangue; churrasco de cachorro com capim-cidreira e gengibre; cachorro ao vapor com pasta de camarão; vísceras de cachorro cortadas fininhas como linguiça; e cachorro no espeto, marinado na pimenta com coentro.
Entre os muitos restaurantes especializados em carne canina de Cau Giay, esse é o mais cultuado. Nele receitas tradicionais são servidas em um ambiente tranquilo à beira de um canal. 

"Eu sei que soa esquisito que eu coma aqui, já que eu tenho cachorros e nem me passaria pela cabeça comê-los", diz Duc Cuong, um médico de 29 anos, enquanto dá uma mordida num bocado de vísceras caninas que acaba de enrolar numa folha de manjericão. "Carne de cachorro é gostosa e faz bem." 

Ninguém sabe ao certo quando os vietnamitas começaram a comer carne canina, mas o consumo tem longa tradição. E sua popularidade vem aumentando: segundo ativistas, hoje 5 milhões de animais são comidos por ano. 

Carne de cachorro é um hit em coquetéis, reuniões familiares e ocasiões especiais. Supostamente ela aumenta a virilidade, eleva a temperatura sanguínea nas noites frias e serve como um bom auxiliar terapêutico. É vista como uma carne abundante, de alto valor proteico, uma alternativa saudável ao porco, ao frango e à vaca que compõem o menu vietnamita diário. 

Alguns comensais acreditam que, quanto mais o animal sofre para morrer, mais saborosa é a carne, o que pode explicar a forma brutal como os cães são abatidos no Vietnã -muitas vezes espancados até a morte com um tubo de metal (o que pode exigir de 10 a 12 golpes); ou degolados; ou apunhalados no peito com uma faca imensa; ou ainda queimados vivos. 

"Tenho gravações de cães sendo alimentados à força ao chegarem no Vietnã, um pouco como se faz com gansos para foie gras", diz John Dalley, um britânico magro aposentado, que dirige a fundação tailandesa Soi Dog, dedicada ao combate ao comércio de carne canina no Sudeste Asiático. 

"Enfiam um tubo até o estômago dos bichos e enchem de arroz e água, para aumentar o peso para a venda." 

O método de Nguyen para incrementar seu lucro é mais simples: "Quando quero que pesem mais, coloco uma pedra na boca do cachorro." E dá de ombros, antes de abrir a jaula para outro abate. 

DEMANDA
 
O governo estima que haja 10 milhões de cães no Vietnã, onde a carne canina é mais cara que a de porco; um prato dela pode custar mais de R$ 100 em restaurantes elegantes. A demanda crescente levou os fornecedores a buscar além dos vilarejos onde tradicionalmente se praticava a criação para abate, chegando a cidades em todo o país. O roubo de animais -de rua ou de estimação- se tornou tão comum que ladrões chegam a ser linchados, às vezes até a morte. 

Os efeitos da demanda se espalharam além-fronteiras, fazendo florescer um mercado multimilionário que despacha 300 mil cães ao ano em gaiolas de metal saindo da Tailândia, pelo rio Mekong, para o Laos e dali às fronteiras porosas na floresta, sem comida ou água, até encontrarem a morte nos abatedouros vietnamitas. 

É uma indústria baseada no mercado negro, conduzida por uma máfia internacional, com apoio de funcionários públicos corruptos; não é de estranhar que ativistas lutem para debelá-la. 

"No começo era um punhado de pequenos comerciantes que almejavam lucros modestos", diz Roger Lohanan, da Thai Animal Guardians Associations, organização em Bangcoc que desde 1995 investiga o mercado de carne canina. "Mas agora é um item de exportação fundamental. É um mercado livre de impostos, com lucro que varia de 300% a 500%, então todo mundo quer meter a colher nele." 

HOBBY
 
Tha Rae é uma cidadezinha modorrenta no Estado de Sakon Nakhon, nordeste da Tailândia. Há 150 anos no comércio de carne canina, é chamada de Vilarejo Açougueiro. Os habitantes dizem que ao menos 5.000 pessoas -um terço da população- complementa os modestos rendimentos rurais com roubo, venda ou abate de cães. É um hobby lucrativo: paga-se até R$ 21 por um vira-lata. 

O transporte de cães sem certificado de vacinação vigente é ilegal na Tailândia. Seu ingresso no Laos sem atestar recolhimento de taxas e tributos alfandegários, também.
Comê-los não é ilegal, mas não é popular entre os locais, a maioria dos quais se opõem fortemente ao hábito. Ainda assim, em Tha Rae, quiosques de rua perto do principal edifício da administração local oferecem nacos avermelhados de fibrosa carne canina por 300 baht (cerca de R$ 21) o quilo. 

Dentro de grandes isopores azuis, entre as bancas, partes esbranquiçadas de cachorro congelado: cabeças, troncos, coxas. "O povo usa cabeça e pernas na sopa tom yum", explica uma vendedora, enquanto amamenta seu bebê, "mas dá para usar em muitos outros pratos". 

Apesar de ser grande o número de cães contrabandeados anualmente para o estrangeiro, o braço tailandês da operação é controlado por pouca gente, diz Edwi Wiek, cofundador da Animal Activis Alliance, instituição beneficente que visa a extinguir o comércio.
"Sabemos quem são: onde moram, como se chamam; temos até fotos deles", continua Wiek, cuja organização recebe dados de informantes na Tailândia e no Laos. "Algumas das fotos mostram até seus carros -seria fácil rastrear as placas-mas eles se livram porque pagam um dinheirão [de propina]. E, enquanto continuarem pagando, haverá quem feche os olhos." 

Segundo ativistas, uma dessas pessoas é o prefeito de Tha Rae, Saithong Lalun, que vive numa casa luxuosa, recém-construída, e se beneficiaria diretamente dos lucros dessa indústria.

Embora ele tenha se recusado a dar entrevista, dizendo que no passado a mídia causou "sofrimento" a seus eleitores, um político próximo ao prefeito aceita falar anonimamente e diz que o dirigente sabe do comércio porque está envolvido nele. 

As operações policiais, porém, aumentaram, graças à grande rede de informantes trabalhando principalmente com a Marinha Real Tailandesa. 

Em abril, foi interceptado um carregamento de quase 2.000 cães; em maio, outro, de 3.000, que estavam sendo enfiados em barcos para o Laos. 

O líder das operações foi o capitão Surasak Suwanakesa, 45, comandante naval da patrulha regional do rio Mekong, responsável por 235 quilômetros da fronteira fluvial entre Tailândia e Laos. Sua ambição é terminar com o tráfico de carne canina de uma vez por todas. "É realmente uma vergonha para o país", diz ele, sacudindo a cabeça.
Mas Surasak, que ocupa o posto há nove meses, tem de enfrentar outros tráficos legais, como o de "yaba" (metanfetaminas), maconha e pau-rosa. No seu iPad, ele exibe imagens de blitzs anteriores, nas quais oficiais da Marinha posam em frente a seu "butim", e depois indica, num mapa, a rota dos contrabandistas de cachorros. 

"Há duas rotas estratégicas principais", diz. "Os cães são coletados em aldeias ou roubados, vendidos por 200 bath [R$ 14] cada um e aí mandados a Tha Rae. Os maiores são enviados para o distrito do norte, Baan Pheng, e dali seguem para a China, enquanto os menores vão para o Vietnã. Após cinco minutos de travessia, o preço dos cachorros já aumentou dez vezes. É esse o grande estímulo."




A equipe da Marinha depende de informações de locais para conseguir atacar o negócio, mas as prisões são poucas e espaçadas, segundo ativistas, e a maioria dos contrabandistas paga apenas uma pequena multa e volta ao negócio. 

Os cabeças nunca são perseguidos, e os homens que correm risco real são os que tentam interromper o comércio: numa indústria que Wiek diz que pode chegar a pagar à máfia tailandesa mais de R$ 4,4 milhões por ano, pessoas como Surasak significam um grande corte nos lucros dos contrabandistas. 

"O pescoço do comandante antes de mim valia 4 milhões de baht (R$ 14,2 milhões). Não sei quanto vale o meu." Ele sorri. "Eles são os mesmos, nos mesmos carros, fazendo as mesmas coisas. Quando pego um, pego com base em todas as infrações possíveis: taxas alfandegárias, vacinação, licença de transporte. Isso não se fazia antes." 

ROTA
 
A rota usada pelos contrabandistas para chegar ao Vietnã é a Highway 8, estrada de mão dupla que atravessa as montanhas calcárias do Laos. 

Ainda na Tailândia, os cachorros terão sido socados em caixas usadas para o transporte de aves ou então em jaulas pesadas de metal, cada uma com de 12 a 15 animais, seis a oito jaulas em cada caminhão, o que faz com que cada comboio valha em torno de 160 mil baht (cerca de R$ 11.260). 

De noite, eles são conduzidos até a fronteira, antes de cruzar o Mekong e serem transferidos para outros caminhões. Com o apoio de informantes, placas frias e GPS, os contrabandistas não encontrarão obstáculos dali em diante. "Uma vez no Laos, nada os detêm", suspira um informante tailandês. 

Tomo um ônibus na mesma rota e vejo um caminhão de cachorros viajando solitário, com as gaiolas vazias, de regresso à fronteira tailandesa. 

"O tio do meu amigo ajuda a carregar os caminhões às vezes, quando ele não está trabalhando nas plantações de arroz", diz o estudante no assento ao lado do meu, que justamente começava a discorrer sobre a tradição de comer carne canina no Laos quando o nosso ônibus chega a um café. 

Dentro dele, dois policiais enfiam um cachorro numa saca de arroz vazia; eles a giram e a amarram com uma corda. A saca se agita violentamente. "Talvez eles façam uma festa hoje à noite", diz o estudante, enquanto os policiais voltam a tomar seu café. 

A travessia da fronteira vietnamita se dá em um posto remoto na montanha, administrado por policiais que pedem dólares para carimbar seu passaporte. 

Seria fácil atravessar o que quer que fosse por aqui, ou assim parece: a estrada está cheia de caminhões de madeira levando carregamentos de pau-rosa, madeira supostamente protegida, e os policiais que não estão dormindo estão claramente ocupados negociando propinas. 

A estrada segue montanha abaixo até a cidade de Vinh, passando por antigas escolas francesas do período colonial e por novas casas com torreões que parecem saídos de contos de fadas. Por ali circula um sem-fim de caminhões carregados de cães, diz Zuong Nguyen, 38, um motorista de ônibus com olhar alucinado que faz o trajeto de seis horas entre Vinh e Hanói todas as noites. "Esses caminhões sempre trazem cachorros, mas ultimamente andei vendo gatos também." 
 

KATE HODAL é correspondente do jornal "The Guardian" no Sudeste Asiático.

FRANCESCA ANGIOLILLO, 41, é editora-adjunta da "Ilustríssima".

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2013/10/1355194-o-mercado-ilegal-de-carne-canina-no-sudeste-asiatico.shtml