Metamorfoses Históricas: História, livros, músicas, cinema e motos!

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segunda-feira, 28 de março de 2011

A ciência como inspiração

No mundo da ficção científica a ciência muitas vezes é apresentada de forma equivocada nos dias de hoje, como por exemplo, nos filmes espaciais, as explosões que não deveriam gerar som. Mas qual seria a graça de um filme assim? Por isso este gênero, a ficção científica, encanta e proporciona a imaginação de leitores e espectadores, além de desafiar a imaginação e a criatividade dos autores e autoras. Julio Verne é um exemplo de autor que extrapolou os limites do conhecimento de seu tempo, com descrições detalhadas de situações e máquinas muito além de sua época. Vale sempre a pena rever os filmes de décadas atrás (embora nos pareçam infantis e com defeitos, se comparados com a moderna computação gráfica) e ler e reler os livros que deram início a ficção científica!

 

A ciência como inspiração

 

A reportagem de capa da CH deste mês coloca em discussão a ficção científica. Qual foi, qual é e qual será o papel desse gênero da literatura que ganhou força com as adaptações cinematográficas? Teóricos e escritores discutem o tema.

Por: Fred Furtado               Publicado em 21/03/2011 | Atualizado em 25/03/2011

A ciência como inspiração

“It’s alive!” (está vivo, em inglês) é a frase com a qual Victor Frankenstein, ao dar vida ao seu monstro, sedimenta a figura de cientista louco no imaginário popular. Essa cena emblemática está na adaptação cinematográfica de 1931 do romance Frankenstein: ou O moderno Prometeu, da escritora inglesa Mary Shelley (1797-1851).

O livro é considerado a obra fundadora do gênero literário conhecido como ficção científica, que desde sua criação está intrinsecamente ligado à ciência e tecnologia. Mas como é essa relação? A ficção cientifica é uma espécie de profeta, prevendo hoje os avanços de amanhã? Seria uma maneira de discutir os problemas do presente e os desdobramentos da tecnologia na sociedade? Ou é apenas uma literatura que busca inspiração na ciência?

Para entendermos essa relação, temos que analisar as obras de ficção científica dentro de seus contextos. Frankenstein, por exemplo, foi publicado em 1818, quando a Inglaterra já se encontrava na Revolução Industrial e experimentos de galvanismo, como aqueles conduzidos pelo médico italiano Luigi Alyisio Galvani (1737-1798), que usava eletricidade para ativar os membros de animais e humanos mortos, já eram conhecidos. Esses dois elementos foram influências para Shelley na criação de seu romance.
Mary Shelley não era cientista, mas seu livro criou o mito moderno da ciência

“Ela não era cientista, mas seu livro criou o mito moderno da ciência”, afirma a bióloga e teórica da literatura Lúcia Rodriguez de La Rocque, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Para La Rocque, que estuda a relação entre ciência e ficção científica, Shelley levantou questões quanto ao desenvolvimento científico e corporificou a reação do público leigo à ciência.

“Embora ela deixasse uma porta aberta para as consequências positivas, ela deu ênfase às negativas. É claro que isso foi, em parte, uma escolha estilística, pois sem conflito, não há história”, observa a bióloga.

Ciência ambivalente


Autor de Frankenstein’s footsteps (algo como ‘Passos de Frankenstein’, ainda não publicado no Brasil), que discute a maneira como as ciências biológicas são divulgadas e sua relação com o livro da autora inglesa, Turney explica que Shelley trata o tema de uma maneira rica e complexa.
“Por um lado, ela percebe as vantagens de uma medicina avançada, como a eliminação da morte prematura e das doenças. Por outro, vê com temeridade a capacidade de controlar a reprodução e redesenhar os seres humanos, atividades que estariam sob controle de criaturas imperfeitas – nós.”

La Rocque complementa: “Ela distingue entre uma ciência boa e uma má. Estudar a natureza seria algo aceitável; tentar manipulá-la, não.”

“Estudar a natureza seria algo aceitável; tentar manipulá-la, não.”
Essa abordagem mudaria com o avanço do gênero -- a ciência e a tecnologia em si seriam neutras; seus usos, por outro lado, poderiam ser moralmente questionáveis. Mas a obra de Shelley foi tão marcante que acabou estabelecendo a base da imagem pública da ciência. “Ela criou o arquétipo do cientista louco, aquele homem frio, cuja obsessão científica o afasta do bem”, relata.

 

Rígida e suave

É na segunda metade do século 19 que surge o que se convenciona chamar de ficção científica, simbolizado pelas obras do inglês Herbert George (H.G.) Wells (1866–1946) e do francês Júlio Verne (1828-1905), considerados os ‘pais’ do gênero.
Aqui já é possível ver a semente do que mais tarde seriam chamados os subgêneros hard (rígido) e soft (suave) dessa literatura. No primeiro, o autor se limita a utilizar na história apenas o que é considerado possível pela ciência da época ou extrapolações plausíveis. Verne seria um exemplo desse estilo. Em 20 mil léguas submarinas, ele dá explicações detalhadas do funcionamento do submarino do capitão Nemo, o Nautilus.
Já na soft, o fato científico pode ser usado como ponto de partida, mas a narrativa não está presa a ele e pode envolver temas das ciências sociais. É o caso de Wells, que abordou a estratificação social da Inglaterra em A máquina do tempo. Diz-se que, quando questionado a respeito da obra do inglês, Verne teria dito que ele mentia.

“Apesar disso, as obras de Wells têm conceitos que poderiam ser considerados revolucionários, como tratar o tempo como uma quarta dimensão, em A máquina do tempo, e a engenharia genética, em A ilha do doutor Moreau”, conta La Rocque.

Outra diferença entre os ‘pais’ da ficção científica era sua abordagem quanto à tecnologia: Verne a via como algo positivo, enquanto nas histórias de Wells as coisas não eram tão felizes assim.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Que aprendizado a tragédia do Japão nos proporciona?

O Japão é um país de contrastes entre o moderno e a tradição. Os eventos provocados pelo terremoto deste março de 2011 mostram um lado do Japão muitas vezes pouco lembrado: de uma sociedade organizada, solidária e preparada para as catástrofes que assolam a ilha, pela sua localização geográfica.

Quem acompanhou as impressionantes e destrutivas imagens do tsunami e as do tremor pode ter uma noção dos estragos. O que chamou a atenção é a forma organizada e calma como os japoneses enfrentaram o antes e o depois da tragédia. O texto que segue trás algumas considerações significativas para podermos pensar como nos prepararmos para tais situações. Não podemos frear os fenômenos naturais, mas sim tentar minimizar seus impactos. A tendência é termos mais situações de emergência (alagamentos, tsunamis, tufões....) que afetarão mais seres humanos causados pela crescimento populacional das cidades.
Estarmos preparados, minimamente, é fundamental para salvarmos vidas. Fico imaginando a tragédia e o número de mortos se algo semelhante acontecesse no Brasil....  

Que aprendizado a tragédia do Japão nos proporciona?

Por Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos

Uma cultura que realça valores como tradição, disciplina e solidariedade ajuda a proteger vidas e a construir uma sociedade sustentável.

Pode a cultura de um povo ajudá-lo a enfrentar tragédias, aprender com elas e superar os problemas? Sim, pode. É o que podemos depreender das sucessivas catástrofes que vêm atingindo o Japão desde a última sexta-feira (11/3).

O Japão, como boa parte do Extremo Oriente, está sujeito a terremotos e tsunâmis. Só para lembrar a história recente, um terremoto de 7,2 graus na escala Richter atingiu a cidade de Kobe, importante centro econômico japonês. Foi o primeiro a atingir maciçamente uma área urbana densamente povoada no país. O abalo durou 20 segundos, destruiu a infraestrutura da cidade, moradias, hospitais e escolas, matando 6.437 pessoas e deixando 222.127 desabrigados, que precisaram se refugiar em locais provisórios por um longo período, até suas casas serem reconstruídas.

A exatidão dos números mostra o cuidado com que o Estado japonês lida com a situação. E como aprende com elas. A tragédia de Kobe passou a fazer parte dos livros escolares e das aulas de todas as matérias curriculares, do ensino fundamental aos cursos universitários. Aos alunos das escolas fundamentais, os professores de cada matéria realçam como se deve reagir quando a terra tremer, onde buscar abrigo, a quem pedir socorro e como ajudar outras pessoas, caso não seja um dos atingidos. A mensagem que se pretende incutir em cada cidadão é a seguinte: não se pode evitar esses eventos naturais, mas é possível reduzir e até zerar as mortes e a destruição.

Essa lição foi assimilada tanto pelo Estado quanto pela sociedade japonesa e, pelos relatos que chegam até nós, vem sendo posta em prática na tragédia atual. Na sexta-feira, um tremor de 8,9 graus na escala Richter – o maior já registrado em 140 anos de medição no país –, com epicentro a 125 km da costa noroeste do Japão, provocou um tsunâmi e deslocou o eixo da Terra em 10 centímetros.

As cidades de Fukushima, Miyaki, Iwate e Ibaraki foram atingidas em cheio pelas ondas de mais de 7 metros e pelos tremores. No entanto, quase 9 milhões de habitantes foram salvos pelas medidas preventivas e pela solidariedade dos habitantes que se prontificaram a receber em suas casas os concidadãos atingidos. Até agora, foram oficialmente contabilizadas 1.627 mortes, mas esse total pode chegar a 5.000. Há 450 mil desabrigados. O terremoto no Haiti, de 7 graus, matou 230 mil pessoas.

O que faz a diferença? Primeiro, instituições confiáveis aos olhos da sociedade. Assim, quando os alertas foram lançados pelos meios de comunicação, a população acreditou. Em segundo lugar, a solidariedade. De imediato, equipamentos públicos foram postos à disposição dos potenciais atingidos. E também as casas particulares de cidadãos desconhecidos, que se ofereceram para dar abrigo.

É de se notar ainda a disciplina e o planejamento. Entre o anúncio do tremor e a formação da primeira onda gigante que varreu Fukushima, passaram-se não mais do que 15 minutos. Esse tempo foi suficiente para a população ser alertada e procurar abrigo em construções de concreto ou em prédios acima de três andares. Moradores desses locais abriram suas portas a desconhecidos. Todos conhecem rotas seguras para chegar aos refúgios, as quais, prevendo-se desastres, são bem sinalizadas.

Todos os veículos de comunicação divulgam as áreas de risco e como evitá-las. E as autoridades também põem à disposição um site e um telefone (que funcionam) para pedidos de ajuda.

Ainda sobre a educação do povo, todos sabem que não podem acender fogo depois dos tremores, para não causar incêndios por causa dos vazamentos de gás, piorando a situação. Daí as notícias que lemos a respeito de pessoas que estão ao relento ou em casas sem eletricidade, num frio próximo a zero grau.

Outro dado interessante: quando o tremor ocorreu, centenas de milhares de pessoas usavam transporte público. Seguindo as orientações já conhecidas desde a escola, ficaram sentadas em seus lugares, esperando ordens de evacuação, sem ansiedade ou quebra-quebra. E, tirando o roubo de algumas centenas de bicicletas – o único meio de transporte na destruição que se verificou –, não houve outras ocorrências, como saques ou violência, a exemplo do que ocorreu durante os recentes terremotos no Haiti e no Chile.

Os desabrigados tampouco se sentem sozinhos. Passado o tremor, começam a distribuição de água, mantimentos e cobertores, e os donativos que chegam são rapidamente distribuídos por um sistema de logística específico.

Outra diferença importante no caso do Japão é a atitude dos políticos, do primeiro-ministro aos representantes municipais. Todos se preocupam em informar a população sobre a real extensão dos eventos e as medidas adotadas, ouvindo ao vivo críticas ou sugestões.

A primeira medida de reconstrução anunciada é o investimento em mais pesquisas tecnológicas para diminuir as perdas humanas e os prejuízos financeiros. A outra é rever as já rígidas normas de ocupação do solo e as regras sobre a qualidade das construções, com o intuito de deslocar as edificações (e as pessoas) para áreas consideradas mais seguras.

Nós, no Brasil, não temos terremotos, felizmente. Mas andamos sofrendo demais com as enchentes. Deveríamos ter a humildade oriental para assimilar o máximo possível dessas lições, a fim de evitar as tragédias anunciadas de todo verão.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/internacional/que-aprendizado-a-tragedia-do-japao-nos-proporciona