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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Alunos e professores amigos no Facebook?

O universo virtual, quase como um dimensão paralela em nossas vidas, possibilita a interação entre diferentes sujeitos e a discussão que passa a ocorrer sobre os limites da virtualidade são interessantes, muitas delas. O caso citado na reportage abaixo é um inidicativo das fronteiras existentes ainda entre o mundo real e virtual e o espaço escolar, que muitas vezes limita seu mundo aos muros que cercam a escola. Sabemos como lidar com estas ferramentas virtuais e seus usos?

Alunos e professores amigos no Facebook?

Os professores são o novo alvo do Facebook, rede social que, com sete anos de vida, reúne pelo menos 750 milhões de usuários em todo o mundo – no Brasil eram 6 milhões em 2010, data do último dado oficial. De olho no universo escolar, a empresa de Mark Zuckerberg criou uma espécie de “manual de uso”. Gratuito para download, o guia Facebook for Educators (disponível ainda apenas em língua inglesa) traz 18 páginas com orientações e possibilidades de uso em sala de aula elaboradas por dois consultores em educação e tecnologia, Linda Fogg Phillips e Derek Baird, além do psicólogo BJ Fogg. A proposta chega no momento em que as questões ligadas à internet estão em efervescência na escola. Afinal, as redes sociais devem ou não ser usadas para fins educativos?

A polêmica é grande. Inclusive, em países com altíssima difusão das redes sociais, como os Estados Unidos. Para se ter uma ideia do imbróglio, o estado norte-americano do Missouri aprovou uma controversa lei que, em tese, restringe a interação entre professores e alunos em redes sociais. Apelidado de “Ato Amy Hestir de Proteção ao Estudante”, a lei proíbe que professores mantenham conversas on-line não públicas com alunos, como acontece no chat do Facebook ou via Direct Message no Twitter, por exemplo.

No Brasil, o terreno também é arenoso, já que ainda não existe uma legislação específica para a internet. No caso das redes sociais, há um contrassenso. Embora seja comum professores “adicionarem” seus alunos – e vice-versa –, na maioria das escolas Facebook, Orkut ou MSN são programas bloqueados. É possível ignorar que essa comunicação exista e separá-la do ambiente escolar? “Vivemos em uma sociedade em que estar conectado é parte da vida de todas as pessoas. A aproximação entre alunos e professores nesse contexto é possível e válida, mas é preciso pensar que tipo de relação estabelecer. Afinal, a mediação da relação entre professores e alunos é profissional”, aponta Lilian Starobinas, doutoranda da Faculdade de Educação da USP e pesquisadora da Escola do Futuro. A especialista acredita que as redes sociais podem ser usadas como ferramentas pedagógicas. Além de ajudar os alunos a fazer uso consciente da rede, o professor poderia encontrar maneiras de agregar valor educacional ao uso da rede social, como, por exemplo, a criação de um perfil de personagem histórico no Facebook para interagir com os alunos.

O GUIA
Dividido em sete capítulos, o manual traz orientações que vão desde a elaboração de uma política específica para uso de redes sociais na escola até explicações que desmistificam o funcionamento da rede. No documento é possível encontrar informações detalhadas sobre o que é “perfil”, “página” e “grupo”, além de orientações sobre configurações de privacidade.

De acordo com Linda Phillips, autora também de Facebook for Parents (Facebook para Pais), “a necessidade de um guia específico que abordasse as preocupações dos educadores e ensinasse como utilizar o Facebook dentro do processo educacional era óbvia”. Lilian Starobinas ressalta que o professor precisa saber claramente a maneira de atuar nas redes sociais: “Conhecer tanto a dinâmica dos relacionamentos quanto da circulação da informação”.

REGRAS NA REDE
Conhecer melhor ferramentas como o Facebook é uma preocupação das escolas que estão buscando se conectar com as novas tecnologias. Renata Americano, coordenadora pedagógica do Fundamental I da Escola Viva, conta que, principalmente no caso dos alunos mais novos, a instituição particular localizada em São Paulo recomenda ir com calma. “A gente não tem como gerenciar tudo isso”, explica.

A necessidade de se interar sobre as redes sociais levou a escola a buscar uma consultoria jurídica no assunto. Além de conversar com os pais dos alunos, a recomendação estabelecida foi que os professores não adicionassem alunos como “amigos” em seus perfis pessoais – para os que já haviam feito isso, o pedido foi que removessem os alunos da rede de amizades virtuais. Segundo a coordenadora, a medida é cautelar. “Não somos contra a tecnologia, mas o Facebook ainda é um espaço que estamos tentando entender”, esclarece.

Também localizada em São Paulo, a escola Stance Dual optou por não restringir a interação de professores e alunos via rede social. A escola trabalha com ferramentas da internet e costuma realizar atividades com os estudantes nesses espaços há cinco anos. Apenas o MSN é bloqueado. No começo do ano, foram comprados 26 laptops para serem usados também dentro da sala de aula. Por conta disso, a escola realizou um treinamento com todos os professores, orientando-os sobre o uso das ferramentas disponíveis na rede. “É uma forma de os professores também participarem dessa formação do aluno”, defende Cláudia Mandaio, assistente de tecnologia de informação da instituição.

Apesar de não ser uma política oficial, a coordenação da Stance Dual apenas recomenda que os professores criem perfis específicos para se comunicarem com os alunos no ambiente virtual, o que evitaria a exposição da vida pessoal do educador. Foi o que fez a professora de Teatro, Barbara Araújo, ao adotar a ferramenta como suporte para a construção do roteiro de uma peça teatral. A princípio, as duas turmas do 9º ano do Ensino Fundamental optaram por escrever o roteiro com a ferramenta de edição de texto oferecida pelo Google – o Google Docs. Entretanto, como não tinham o costume de utilizar o Docs, os estudantes acabavam não interagindo entre si ou com a professora.

A solução partiu de uma aluna, que sugeriu o Facebook. Depois de criar um perfil só para a função, Barbara criou um grupo- para as classes. “Todo mundo pode escrever, participar e editar, vira um texto realmente coletivo”, analisa. Além disso, a professora aponta que o uso do Facebook agilizou a produção: “Antes precisava digitar, ler, imprimir. No Facebook eu tenho a resposta na hora, porque os alunos estão sempre lá”. No entanto, a educadora admite que a experiência não teria sido tão positiva, caso ela tivesse compartilhado seu perfil pessoal. “O Facebook ainda é um jogo entre o público e o privado”, reflete.

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